Juliana Matos Brito é formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalha no O POVO há 20 anos. Atuou como repórter e editora do núcleo Cotidiano, que reunia as áreas de Ceará, Fortaleza, Ciência & Saúde e Esportes. Também foi editora de Audiência e Convergência do Grupo de Comunicação O POVO e editora-executiva do Digital e da editoria de Cidades. Tem especialização em Jornalismo Científico e é mestranda em Ciências da Informação, ambos pela UFC.
Artigo que exaltou o golpe de 1964 e trouxe informações enganosas sobre as eleições de 2022 foi publicado no O POVO no domingo. Inúmeros leitores criticaram a publicação do texto
A semana que passou começou com uma discussão importante acerca da liberdade de expressão, por conta de um artigo publicado no O POVO no último domingo. O texto destacava que o presidente do TSE "determinou quem será o novo presidente da República", que as eleições foram "um teatro" e que a vitória de Lula nas urnas foi "fraudulenta", além de ter exaltado a ditadura no título e no fim do texto, quando traz uma frase relacionada ao golpe de 1964 ("Se não resolveu tudo, evitou o pior").
Ainda em 2022, pelo menos em três colunas, eu trouxe para esse espaço a discussão sobre liberdade de expressão. Salientando que essa tão festejada liberdade tem limites, principalmente quando tratamos de racismo, homofobia, violência, discurso de ódio, além da desinformação. O artigo em questão diz que a eleição foi uma fraude, algo que não foi comprovado. Uma conselheira do O POVO escreveu: "O jornal dar espaço para um homem falar tantas mentiras, como dizer que a eleição foi fraudulenta, é realmente uma falta de respeito com o leitor". Mas esse, infelizmente, não foi o problema maior do texto. Inúmeros leitores criticaram a publicação: "Apologia ao crime", "desrespeito à Constituição", "artigo ilegal e absurdo", "texto repleto de inverdades e ilegalidades", "inadmissível", "repugnante".
"Ao publicar texto desta natureza, o jornal O POVO caminha na contramão da defesa dos direitos constitucionais, tão almejados e ameaçados", criticou um leitor em mensagem à ombudsman. Outro assinante comentou: "Acho que é desnecessário discorrer sobre o quão nefasto foi para o Brasil o período ditatorial, que esse senhor, sem pudor algum, defende a volta em artigo publicado em um dos jornais mais importantes do País. Acho que a editoria precisa rever a publicação dos textos desse senhor". A jornalista Kamila Fernandes, professora da UFC e que já trabalhou no O POVO, também expressou repúdio ao artigo.
"Execrável o artigo. Não é de hoje que se discute o quão fajuto é o tal 'equilíbrio jornalístico' quando este, por pura performance vazia, assume como 'pontos de vista divergentes' algo notavelmente absurdo e até escabroso. O artigo tem como objetivo única e exclusivamente atacar a democracia brasileira. Ou seja, o autor incita o golpe militar descaradamente, ao disseminar mentiras, sob a cumplicidade deste jornal. E não, não é questão de opinião, de ponto de vista. É dar guarida para um crime", escreveu.
Diversidade de opinião
O jornalismo precisa ter cuidado com informação falsa disfarçada de liberdade de expressão, com a falsa equivalência, com a busca pelo contraditório e o "dois ladismo" com o intuito de se mostrar imparcial. É claro que o jornal é espaço para os mais diversos pensamentos. Mas nunca deve ser espaço para mentiras e incitação a um golpe. Na quinta-feira, o diretor de Opinião do O POVO, Guálter George, publicou um artigo trazendo uma explicação sobre o texto de domingo. Ele deixa claro que não concorda com a opinião do articulista, mas defende a publicação do artigo. Foi importante a explicação, mesmo que muitos leitores tenham discordado da justificativa. No OP +, um leitor comentou: "Em nome da democracia não se deve permitir feri-la. Ter opinião é diferente de propor um golpe em nome da liberdade de expressão. No momento em que o jornal abre espaço ele admite essa possibilidade".
"O artigo em questão reproduz um debate que há hoje na política, numa pauta sobre a qual não temos controle, acerca da existência de um dispositivo constitucional que autorizaria as Forças Armadas, provocadas pelo presidente da República, a fazer uma intervenção para garantir a ordem", explica Guálter. "A posição institucional do O POVO é clara na defesa irrestrita do sistema eleitoral, das urnas eletrônicas, do processo de disputa em 2022, no geral, e, no detalhamento, de praticamente todas as decisões tomadas pelo ministro Alexandre de Moraes ao longo do processo eleitoral. Apenas achamos que isso não impõe obrigar a todas as pessoas, incluindo quem é articulista, a se submeter à mesma compreensão", disse o diretor.
Particularmente, não concordo com a publicação do artigo de domingo. Acho que o jornal deve sim ser espaço para as mais diversas vertentes do pensamento. Qualquer leitor que esteja insatisfeito com a vitória de Lula ou com as ações do STF ou TSE, por exemplo, pode escrever no jornal, com argumentos e fatos. Mas trazer mentiras e fazer apologia à ditadura militar é ultrapassar qualquer limite aceitável. E o articulista em questão deixa isso claro no título e no último parágrafo. E para um jornal que trata as manifestações contra as eleições de 2022 como atos golpistas e antidemocráticos, inclusive com editoriais publicados neste sentido como fez O POVO, fica ainda mais difícil entender a publicação de domingo.
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