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Bolsonaro rendido
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Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.

Joelma Leal ombudsman

Bolsonaro rendido

Esteticamente, a capa está belíssima, digna de prêmios, no entanto há algumas questões
Tipo Opinião
Imagem da capa da edição de 9 de fevereiro de 2024 (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução Imagem da capa da edição de 9 de fevereiro de 2024

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Uma semana, no mínimo, movimentada. Se não bastasse anteceder o período carnavalesco, na quinta-feira, 8, a Polícia Federal (PF) deflagrou a operação Tempus Veritatis (hora da verdade, em tradução do latim).

O trabalho apura organização criminosa participante na, segundo a PF, "tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder", a partir de possíveis fraudes antes das Eleições Presidenciais de 2022 e durante esse período.

Na própria quinta-feira, como não poderia deixar de ser, O POVO produziu uma série de matérias sobre o assunto, que foi pauta do programa O POVO News, com espaços nos programas da O POVO CBN e várias publicações nas redes sociais do Grupo. Vale ressaltar que durante um período, entre quinta e sexta, o espaço dedicado ao Carnaval, na home do portal O POVO, foi substituído por notícias exclusivas acerca da operação.

No dia seguinte, na sexta-feira, 9, como era de se esperar, a Tempus Veritatis foi a manchete da edição impressa. Além da reportagem especial, ocupada em três páginas (uma a mais que a habitual), a operação foi o tema da charge, do editorial e da coluna do jornalista Érico Firmo.

A composição da capa faz lembrar as edições dominicais, mas o editor-chefe do Núcleo de Design, Gil Dicelli, se limitou a dizer que "O POVO já tem tradição de capas-pôster e em qualquer dia da semana".

Esteticamente, a capa está belíssima, digna de prêmios, no entanto há algumas questões.

A começar pela escolha da imagem: o protagonista, no caso, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aparece com as mãos na cabeça, como se estivesse totalmente rendido.

A partir desse primeiro ponto, algumas colocações: a foto é de "agora" ou de arquivo? Se de arquivo, caberia uma legenda para que fique claro ao leitor. Essa circunstância fez lembrar um episódio de janeiro de 2023, quando a Folha de S. Paulo e a fotojornalista Gabriela Biló foram "cancelados" por causa de uma fotomontagem publicada na capa do jornal, que mostra o presidente Lula, com um vidro avariado em seu peito, lembrando um tiro, após ataques do dia 8 de janeiro. O assunto foi tema da coluna à época, quando escrevi: "...a escolha da imagem é consequência de uma decisão editorial". A propósito, neste caso, a legenda informava tratar-se de uma fotomontagem.

Portanto, em que medida O POVO induz a uma leitura depreciativa de uma personagem (seja ela qual for)?

De acordo com a direção de Jornalismo, "a imagem foi escolhida para retratar um momento politicamente difícil por que passa o ex-presidente, sobre o que nos parece haver nenhuma dúvida. A foto está em linha com o desenho da capa, mais revistizada, justamente para destacar ao leitor a importância do momento".

A outra questão a ser destacada são as palavras publicadas: "Investigação da PF. Bolsonaro, quatro generais e um golpe fracassado". De bate-pronto, leitores entraram em contato, questionando a escolha das palavras: "Quanta parcialidade!!! Será que o correto não seria tentativa/intenção de golpe???? Interessante também diferenciar 'planejamento' de 'tentativa'".

De fato, não há aí uma pré-condenação? Não há dúvidas de que há uma série de evidências, porém não houve a condenação, ainda. O cerco está fechando? Sim. Mas até lá, que as opiniões estejam presentes nas colunas, artigos e editorial. Em tempo: o editorial de sexta-feira, 9, atesta: "Investigação agrava situação de Bolsonaro". É isso.

A redatora da capa, Domitila Andrade, conta que "o dizer da manchete nesse caso específico foi uma construção coletiva. E, em dado momento, foi ponderada, sim, a falta da 'tentativa' ou um 'suposto'. Contudo, nos valemos da cartola da manchete que enuncia 'Investigação da PF'. E nos autos da investigação eles chamam de golpe".

Páginas adiante, a própria reportagem não qualifica como golpe e apresenta o título "Investigação relata conspiração golpista de Bolsonaro e militares de alta patente", acompanhado do abre (texto abaixo do título): "Determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, operação atinge o ex-presidente, que teve o passaporte apreendido, e pelo menos quatro generais suspeitos de atuar em tentativa de golpe de Estado". Na página seguinte, mais um título com menção à tentativa: "Generais cearenses seriam centrais em tentativa de golpe".

Uma única palavra (ou a falta dela) faz, sim, a diferença.

O megaevento do PSB

Ainda no ritmo da escolha das palavras, voltemos à edição de segunda-feira, 5. A manchete, em tom festivo, informa: "Megaevento do PSB no Ceará. Cid, Izolda e 40 prefeitos se filiam e 'turbinam' partido. Filiação ao PSB sela rompimento entre os irmãos Ciro e Cid Gomes".

É compreensível que, diante de tantos adiamentos acerca da filiação do senador Cid Gomes, houvesse destaque e até a manchete do dia, como acabou sendo, mas daí a ser classificado como um "megaevento" acredito ter sido um tanto generoso.

Representantes importantes, tanto locais como nacionais, estiveram no encontro. Dentre eles, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), o ministro Camilo Santana (PT), o governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB), o prefeito do Recife, João Campos (PSB), o líder do governo federal na Câmara dos Deputados, o deputado José Guimarães (PT), e o ministro Márcio França (PSB), mas ainda assim não cabe o "megaevento". Seria mais apropriado para um informativo do partido. Nem o próprio site do PSB rotulou o evento como tal.

Como comentou um leitor: "vamos ver se nos próximos eventos dos demais partidos, PT ou PSDB, por exemplo, o 'megaevento' será usado". A ver.

Bom Carnaval a todos.

 

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