Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Tão rapidamente quanto havia entrado na ordem do dia, o hidrogênio verde foi sendo deixado de lado como matriz energética viável politicamente para ser explorada já em 2026, ano de tentativa de reeleição
Foto: JÚLIO CAESAR
GOVERNADOR Elmano de Freitas: mudança de rota
O governador Elmano de Freitas (PT) foi de zero a 100 em poucos segundos na mudança de discurso em relação ao principal item de sua agenda econômica no Ceará. Tão rapidamente quanto havia entrado na ordem do dia, o hidrogênio verde foi sendo deixado de lado como matriz energética viável politicamente para ser explorada já em 2026, ano de tentativa de reeleição. Em seu lugar, assumiu essa função o polo automotivo de Horizonte, na Região Metropolitana, convertido em "menina dos olhos" do Abolição no pós-viagem à China. Não se trata só de alteração de forma, mas de conteúdo também, já que ambas - a planta do hidrogênio no Pecém e a produção automobilística - representam segmentos diferentes no que diz respeito ao campo energético e ao que simbolizam em termos de plano de desenvolvimento: de um lado, energia limpa potencializada por recursos abundantemente encontrados no Ceará (sol e vento); do outro, carros (ainda que estejamos falando de veículos elétricos e híbridos, que combinam modalidades de combustão e elétrica). Tenho hipóteses para essa manobra. Primeiro, o hub de hidrogênio verde é projeto que tem se mostrado distante, e as demandas políticas exigem urgência e concretude agora. Segundo: sob o ponto de vista de infraestrutura, é mais simples fazer operar um hub veicular num município vizinho à capital cearense do que estruturar as bases para que o Estado se torne um produtor destacado de energia limpa no mundo.
Curva perigosa na estrada
Mas há consequências para esse "cavalo de pau", com o perdão do trocadilho. A principal: uma tal alteração de rota não passa despercebida, sobretudo por trafegar de um setor que aponta para o futuro (H2V) para outro que faz lembrar as promessas de campanha dos anos de 1990 e início dos 2000, que tinham o carro particular como elemento condutor e horizonte de expectativas do eleitorado, mesmo que isso seja atenuado hoje pela redução dos gases poluentes que os modelos elétricos embutem desde a fábrica. Feita a ressalva, porém, a arrancada do polo automotivo na agenda da pré-campanha não difere muito de tudo que gestores anteriores mobilizaram para fazer do Ceará uma região atraente para empresas (isenção de impostos, cessão de terrenos, descontos etc.), sem que nada disso tenha se sustentado por muito tempo, a ponto de se refletir na capacidade local de progredir.
Guimarães, Eunício e Mano
O fim de semana foi de articulação na briga pelo Senado, com movimentos dos principais nomes na corrida pela indicação para as duas vagas abertas ano que vem: José Guimarães (PT), Eunício Oliveira (MDB) e Júnior Mano (PSB), deputados federais da base de Elmano. A preço de hoje, todos estão cotados como candidatos - uns mais que outros, é verdade. A novidade foi esse gesto mais enfático do entorno de Mano, com direito a material preparado para as redes - de gosto duvidoso (brinca com a junção "El-Mano"), mas que sugere que o parlamentar está levando a sério a promessa de Cid Gomes (PSB) ao atrelar o próprio nome ao do governador.
Conselhos desaconselháveis
Escrevi no início de março deste ano: "É prática corrente na administração pública que agentes de governo turbinem seus salários com cargos em conselhos". Exposto semana passada em reportagem do "Estadão", um caso nacional recolocou holofotes sobre o assunto. No âmbito estadual, há uma farra semelhante cuja intenção é engordar os vencimentos de aliados, alocados em conselhos de administração e fiscal sem que tenham perfil adequado para o posto e extraindo ganho mensal ou bimestral entre R$ 3 mil e R$ 5 mil extras. A título de exemplo, vejam-se os colegiados de algumas empresas, tais como Pecém, Adece, Ceasa, Cagece, Cogerh e ZPE.
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