Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A intenção do governador fluminense é explorar o momento para acuar o governo Lula numa seara na qual o petista e legendas de esquerda costumam patinar
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Governador do Rio comemorou o massacre e jogou a responsabilidade para o governo Lula
A operação policial que resultou na morte de mais de uma centena de pessoas no Rio de Janeiro deflagrou uma guerra de posições no tabuleiro eleitoral mesmo entre aqueles que, da boca para fora, admitem que é melhor evitar politizar o assunto. Em condições normais, esse seria o tratamento que o desafio das facções criminosas requer.
Não é o que se nota, contudo. Cláudio Castro (PL), por exemplo, reorganiza o bloco da direita a partir do episódio, empacotado como ação exemplar do tipo de resposta que as gestões bolsonaristas têm a oferecer.
Por mais que o governador fluminense negue que sua intenção era contaminar o tópico com o debate político, trata-se de um dos seus efeitos colaterais, como se viu na reunião de cinco chefes de Executivo. A intenção é explorar o momento para acuar o governo Lula numa seara na qual o petista e legendas de esquerda costumam patinar.
Some-se a isso o desastre que foi a declaração do presidente (traficantes seriam vítimas de usuários), e tem-se um nervo exposto que Castro tem sabido atacar. Tão logo os números de vítimas começaram a escalar, o mandatário endereçou o impasse para o Planalto, que devolveu: isso é questão dos governos estaduais.
De passagem por Fortaleza nessa terça, 28, o ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança) rebateu as críticas de Castro, que de fato tentou terceirizar o mando de campo diante dos corpos que se empilhavam.
O ex-magistrado ponderou que a "responsabilidade pela segurança pública é dos governos estaduais", no que está certo – ao menos em parte, já que deve cumprir ao Governo Federal algum papel em face desse descalabro.
O argumento de Lewandowski, no entanto, fragiliza as linhas de defesa de governadores do PT, sobretudo os da Bahia e do Ceará, para os quais as facções constituem ameaça que demanda cooperação nacional, com pacto entre os entes, e a piora no quadro da violência extrapola as capacidades das administrações locais.
Se o peso do enfrentamento a esses grupos recai sobre Castro, um adversário de Lula, é de se esperar então que se projete sobre Elmano de Freitas (PT).
O massacre do Rio assinala sem dúvida um ponto de inflexão no horizonte, antecipando a agenda de 2026 e impondo ao governo Lula a necessidade de entrada no âmbito da segurança, seja por meio da PEC ou de outras medidas, tais como o pacote antifacção.
Por ora, todavia, são os opositores do petismo que têm capitalizado com a "operação cruenta", tanto no Rio quanto noutros estados, fazendo colar no Planalto e seus aliados a pecha de que se eximem de encarar as corporações do crime.
A tendência é de que esse endurecimento na retórica de Castro e demais lideranças do bolsonarismo desloque a discussão sobre violência para um patamar que a esquerda não terá condições de alcançar, salvo se aceitar jogar no terreno do inimigo, com as suas regras e a sua gramática, o que já seria por si a admissão de derrota.
À frente do Instituto de Ciências Médicas Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ICM), o ex-secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Cabeto), lança amanhã o Centro de Análises de Políticas Públicas do Ceará.
Voltado para "análises da eficiência de políticas públicas nas diversas áreas, com divulgação de estudos a cada três meses e realização de seminários com periodicidade semestral", o equipamento abre suas atividades com um encontro do qual participam, entre outros nomes, os pesquisadores Felipe Salto, Miguel Lago e José Xavier Neto.
O evento começa às 9 horas, encerrando-se às 13 horas, no Hotel Gran Marquise.
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