É editor digital de Política do O POVO e apresentador do programa Jogo Político, interessado no mundo do poder, seus bastidores e reflexos sobre a sociedade. Entende a política como algo que precisa ser incorporado e discutido por todos. Já foi repórter de Política e também editor da rádio O POVO CBN.
Alguns parlamentares de oposição foram até o local do incêndio, exercendo seu papel de cobrança e fiscalização. Entretanto, alguns pareciam mais preocupados em "lacrar" na internet e aparecer do que ajudar de forma concreta, indo além da reclamação
Em muitos artigos publicados aqui nesse espaço, já compartilhei doses de pessimismo em relação ao nosso País, tamanha a avalanche de problemas persistentes, graves e revoltantes. Afinal, como não se indignar com tanta corrupção, incompetência, ignorância e tantas outras falhas que infelizmente marcam a nossa realidade? Poderia até manter a mesma linha ao comentar o incêndio da semana passada no hospital César Cals, em Fortaleza.
Mas, desta vez, o foco vai ser diferente. Os vídeos que viralizaram mostrando as pessoas levando às pressas incubadoras com recém-nascidos para um local seguro, lojistas do Beco da Poeira - shopping popular da cidade - disponibilizando os pequenos espaços de trabalho para salvar esses bebês, numa mostra coletiva de solidariedade, tudo isso encheu meu calejado coração de esperança.
Como foi bonito ver essa união de pessoas que pararam tudo o que estavam fazendo naquele momento para ajudar da forma que fosse possível: uma toalha para proteger as vítimas do sol escaldante, uma garrafinha d'água para o bombeiro esbaforido, ou mesmo braços para carregar puérperas e seus rebentos.
Ali, não importava diploma, classe social, todos se transformaram em verdadeiros super-heróis, numa união de forças que impediu que o fogaréu se transformasse em uma grande tragédia. É em situações emergenciais como essa, em que cada segundo pode ser crucial, que a essência daquilo que nos faz humanos eclode, e que também nos faz refletir sobre os nossos destinos e possibilidades de mudanças: não, nem tudo está perdido.
Esse movimento ético de responsabilidade pelo outro, independentemente de vínculos afetivos ou familiares, é o amálgama que nos sustenta enquanto sociedade, e justamente por isso, deve aparecer não só em contextos de crise, mas ser uma prática de convivência e uma ação política de impacto direto na vida em comunidade, preservando a dignidade da condição humana.
Nesse mundo de redes sociais que não conectam, competitividade que adoece, individualismo que fragiliza, episódios como esse nos lembram que não chegamos até aqui sozinhos e também não iremos a lugar nenhum ficando isolados. Como costuma destacar o filósofo Mario Sergio Cortella, solidariedade vem da palavra "sólido", do latim solidus (maciço). Nessa perspectiva, a solidariedade é exatamente o que dá estrutura, densidade e robustez à vida coletiva, impedindo que a "casa humana" desmorone ou se degrade. Sem ela, a sociedade torna-se cada vez mais frágil.
Conceito que deveria estar mais do que presente, por exemplo, nos nossos políticos, afinal, o sentido de sua práxis é lutar pelo bem de quem representa, em um escopo institucional de solidariedade. Alguns parlamentares de oposição foram até o local do incêndio, tanto no dia do ocorrido como depois, exercendo seu papel de cobrança e fiscalização. Entretanto, alguns pareciam mais preocupados em "lacrar" na internet e aparecer do que ajudar de forma concreta, indo além da reclamação.
Afinal, quanto conquistaram de emendas para melhorar a estrutura da unidade de saúde? Quantas vezes já haviam visitado o hospital antes do acidente? De que forma seus mandatos têm contribuído para avançar na qualidade do atendimento como um todo? Quando a reação é imediatista e procura essencialmente desgastar o governo de plantão, ela soa mais como oportunismo do que vontade legítima de ajudar.
Por isso, por enquanto, prefiro enaltecer a iniciativa dos "anônimos" que agiram de forma desprendida. Eles, sim, merecem muitos aplausos e holofotes. Protagonistas do bem que esperamos ver se multiplicar.
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