Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
É, de partida, bom sinal que o chefe do Executivo assuma como bandeira a recuperação da capacidade de investimentos da máquina pública, mas por bem intencionada que seja, pode não ir além dos efeitos cosméticos, numa "economia de palitos"
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A estimativa de uma economia de R$ 500 milhões em 2025 é insuficiente para dimensionar o real impacto do pacote anunciado pelo prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT). No geral, intui-se que o conjunto de medidas soe simpático para o eleitorado, ajudando a consolidar a imagem de um gestor ao menos preocupado com a situação fiscal e financeira do município e disposto a ir além da retórica da "herança maldita", como era a tônica do discurso de Evandro até então.
É, de partida, bom sinal que o chefe do Executivo assuma como bandeira a recuperação da capacidade de investimentos da máquina pública, sem a qual nenhum prefeito conseguiria levar a cabo metade de sua agenda. Dito isso, convém fazer algumas ponderações.
A primeira diz respeito ao alcance do pacote, cujo eixo principal parece girar em torno da eliminação de 20% a 30% de terceirizados/comissionados, além da revisão de contratos e aluguéis de imóveis. De tudo que Evandro apresentou ontem, esse é o tópico que tem algum peso quando se colocam os números no papel - a redução salarial é mais figurativa que real, mas mesmo assim louvável como gesto político.
Sobre isso, o petista foi preciso ao falar em "gordura", sugerindo que essa tesourada se limita a excessos encontrados na administração, mas evitando chegar à carne propriamente dita. E o que seria esse passo seguinte? Redesenhar de fato a estrutura da gestão, por exemplo, com enxugamento de secretarias (a cidade precisa mesmo de 12 Regionais?), e aglutinar pastas, mapeando com acurácia os maiores gargalos do governo.
Sem efetivamente sair da camada mais epidérmica, qualquer alteração, por bem intencionada que seja, pode não ir além dos efeitos cosméticos, numa "economia de palitos". Imagina-se, claro, que esse não seja o seu propósito. Mas Evandro esbarra numa dificuldade: o gigantismo do seu arco. Daí a dúzia de "prefeiturinhas" nas quais os aliados - os de primeira hora e os recém-chegados - acabam se pendurando.
Os movimentos de Cid
O senador Cid Gomes (PSB) vem emitindo sinais desencontrados, deliberadamente ou não, mas cuja leitura atenta pode indicar possível cenário para 2026 - que parece distante ainda, mas entre os políticos não se fala de outra coisa. Uma delas: qual é mesmo a disposição do ex-governador de entrar numa corrida pelo Abolição, seja pessoalmente ou apoiando um nome que não o do governismo?
O mercado político tenderia a responder hoje que essas chances são remotas. Ocorre que Cid é hábil nesse jogo de administrar expectativas. A preço de agora, sem controle efetivo do PSB e rompido com o irmão Ciro e o grupo de Roberto Cláudio (PDT), é razoável supor que o senador não encararia empreitada tão arriscada quanto uma queda de braço com Elmano - ou com qualquer outro nome chancelado por Camilo Santana (PT).
Mas Cid não está parado, como prova sua vida social. Entre um encontro casual num aniversário e outro num aeroporto, vai atenuando rusgas e diferenças com (ex) adversários, enquanto tenta uma reaproximação com o primogênito dos Ferreira Gomes.
Sabe-se que é uma condição incômoda para o tipo de liderança que tanto Cid quanto LL exerceram. Se essa conversa ao pé do ouvido pode eventualmente se converter num entendimento eleitoral em torno de um bloco para 2026, são outros quinhentos.
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