Um incêndio em uma subestação de energia resultou em uma manhã de caos durante esta quinta-feira, 13, no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), em Fortaleza. Ao todo, 117 bebês e 153 mulheres, entre gestantes e puérperas, foram encaminhados para unidades da Rede Estadual e da Rede Municipal de Fortaleza. Segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), não houve nenhum ferido no incidente.
As chamas queimaram dois geradores e comprometeram a eletricidade do hospital, levando a interrupções dos serviços de emergência e das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).
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As primeiras a serem afetadas pelo incêndio foram as UTIs. As chamas deixaram o hospital sem eletricidade, desligando todo o maquinário de atendimento médico, como respiradores.
Recém-nascidos que estavam na UTI Neonatal precisaram ser removidos do hospital às pressas ainda dentro das incubadoras e levados para outras unidades de saúde e centros comerciais, a fim de encontrarem tomadas onde os aparelhos pudessem ser ligados.
O POVO chegou ao local minutos após o incêndio e presenciou a comoção no local. Mães ainda com roupas hospitalares aos prantos acompanhavam as incubadoras de seus bebês e funcionários em choque se alternavam entre a grande presença de policiais e agentes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que tentavam controlar o caos para ajudar os pacientes.
(Foto: Daniel Galber/Especial para O POVO)Pacientes das UTIs precisaram ser levados às pressas para fora do hospital
(Foto: Daniel Galber/Especial para O POVO)Pacientes das UTIs precisaram ser levados às pressas para fora do hospital
(Foto: Daniel Galber/Especial para O POVO)Pacientes das UTIs precisaram ser levados às pressas para fora do hospital
(Foto: Daniel Galber/Especial para O POVO)Pacientes das UTIs precisaram ser levados às pressas para fora do hospital
(Foto: Daniel Galber/Especial para O POVO)Pacientes das UTIs precisaram ser levados às pressas para fora do hospital
(Foto: Daniel Galber/Especial para O POVO)Pacientes das UTIs precisaram ser levados às pressas para fora do hospital
José Dácio, que possui uma loja de roupas próxima à subestação de energia, lembra o susto que tomou na hora da explosão.
“As paredes chega tremeram. Pensei que um carro tinha batido ou alguma coisa assim. Quando eu olhei a fumaça preta já tinha coberto tudo. Pessoal da rua viu alguns funcionários do hospital com extintor e todo mundo pegou também e tentou apagar enquanto os bombeiros chegavam”, conta o lojista.
O incêndio levou cerca de 15 minutos até ser debelado, de acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE). Um corredor de ambulâncias foi formado para a transferência dos pacientes.
A maioria dos pacientes foi levada para o Hospital Universitário do Estado Ceará (Huec). Também houve pacientes levados para o Waldemar de Alcântara, Gonzaguinha da Messejana e Hospital da Mulher.
Nenhuma ala HGCC foi atingida pelas chamas, entretanto, a emergência do hospital continuará fechada até hoje, 14, por precaução.
"Todas as providências necessárias estão sendo adotadas para apurar as causas do incidente", informou a secretaria. Sobre os serviços do HGCC, a Sesa destaca que está "adequando temporariamente o funcionamento da unidade".
“Nesse momento o que estamos fazendo é uma ato de precaução, prevenção, de segurança para que a gente não tenha nenhum risco. A gente não quer colocar nenhum bebê, nenhuma gestante em risco, nenhuma acompanhante, nem nossos trabalhadores”, pontuou a titular da Sesa, Tânia Mara Coelho, em entrevista à rádio O POVO CBN.
Em março deste ano, o Hospital Universitário do Ceará (HUC) foi inaugurado e absorveu o serviços de clínica e cirurgia. Contudo, a maternidade e a neonatologia continuaram no HGCC.
O plano do Governo do Estado era transferir todo o funcionamento do César Cals para o HUC. No entanto, funcionários pediram a permanência da maternidade no local, o que foi atendido. Um protesto com trabalhadores e políticos da oposição chegou a ser feito na frente do Hospital, em março.
Conforme a secretária, a estrutura do hospital deve passar por reforma para se tornar uma unidade de referência nesses serviços remanescentes. Uma visita junto à Superintendência de Obras Públicas (SOP) já havia sido feita para montar um cronograma de intervenções. Não foi informada a data para o começo das reformas.
Acerca do incêndio, a SOP informa que "já está sendo realizado levantamento técnico para definir quais intervenções serão necessárias a fim de recuperar a estrutura do hospital".
Comerciantes do Beco da Poeira ajudaram no acolhimento
Uma das cenas mais marcantes do incêndio registrado no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) foi a entrada de recém-nascidos ainda nas incubadoras no Beco da Poeira, centro comercial que funciona em frente ao hospital, no Centro de Fortaleza.
Assim que as chamas começaram, dezenas de comerciantes correram para ajudar os médicos e enfermeiros do César Cals a transportarem os bebês. Entre eles estava Gilvan Silva, 31, que trabalha em uma loja de celulares e lembra os momentos de tensão da manhã de ontem
"A intenção nossa foi ajudar. Tirar os bebês e as mães. Graças a Deus deu tudo certo. Tinha muito bebê pequeno ainda, incubado. A gente queria ajudar porque são vidas. Fiquei emocionado porque a gente salvou vidas", relata emocionado o comerciante.
Os esforços também foram para alocar os bebês. No meio da confusão, a busca era por tomadas onde as incubadoras e aparelhos de oxigênio pudessem ser ligados. Valentim Castro, 21, conta que houve uma grande mobilização para compra de água, locomoção de boxes, compra de extensões e demais ações que pudessem ajudar a salvar a vida dos bebês.
"Foi desesperador. Todo mundo correu para ajudar como pode. Teve gente que afastou os boxes para ligar energia para os bebês respirarem, gente correndo atrás de água, ventilador, extensão, banco para as grávidas sentarem… todo mundo ajudou como pôde ajudar", afirma o vendedor.
Os profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que atuaram no resgate dos bebês e adultos internados no Hospital César Cals, chegaram a ser aplaudidos por quem estava no local e ajudou no resgate. Os profissionais do Samu chegaram a se juntar para rezar um Pai Nosso com a população do lado de fora da unidade depois da transferência dos pacientes.
Durante o incêndio, enquanto a solidariedade vinha do Beco da Poeira e o Samu atuava para salvar vidas, familiares dos bebês e grávidas internados mostravam nervosismo e relatavam medo e incerteza. Matheus Bezerra estava trabalhando quando soube do incêndio. A esposa dele acompanhava o filho de oito meses, que estava internado na unidade no momento em que as chamas começaram.
Em entrevista ao O POVO, Matheus afirmou estar nervoso, pois as ambulâncias estavam retirando apenas mães e bebês, deixando os acompanhantes aguardando do lado de fora.
Após o susto, mãe e filho foram transferidos para o Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), no bairro Messejana. "Eu tô preocupado para saber como eu vou pra lá, porque ela é de menor", disse Matheus.
Ao todo, 117 bebês e 153 mulheres, entre gestantes e puérperas, estavam no HGCC e foram encaminhados para unidades da Rede Estadual e da Rede Municipal de Fortaleza.
Dona Aparecida, avó de um dos bebês que estavam internados, conta que entrou em desespero quando recebeu a ligação da filha informando que o hospital estava pegando fogo. "Cheguei aqui por volta de 13 horas, mas não quiseram me deixar entrar porque disseram que eu precisava ter algum documento dela — e eu não tinha. Aí o desespero só aumentou", relata.
Apesar da tensão, ela conseguiu entrar e ver a filha e o neto. Dona Aparecida afirma que não pode acompanhar a filha na transferência, mas as duas estão mantendo contato. (Kleber Carvalho e Carlos Daniel/Especial para O POVO)
Subestação de energia passou por manutenção um dia antes do incêndio
A subestação de energia do Hospital Geral César Cals passou por manutenção na quarta-feira passada, 12, um dia antes do incêndio registrado no hospital. A informação foi dada pela secretária da saúde do Estado, Tânia Mara Coelho, em entrevista à rádio O POVO CBN.
"A gente precisa entender o que aconteceu. Nesse momento, nossa preocupação é prevenção, precaução e segurança", disse Tânia. Segundo a gestora, a Sesa também descarta a possibilidade de falha por desgaste da subestação, já que o equipamento estava em funcionamento há apenas dois anos.
Em nota, a Enel Distribuidora, empresa responsável pelo fornecimento de energia em Fortaleza, afirmou que o incêndio foi causado por defeito interno na rede, de responsabilidade do César Cals, e que realizou o desligamento emergencial na unidade de forma preventiva, a fim de garantir os trabalhos das autoridades.
Dois geradores foram enviados para substituir os queimados durante o sinistro. Uma equipe especializada também foi acionada para prestar o apoio necessário no período da ocorrência.
Em nota divulgada nas redes sociais, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), afirmou ter determinado que as causas do acidente fossem "rigorosamente apuradas". A subestação será analisada por equipe da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) para determinar a causa exata do incêndio. O governador estava em Belém participando de apresentação na COP30. (Kleber Carvalho)
Atendimento na emergência obstétrica é suspensa
Os serviços de emergência obstétrica do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), no bairro Centro, em Fortaleza, estão suspensos após incêndio atingir a subestação de energia do equipamento de saúde. Diante da suspensão do atendimento, a população pode procurar demais equipamentos com emergência obstétrica 24 horas.
A informação foi divulgada pela secretária da Saúde, Tânia Mara Coelho, em entrevista à rádio O POVO CBN, nesta quinta-feira, 13. Segundo a titular da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), os serviços devem retornar após a gestão esclarecer o motivo do incêndio.
“Ter total segurança para voltar o atendimento”, disse a secretária. A previsão é que o atendimento retorne, “pelo menos até ao meio-dia”, de hoje, 14.
Cerca de 50 pacientes, entre bebês e gestantes, foram transferidos para o Hospital Universitário do Ceará (HUC/Uece) na manhã de ontem, 13. De acordo com a diretora-geral do HUC, Ivelise Brasil, a mobilização ocorreu imediatamente após o incidente. “A Secretaria da Saúde acionou toda a equipe do Hospital Universitário para que se preparasse para a retaguarda caso houvesse necessidade de assumir os leitos dos pacientes”, afirmou. Até ontem à noite, o Hospital Universitário havia recebido 20 bebês da UTI Neonatal e 30 gestantes de alta complexidade
Segundo a direção, o HUC foi acionado para acolher bebês de alto risco, bebês de médio risco e gestantes de alta complexidade, a partir da estrutura já instalada na unidade. “Todos os setores do hospital — incluindo UTI, centro cirúrgico e obstétrico — estão envolvidos no atendimento desses pacientes de alto e médio risco que já estão sendo assistidos”, afirmou Ivelise.
Ivelise Brasil informou que a instituição está preparada para ampliar o atendimento caso a Sesa determine novos deslocamentos. “Nossa estimativa é que a gente dobre esse número conforme a necessidade. O hospital está preparado com o dobro da capacidade do que já foi recebido”, ressaltou.
Hospital Geral de Fortaleza (HGF)
Onde: Rua Ávila Goulart, 900, no bairro Papicu
Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac)
Onde: R. Coronel Nuner de Melo, S/N - Rodolfo Teófilo, Fortaleza - CE
Gonzaguinha José Walter (Hospital Distrital Gonzaga Mota José Walter)
Onde: Av. C, 485 - Pref. José Walter
Gonzaguinha de Messejana (Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana)
Endereço: Avenida Washington Soares, 7700, Messejana
Gonzaguinha da Barra do Ceará (Hospital Distrital Gonzaga Mota Barra do Ceará)
Endereço: Avenida Aloísio Lorscheider, 1130, Vila Velha
O incêndio foi registrado no fim da manhã desta quinta-feira, 13. No local, pacientes e bebês recém-nascidos foram retirados às pressas da unidade de saúde e alocadas em áreas próximas, como Beco da Poeira e no anexo do hospital.
As chamas foram controladas pelo Corpo de Bombeiros do Ceará (CBMCE) por volta das 11h15min. Diante do incêndio, os pacientes e bebês estão sendo transferidos para demais hospitais da rede municipal e estadual, como Hospital Universitário do Ceará (HUC/Uece) e Hospital da Mulher.
Em nota, a Sesa informou que a situação está sob controle e que as causas do incidente estão sendo apuradas. A Enel Distribuição Ceará disse que houve um defeito interno na rede de energia local, que é de responsabilidade do Hospital César Cals.
“A empresa disse que, preventivamente, realizou um desligamento emergencial na unidade hospitalar de forma a garantir os trabalhos das autoridades”, disse.
Há 66 anos, estudante de 17 anos morreu após salvar pacientes durante incêndio
Há 66 anos, a cena vista nesta quinta-feira, 13, de uma unidade hospitalar em chamas, pacientes desesperados e bebês em perigo, já havia ficado na história.
Em 4 de agosto de 1959, o estudante João Nogueira Jucá, na época com 17 anos, salvou diversas vidas durante um incêndio também no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC).
João passava por ruas do Centro de Fortaleza após uma aula de halterofilismo quando, ao ouvir os pedidos de socorro, entrou para socorrer as vítimas - principalmente crianças que se encontravam internadas no interior do prédio.
O fogo foi provocado por uma explosão no depósito de éter da unidade.
Com quase 100% do corpo queimado, João não resistiu, vindo a óbito em 11 de agosto de 1959.
Há ainda realização de uma solenidade Cívico-Militar na Praça Capistrano de Abreu, ao lado do hospital, com a presença de familiares e amigos de João Nogueira Jucá, alunos do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros Escritora Rachel de Queiroz e servidores do Hospital Dr. César Cals.
O Corpo de Bombeiros Militar do Ceará criou a Medalha João Nogueira Jucá, utilizada para homenagear os bombeiros militares por atos de abnegação e filantropia.
João tornou-se um exemplo para estudantes, pelo ato de heroísmo e empatia. Para a família, ele é lembrado como uma figura de humildade, doação e respeito ao próximo. Essa é a mensagem que o sobrinho, João Nogueira Ponte Jucá, gostaria de deixar para os estudantes nessa data, conforme disse em matéria publicada no O POVO.
“Ele não mediu esforços para salvar as pessoas que estavam naquele hospital em chamas. É um exemplo de caridade, de entrega total, de um ser humano cristão. Que as pessoas vejam no meu tio, esse exemplo de amor e respeito ao próximo, porque somos todos irmãos”, disse o sobrinho, que é aposentado do Poder Judiciário.