Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
O que dizer do voto de Cid? Ex-governador, o pessebista é filiado ao mesmo partido de Geraldo Alckmin, um dos alvos do plano "Punhal Verde e Amarelo", que pretendia sequestrar e assassinar autoridades da República
Foto: FERNANDA BARROS
Ex-governador e senador Cid Gomes, do PSB
Dos três senadores do Ceará, apenas um votou contra o projeto que reduz as penas dos condenados pelo 8 de janeiro: Augusta Brito, do PT. Os demais - Cid Gomes, do PSB, e Eduardo Girão, do Novo - se alinharam na chancela à proposta cujo objetivo é expressamente abreviar o tempo de prisão ao qual o ex-presidente Jair Bolsonaro foi sentenciado por tentativa de golpe de Estado.
De Girão, que costuma se apresentar como parlamentar independente, embora esteja sempre na linha de frente do bolsonarismo, não se esperava outra conduta. Mas o que dizer do voto de Cid? Ex-governador, o pessebista é filiado ao mesmo partido de Geraldo Alckmin, um dos alvos do plano "Punhal Verde e Amarelo", que pretendia sequestrar e assassinar autoridades da República.
Claro que há sempre quem veja tudo isso como mera cogitação trivial, mas não é todo dia que o chefe do Executivo discute minutas com as forças de segurança e estuda concretamente medidas para impedir a posse de um candidato eleito.
Logo, presumo que Cid tivesse razões de sobra para reafirmar a decisão do STF, mas o cearense escolheu a via contrária. Por quê? Segundo ele mesmo admitiu, porque acha que houve "exagero" nas condenações da "arraia-miúda", tese que se sustenta apenas se se crê que a Débora do batom estava de passagem por Brasília e que a turba se constituía tão somente de velhinhas com Bíblia na mão, o que não era o caso. O que sobra de justificativa? Cid responde: não se deve analisar esse quadro sob chave "maniqueísta".
Cid e Ciro
Para entender o voto de Cid a favor da dosimetria, é preciso talvez avaliar sua situação político-familiar hoje no Estado: em trajetória de reaproximação com o irmão Ciro Gomes (PSDB), com quem rompeu em 2022 por causa de arranjos locais capitaneados por Camilo Santana.
A preço de agora, o senador torce, no entanto, para que o mais velho dos Ferreira Gomes volte a se interessar pela corrida nacional, abrindo mão de postular o Governo. Em entrevista, o senador confidenciou que "reza" para que Ciro não esteja na briga pelo Abolição.
Entre aliados, sabe-se que Cid tem evitado estar ao lado do presidente Lula em agendas cearenses. Não se trata apenas de choque de compromisso: o ex-chefe do Executivo, aliado de Camilo (mas não do petismo), estabelece uma linha de corte entre o que é da esfera estadual e o que compete às articulações federais. Daí que alegue não pretender jogar água no moinho da polarização entre bolsonarismo e lulismo. Para ele, Ciro continua sendo a melhor opção de candidatura.
Há apreensão entre aliados na esteira dos movimentos do deputado Romeu Aldigueri (PSB), presidente da Assembleia Legislativa. À coluna, lideranças relataram que o pessebista, que é cotado para deputado federal, vem avançando sobre as bases de parlamentares.
Dos municípios da serra da Ibiapaba, por exemplo, Romeu teria campeado todas as prefeituras à procura de apoio de gestores para a campanha de 2026 - dele e da esposa. Até aí, tudo "normal" (dentro do que já se tornou o feijão com arroz da política cearense). O problema seria o que se considera como excesso nesse afã eleitoral.
Entre quadros da capital cearense com chances de postular cadeira na Alece ano que vem, um deles é Márcio Martins, secretário da gestão de Evandro Leitão (PT). No PDT, existe expectativa de filiação do vereador, que já compôs o bloco de Capitão Wagner (União) e André Fernandes (PL).
Além de Martins, outros nomes podem figurar na corrida por vaga na Assembleia, a exemplo de Gardel Rolim e Adail Júnior - também apontado para federal, já que, para o trabalhismo, a maior dificuldade vai ser mesmo fazer bancada na Câmara.
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