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O Fortal e os múltiplos ruídos
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Joelma Leal assume como ombudsman do O POVO no mandato 2023/2024. É jornalista e especialista em Marketing. Atuou como editora-executiva de sete edições do Anuário do Ceará, esteve à frente da coluna Layout por 12 anos e foi responsável pela assessoria de comunicação do Grupo, durante 11 anos.

Joelma Leal ombudsman

O Fortal e os múltiplos ruídos

A base precisa estar assentada, as pontas precisam se comunicar
Tipo Opinião
A primeira edição do Fortal foi realizada em 1992 (Foto: Fernanda Barros/O POVO )
Foto: Fernanda Barros/O POVO A primeira edição do Fortal foi realizada em 1992

Desde que surgiu, há mais de 30 anos, o Fortal atrai turistas, movimenta a economia e a Cidade, assim como é atrelado a polêmicas.

Não é a primeira vez que o início da micareta teve seu local ou, até mesmo, sua realização ameaçada. Em 2004, último ano de realização na avenida Beira Mar, faltando poucas horas para o início da festa, ainda era incerta a liberação do espaço público. O consentimento veio após uma autorização cedida pelo Supremo Tribunal de Justiça. À época, o hino (ou o "grito de guerra") foi "Vai ter, vai ter Fortal", em uma versão para o sucesso do período, "Maimbê Dandá", de Carlinhos Brown e Mateus Aleluia, gravado pela cantora Daniela Mercury.

Hoje é inimaginável uma festa privada com tamanha estrutura e volume gigante de decibéis ocorrer em um dos principais pontos turísticos da Capital, impedindo o trânsito livre de moradores e visitantes.

Em 2005, o Fortal mudou de endereço e passou a ser no bairro Manoel Dias Branco, bem próximo à Praia do Futuro e Cidade 2000, e, desde então, o espaço foi batizado de Cidade Fortal. Diferentemente da versão anterior, o acesso passa a ser pago, incluindo os "pipocas", nome dado aos foliões que não adquiriram abadás de um dos blocos dos artistas.

O preâmbulo é apenas um resumo para se chegar ao ano 2024. No dia 17 de abril deste ano, foi publicada a matéria "Cidade Fortal será em novo local; mudança da festa ocorre este ano". O texto traz nota da produção do evento, compartilhando o tema da edição de 2024, "Viva o novo", e a confirmação que haveria mudança de local, ainda este ano.

Uma semana depois, em uma coletiva de imprensa foram divulgadas as novidades. O POVO estava lá e publicou: "Fortal 2024: saiba mais sobre o novo local e início das vendas". Não demora muito para o teor de entretenimento ser transferido para as páginas de segurança pública. No dia seguinte ao anúncio, 25 de abril, o titular da Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS-CE), Samuel Elânio, declara ser "preocupante" a escolha do novo local, até então, em uma área próxima ao Aeroporto Internacional Pinto Martins, espaço cedido pela Fraport, a concessionária do Aeroporto. E mais: o secretário soube da mudança por meio das redes sociais.

Passados mais quatro dias, foi promovida uma reunião entre representantes da SSPDS, da Polícia Federal (PF), da Fraport e do Fortal, a fim de definir ações de segurança e demais necessidades para a realização da micareta, como faixa exclusiva para os foliões, deixando as outras vias livres para quem fosse se deslocar para o Aeroporto. Ora, a ordem não seria a contrária? Reunir os órgãos, dissecar e esgotar todas as possibilidades para somente depois convocar uma coletiva de imprensa?

Uma quinzena depois, outro imbróglio. O foco passa a ser a vegetação do local, conforme noticiou o jornalista Carlos Mazza. A obra de desmatamento foi embargada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Ceará e a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) afirmou que 80% do terreno possui espécies indicadoras de mata atlântica, protegidas por legislação específica. Protestos e indefinições classificam a situação.

O POVO tem acompanhado por meio de seus veículos e canais, incluindo um editorial, no dia 23 de maio, intitulado "Continua embate sobre o Fortal". Mesmo com datas equivocadas acerca dos inícios da festa nos dois espaços - Beira Mar e Manoel Dias Branco -, o texto alerta sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul, assim como lembra a aprovação, na Câmara Municipal de Fortaleza, de dois projetos de lei que tiravam trechos urbanos, no bairro Presidente Kennedy, das macrozonas de proteção ambiental e das zonas de recuperação ambiental.

O superintendente do Ibama no Ceará, Deodato Ramalho, o diretor do Fortal, Pedro Coelho Neto, o mestre em estudos ambientais, Márcio Rios, e o superintendente da Semace, Carlos Alberto Mendes, foram alguns dos nomes que concederam entrevista à Rádio O POVO CBN, nos últimos dias.

Um senão na cobertura diz respeito a uma postagem da Rádio e a uma matéria do portal O POVO, no dia 20 de maio. Ambas traziam notícias sobre a recomendação de biólogos acerca da necessidade da mudança do local. Entretanto, as imagens eram de manifestações contra a realização do evento.

Um leitor entrou em contato para questionar: "Escolheram uma foto da manifestação para ilustrar a matéria, assim como no Instagram da rádio. Não seria mais adequado usar uma foto do local, em vez de um cartaz contra o evento? Ao menos que o jornal tenha um posicionamento definido sobre o tema. Essa é a defesa do jornal, então? Se sim, não vi editorial a respeito".

Para quase fechar a questão, o governador Elmano de Freitas (PT) entrou na intermediação e anunciou o retorno da festa para o bairro Manoel Dias Branco, pelo menos para a edição 2024, já que a própria organização do evento afirmou que o plano é que o Fortal 2025 seja próximo ao Aeroporto, sim. Fica o alerta para os próximos passos. Sendo Fortal ou outro empreendimento, como hotel, supermercado ou shopping, como trouxe o jornalista Jocélio Leal, na edição de sexta-feira, 24. Prevaleçam, enfim, o bom senso e as regras da legislação ambiental.

Tudo isso para resumir: a comunicação faz toda a diferença. Seja em evento, seja qual for o porte e seja qual for o público. Pode ser com o artista "do momento", campanhas, vídeos ou qualquer outra estratégia. A base precisa estar assentada, as pontas precisam se comunicar. É assim.

Até já

A partir de amanhã, 27, estarei de férias, por alguns dias.

O atendimento aos leitores, ouvintes e seguidores do Grupo será retomado no dia 18 de junho, por meio do e-mail (ombudsman@opovodigital.com) e do WhatsApp (85 9 8893 9807).

Já a coluna dominical voltará a ser publicada no dia 23 de junho.

Até lá.

 

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