Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.
Tomei o título emprestado, a partir de uma fala do jornalista Érico Firmo, durante uma reunião entre editores e repórteres, na última Quinta-Feira Santa. A pauta? Uma discussão acerca do que O POVO publica, especificamente nas páginas de Opinião, que contam com a colaboração de articulistas fixos e esporádicos.
A conversa surgiu a partir de um texto equivocado, que fora publicado no feriado de 25 de março, na última segunda-feira, 25. O título já chamava a atenção: "O que é um homem?" e a assinatura mais absurda ainda: coronel da PMCE, mestre em planejamento de Políticas Públicas e homem.
O desenrolar do artigo traz uma série de ironias, desinformação, homofobia e preconceito. Internamente, apontei minha surpresa ao mirar tal texto em nossas páginas: "Li e reli o texto sem acreditar que estava sendo publicado. Fazemos matérias, quase que diariamente, acerca do assunto e o artigo vai de encontro ao que publicamos". A partir daí, uma sequência de trocas de e-mails com profissionais da Redação e uma profusão de críticas externas.
A repórter Bemfica de Oliva - no O POVO desde 2020 e primeira pessoa trans a escrever para um veículo de comunicação no Estado - foi uma das que se indignaram com o espaço dado ao texto: "A diversidade de vozes não pode ser pretexto para espalhar desinformação e discurso de ódio (...) este texto vai passar, nas versões impressa e digital, pelas mãos e mentes de milhares de pessoas. Pode influenciar quem não tem posição firmada sobre o tema, pode inflamar quem já odeia gente como eu. Vai, com certeza, fazer com que muitas pessoas julguem ser verdadeiras pelo menos meia dúzia de afirmações mentirosas, e é devido à divulgação de informações mentirosas que o estrato social do qual eu faço parte corre risco de vida diuturnamente", traz um pequeno trecho da sua primeira manifestação relacionada ao artigo em questão.
Bemfica acertou. Dois dias depois, na quarta-feira, 27, o jornalista André Bloc, titular da coluna que leva seu nome, desde 2021, foi atacado - via e-mail, comentários e redes sociais - por ter escrito uma "resposta" ao artigo que abriu a semana. A coluna de Bloc é publicada semanalmente em Esportes e no OP , tendo como foco a inclusão de minorias e diversidade no esporte. Na última quarta-feira, o título foi "O que é um homem" sem o ponto de interrogação utilizado pelo coronel da PMCE.
A pluralidade de vozes não justifica a disseminação de notícias falsas. O caso recente fez lembrar um outro episódio, também resultado de publicações polêmicas nas páginas de Opinião. Faço menção a textos de um mesmo autor, que defendeu a ditadura e o golpe após o pleito de 2022, que elegeu Lula presidente pelo voto popular. No texto de 2023, ele lamentava o fato de os generais terem falhado nos atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Os assuntos foram pautas de coluna externa ano passado ("Muito além de liberdade de expressão"), assim como em 2022, quando a jornalista Juliana Matos Brito atuava como ombudsman ("Defesa da ditadura não cabe no jornal").
Pois bem, como justificar a cessão de centímetros por coluna, espaços preciosos a ideias tão atrasadas, absurdas e tacanhas?
Em "O que é uma opinião?", o diretor de Opinião, Guálter George, posiciona-se acerca do imbróglio. Para ele, "mesmo que não busquemos a polêmica pela polêmica, longe disso, ela parece um resultado natural do esforço de preservar um ambiente pelo qual possam circular todos os campos de pensamento, independente do que sejam as nossas posições institucionais e que se encontram expostas de maneira clara nos documentos internos e nos editoriais que diariamente publicamos".
As páginas de Opinião são abertas a contribuições diversas. Há os articulistas fixos, assim como os espaços podem ser ocupados pelos demais leitores sobre os mais variados temas. Diante dessa possibilidade, é esperado que chegue "de tudo". Cabem, portanto, critérios mais claros do que é publicável. Bom senso é bem-vindo, porém é artigo raro. Que além dos meios para envios de textos, fique visível ao leitor não somente aspectos técnicos, como quantidade de caracteres, mas, principalmente, os limites aceitáveis.
Por falar em homofobia
Desde o último dia 25 de fevereiro, o perfil do O POVO no Instagram publica, semanalmente, a sessão O POVO é História, uma marca já consolidada nas demais plataformas do Grupo.
O conteúdo veiculado é, sim, informativo e interessante. Contudo, na publicação sobre a carreira do engenheiro ferroviário Francis Reginald Hull, o Mister Hull, um ponto chamou a atenção: as falas voltadas para a orientação sexual do profissional. "Havia mesmo necessidade de vocês focarem na homossexualidade do Mister Hull? Qual a necessidade?"; "Esse post engraçadinho, "humorado"… é sexista, homofóbico e machista"; "Essa publicação é um desserviço. Além de todos os erros, é uma presepada"; "Como ele era inglês, como fala o vídeo, tinha um sotaque 'americano" como o vídeo afirma? Da mesma maneira, há registros que 'quando o engenheiro não estava em obras estava envolvido com rapazes?' Não é sobre a origem da palavra (baitola), mas, sim, uma troça com a suposta orientação sexual do rapaz. O POVO é um grupo de comunicação sério, não é um influencer qualquer"; "A vida privada de alguém é somente dela. Como se envolver com rapazes fosse um mal, um defeito, um ponto de chacota".
Ao compartilhar as reações negativas junto aos profissionais do Grupo, a editora de Mídias Sociais, Glenna Cherice, elencou e transcreveu uma série de elogios ao material: "Adorando esses conteúdos do jornal sobre pessoas que fizeram nossa história. (achei que não iam falar da bitola)"; "Adoro esse quadro! Melhor conteúdo!"; "Gosto desse tipo de jornalismo, é informativo e conta uma história, eu aqui esperando por outras matérias assim", dentre outras.
A editora afirma que "em nenhum momento houve um tom humorístico. Na história do personagem, é contada uma lenda que muitos conhecem e talvez nem saibam que é uma lenda. A repórter, de forma séria e profissional, explica a lenda, deixa claro que não procede e ainda menciona que o termo é pejorativo".
Esse é o ponto: se "a lenda não procede", logo a trajetória profissional dele poderia ter sido o suficiente. Os elogios viriam da mesma forma.
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