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Apoio a operação no Rio surpreende esquerda
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Apoio a operação no Rio surpreende esquerda

Se por desencantamento, raiva ou falta de horizonte de mudança, não se sabe. O fato é que o resultado dos levantamentos impõe reorientação do campo político para 2026
GOVERNADOR do Rio, Cláudio Castro: apoio das pesquisas (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil GOVERNADOR do Rio, Cláudio Castro: apoio das pesquisas

Ao menos três pesquisas de opinião, entre as quais o Datafolha, chegaram à conclusão de que a maioria dos brasileiros apoia a operação no Rio de Janeiro na semana passada – o que não significa endossar a matança de pessoas alvos de mandados judiciais ou de preferir disparos de fuzil a uma abordagem menos violenta. Mas isso são nuances que as sondagens não se preocupam em mostrar, visto que, a esta altura, o que interessa é amparar os atos de gestores como Cláudio Castro (PL) com a adesão de uma faixa da população desassistida por esse mesmo estado. Dito isso, quando interpelado pelos institutos, o brasileiro médio concordou com a truculência como resposta oficial. Se por desencantamento, raiva ou falta de horizonte de mudança, não se sabe. O fato é que o resultado dos levantamentos impõe reorientação do campo político para 2026. Esse novo cenário vai exigir do presidente Lula e de seus candidatos a governador uma modulação no discurso, seja para deslocar o tema da segurança para escanteio, enfatizando outras bandeiras (saúde, educação etc.), seja para priorizar o assunto, mas estabelecendo um corte entre as propostas de um polo e de outro da disputa eleitoral. Afinal, se direita e esquerda convergem em seus programas para o enfrentamento da criminalidade, há algo de errado sendo dado como certo.

O governo reage – dá tempo?

Esse é o desafio, então: ante a escalada do bolsonarismo, agora revigorado por uma catarse pública de moradores acuados pelas facções (com gente expulsa de casa sob escolta policial, como se vê no Ceará), qual será a agenda que o bloco lulista levará para a campanha? Projeto antifacção, cuja tramitação consumirá algum tempo ainda? PEC da segurança, que carece de votos e de articulação parlamentar para ser aprovada? Desmembramento do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que enfrenta resistência do próprio Lula? Tudo isso empacotado como um plano nacional "anticrime"? Ninguém tem resposta, e o governo parece perdido agora, indeciso entre condenar as ações e correr o risco de perder votos, ou apoiar a operação e jogar água no moinho dos adversários.

De consórcio em consórcio

Afora os rompantes beligerantes e o barbarismo à luz do dia, o bolsonarismo não tem produzido nada de muito novo nessa seara também. Veja-se o tal "consórcio da paz", que, além de figurativo, ainda tomou de empréstimo o arranjo costurado por governadores do Nordeste quando houve apagão de dados na pandemia de Covid-19 e cada um precisou se segurar como podia, tabulando as mortes/infecções e elaborando um quadro que fosse confiável, já que o Governo Federal resolvera boicotar as estatísticas. Foi nesse modelo, relativamente bem-sucedido, que Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (União), Romeu Zema (Novo), Jorginho Mello (PL) e Castro resolveram se inspirar para criar a sua versão organizacional. A iniciativa embute uma expectativa: a de que a epidemia de insegurança nas grandes cidades seja para Lula o que o coronavírus foi para Bolsonaro nas eleições.

RC no União, finalmente

Entre idas e vindas, o ex-prefeito Roberto Cláudio desembarca no União Brasil nesta semana com duas tarefas: comandar a legenda no âmbito municipal, o que deve forçá-lo a examinar de perto as ações de Evandro Leitão (PT) à frente do Paço; e recuperar terreno como alternativa da oposição para a corrida pelo Abolição em 2026. Desde que Ciro Gomes (PSDB) passou a animar a direita com a possibilidade de concorrer, RC ficou em segundo plano, a despeito das sinalizações do ex-presidenciável de que o aliado seria melhor candidato ao Governo do que ele, uma avaliação sóbria que os ciristas mais entusiasmados vêm deliberadamente ignorando.

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