Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A intenção da oposição é reduzir os louros de Evandro na condução da pauta, ocasionalmente até jogando para o prefeito o ônus de não haver assegurado benefício mais generoso para os fortalezenses
.
Desde que se comprometeu a revogar a taxa do lixo, o agora prefeito Evandro Leitão (PT) deu mostras sucessivas de que teria de pronto a adesão de vereadores da base e da oposição na Câmara, que começa hoje a apreciar a mensagem do Executivo extinguindo a cobrança. Não é exatamente o que se tem visto.
Diferentemente da maioria que se formou em Sobral para enterrar a taxa, que por lá também puniu o candidato da continuidade, em Fortaleza os parlamentares não apenas querem desfazer a medida criada por José Sarto (PDT), mas ampliar o gesto de bondade, concedendo o perdão da dívida.
Por inexequível que seja, já que a gestão anterior houve por bem empregar os recursos oriundos da taxa de manejo para a finalidade que lhe era própria naquele momento, o bloco anti-PT no Legislativo deve explorar o tema à exaustão - não porque tenha interesse em ver restituído o valor pago ou livrado o devido.
A intenção é reduzir os louros de Evandro na condução da pauta, ocasionalmente até jogando para o prefeito o ônus de não haver assegurado benefício mais generoso para os fortalezenses do que aquele ao qual todos os candidatos a prefeito, a rigor, já haviam concordado em acolher - a exceção foi Sarto, sobre cujos ombros recaiu o peso da paternidade da famigerada.
Há um aspecto curioso em toda essa história da taxa, no entanto: o comportamento mais volátil da Câmara, digamos assim, que, não faz tanto tempo, aderiu ao tributo "sartista" com a sanha de cristãos recém-convertidos para, menos de uma legislatura depois, e com a derrota do pedetista já precificada e perfeitamente digerida, adaptar-se convenientemente aos tempos do "evandrismo".
Onde o erro, então? Lá atrás, quando os parlamentares assentiram para a cobrança sob justificativa de que o chefe do Paço apenas cumpria o que determinava o Marco Legal do Saneamento? Ou agora, ao rever a taxa de uma canetada, num espontaneísmo com cheiro de populismo? Num caso como no outro, a Casa começa agora a tirar o bode da sala, onde o bicho - malcheiroso e teimoso - permaneceu durante toda a campanha eleitoral de 2024.
Barraca é patrimônio cultural?
Que se queira defender a permanência das barracas na Praia do Futuro, ou mesmo argumentar seus benefícios se se conservarem exatamente como estão, tudo bem: é parte do jogo político e também do empresarial, que usualmente convergem nesse tipo de assunto.
Daí a supor que os restaurantes - porque é disso que se trata -, alguns com parque aquático e outras parafernálias típicas de megaestruturas, sumarizam a cultura cearense, que se vê ali tão bem representada quanto na obra de José de Alencar e no mito da índia Iracema, vai uma boa distância.
As "barracas", chamadas assim apenas por excesso de modéstia, são como quaisquer desses estabelecimentos a ofertar o peixe na brasa com baião e macaxeira frita, facilmente encontráveis em qualquer trecho do litoral cearense. Nelas não há traço de singularidade, seja arquitetônico, seja histórico, seja cultural, salvo o fato de que se servem do espaço público como se privado fosse - não todas, justiça se faça.
Há quem insista no contrário, todavia, aludindo a uma tal especificidade desses empreendimentos genuinamente locais, a exemplo do humor frouxo e da vaia, que só se acham em terras do Ceará. Verdade. No litoral dos demais estados, dizem, mesmo os do Nordeste, há no máximo quiosques. Pior para o nosso, então, que consentiu por todo esse tempo que os pequenos negócios de duas ou três décadas atrás se ampliassem a ponto de terem hoje controle inclusive do livre acesso à praia.
Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.