Logo O POVO+
Um retrato do governo Elmano
Foto de Henrique Araújo
clique para exibir bio do colunista

Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Um retrato do governo Elmano

Pesquisa encomendada pelo governo Elmano ouviu uma significativa amostra e aponta os desafios do governador petista, especialmente considerando a eleição de 2026
GOVERNADOR Elmano de Freitas na inauguração do Quartel 15/10, localizado no terreno do antigo edifício Andrea (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal GOVERNADOR Elmano de Freitas na inauguração do Quartel 15/10, localizado no terreno do antigo edifício Andrea

.

O governo de Elmano de Freitas (PT) fez uma grande pesquisa cerca de duas semanas atrás, dessas que mensuram aspectos relevantes para tomadas de decisão em setores-chave, com número significativo de entrevistados (aproximadamente 4 mil).

Se menciono o levantamento, de resto sem registro porque apenas voltado para consumo doméstico, é apenas porque o filme revelado deve se refletir nas ações em andamento tanto da gestão quanto do gestor - veja-se o caso da segurança, no qual o petista, como escrevi ainda no início da semana, fez uma inflexão importante de olho em 2026, modulando discurso de maneira a atender um espectro do eleitorado para o qual a violência urbana é tema prioritário.

Mas a sondagem conduzida a pedido do Abolição também forneceu outros elementos com os quais o potencial candidato à reeleição terá de lidar. Um deles é a queda acentuada de popularidade do presidente Lula no Ceará, estado onde a maior liderança do partido vem obtendo votações expressivas há pelo menos duas décadas.

A preço de hoje, essa avaliação positiva, que já foi substantiva, começa a se erodir, como no restante do Brasil, com efeitos políticos mais sensíveis numa região cujos governantes chegaram ao poder na esteira do capital lulista.

Antecipando-se a uma virtual fragilidade de Lula em 2026, o que restaria aos postulantes a novo mandato no Nordeste, a exemplo de Elmano? Duas coisas: reduzir ao máximo a dependência eleitoral em relação ao presidente e ampliar arco de aliança, se possível contemplando a centro-direita. É precisamente a fórmula que Elmano tem adotado, com um acréscimo: uma calibragem na retórica quando se trata de criminalidade.

Presença nas redes

Outro fator a se observar é o grau de conhecimento de Elmano pelos cearenses, ainda relativamente baixo para um chefe de Executivo que pretende se reeleger ano que vem. O eleitorado mais atento deve ter percebido que a exposição do governador nas redes se ampliou nos últimos meses, período que coincide não casualmente com a entrada de Chagas Vieira na Casa Civil.

Elmano tanto tem se manifestado mais nas plataformas, empregando linguagem mais arejada, quanto vem dosando informalidade nas peças, deixando-se filmar em momentos do dia a dia palaciano. Tudo isso é ainda parte da nova estratégica de comunicação implementada.

Ainda um tema espinhoso

A pedra no sapato, claro, é a agenda negativa da segurança. Com esse desgaste precificado, no entanto, o governo partiu para a redução de danos: a cada investida do crime, avançar duas medidas/ações que comuniquem a disposição das forças policiais e do governador em agir prontamente, sem trégua.

Esse é o recado externo, para o eleitor. Internamente, o petista emite sinais para a tropa, tal como quando disse que prefere ver tombarem criminosos a PMs - que nem de longe é uma banalidade, mas indicativo importante captado por quem está na linha de frente no combate às facções.

Bolsonaro réu, e agora?

Réu na ação penal que tramita no STF, Jair Bolsonaro (PL) deve ficar sob pressão para apoiar um nome para a disputa presidencial de 2026 que não o seu. Antes já inelegível, o ex-presidente é carta fora do baralho eleitoral, o que tende a movimentar as bolsas de apostas tanto nacional quanto localmente, uma vez que o ex-mandatário é o principal fiador de uma candidatura ao Governo do Ceará e ao Senado pelo campo da direita.

Se condenado e eventualmente preso até o pleito do ano que vem, seu potencial de influência passaria por teste de fogo, reduzindo as chances de sucesso de uma chapa formada apenas por nomes do PL, como deseja o deputado federal André Fernandes.

 

Foto do Henrique Araújo

Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?