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Um passo contra o jornalismo declaratório
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Juliana Matos Brito é formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Trabalha no O POVO há 20 anos. Atuou como repórter e editora do núcleo Cotidiano, que reunia as áreas de Ceará, Fortaleza, Ciência & Saúde e Esportes. Também foi editora de Audiência e Convergência do Grupo de Comunicação O POVO e editora-executiva do Digital e da editoria de Cidades. Tem especialização em Jornalismo Científico e é mestranda em Ciências da Informação, ambos pela UFC.

Um passo contra o jornalismo declaratório

Reportagem sobre os mil dias do Governo Bolsonaro nos mostra a importância de um material bem embasado, forte e crítico
Imagem que ilustrou o especial sobre os mil dias do governo Bolsonaro: reportagem incisiva e necessária (Foto: REPRODUÇÃO)
Foto: REPRODUÇÃO Imagem que ilustrou o especial sobre os mil dias do governo Bolsonaro: reportagem incisiva e necessária

Chegamos aos mil dias do Governo Bolsonaro no início da semana passada. E para fazer uma avaliação desse período, O POVO publicou uma ampla reportagem no OP , área de multistreaming do Grupo de Comunicação O POVO e parte do material na edição de domingo e outro episódio da série na última quinta-feira. Há ainda a promessa de mais quatro episódios (mais reportagens) sobre o assunto em outubro.

Um trabalho de fôlego. Que deve ter demandado muito tempo. Considero as duas primeiras reportagens que já tive acesso muito bem desenvolvidas e que nos trazem um vasto material sobre o Governo Federal. Um ponto que me chamou atenção foi a forma incisiva com que tratamos as ações do presidente do Brasil. Considero a forma crítica - com dados, informações importantes e análises - crucial para o jornalismo. Ali, em cada palavra mais dura contra o governo, havia uma série de fatos e dados objetivos analisados e expostos para o leitor. Quem leu o material, independente de ser contra ou a favor de Bolsonaro, recebeu um amplo dossiê sobre esses mil dias.

Gosto do material publicado até hoje por ele ter essa amplitude de vozes e dados que o respaldam. Por trazer não apenas informações e fatos soltos, mas alinhavados com análises e uma sólida investigação sobre o assunto. Não estamos mais no tempo do jornalismo declaratório. Esse jornalismo baseado unicamente em declarações oficiais está disseminado em todos os jornais do País. E deve ser rechaçado cada vez mais. É uma forma fácil de trazermos uma informação, já que apenas se reproduz uma fala oficial de um ente público. Mas não traz nada além. Para o leitor, o que importa mesmo seria a declaração com informações adicionais e análises embasadas. O jornalismo em sua pura essência, com apuração e discussão sobre o fato.

Transparência necessária

Por isso, fiquei tão feliz com a reportagem que abriu a série sobre os mil dias. Ali, consegue-se ver um grande trabalho de investigação, crítica, análise e memória. Recebi mensagens elogiando o material e outras o criticando. Como crítica, recebi a mensagem: "Vocês, que apoiam a corrupção, deveriam fechar as portas". Uma forma nada amigável de discutir um assunto. Considero que qualquer pessoa pode discordar de algo publicado e acredito que o diálogo seja a forma mais correta de colocarmos o nosso ponto de vista. Também recebi mensagens positivas: "Bom mostrar o que tivemos nesses dias de desgoverno. O mal que Bolsonaro faz a esse País não tem medida".

O jornalista Cláudio Ribeiro, repórter especial que assina essa matéria, diz que já imaginava que haveria reação por parte dos leitores. "Sabíamos que as reações contrárias ao material viriam, inevitavelmente. Escrevemos para que as pessoas leiam, reajam, concordem ou discordem, mas recebam as informações e mexam os músculos e a mente e se reprograme. É nosso papel".

Thays Lavor, editora-chefe do DataDoc, responsável pela produção da primeira parte dessa reportagem, destacou que a decisão de publicar um material mais forte foi realizada em conjunto com a equipe. "Nestes mil dias, houve um retrocesso de 20 anos em muitos direitos fundamentais, trabalhistas, ambientais. Os dados do Governo Federal estão aí, só nega quem quer. Então, diante disso, resolvemos fazer um material crítico e com análises fundamentadas em evidências, que foi o que nos guiou por todo o material", detalha a editora que é jornalista de dados e pesquisadora da área.

Ela explica ainda que foi criada uma "página de transparência", onde é explicado cada passo da investigação, os links, as bases de dados e todo caminho percorrido pelos jornalistas para a produção do material. "Além de uma questão ética, é uma forma de a gente mostrar ao nosso leitor as nossas decisões e os caminhos percorridos até chegar às evidências. Documentado desta forma, garantimos a transparência". Isso é bem importante. Mostra ao leitor passo a passo. Se há dúvidas sobre a publicação, é possível identificar de onde foi tirada a informação e sua veracidade.

"Quisemos mesmo que fosse algo crítico e claro. Já há um desequilíbrio há tempos, mas não da parte da imprensa, que tem mantido respeito à informação e à criticidade. Importante isso ser dito: fundamentalmente nos pautamos pelo jornalismo. Não inventamos, não é literatice nem ficção. É uma reportagem baseada em dados. Como está dito lá, tudo da apuração está auditável e transparente", reitera Cláudio Ribeiro.

Acredito que a forma como todo esse material foi pensado e publicado nos dá a segurança de que o caminho certo é sim esse jornalismo crítico, analítico e embasado. Essa reportagem nos mostra que é possível sim deixar o jornalismo declaratório de lado e investir no que realmente alimenta nossos leitores.

ATENDIMENTO AO LEITOR

DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA, DAS 8H ÀS 14 HORAS

"A Ombudsman tem mandato de 1 ano, podendo ser renovado por acordo entre as partes. Tem status de editora, busca a mediação entre as diversas partes. Entre suas atribuições, faz a crítica das mídias do O POVO, sob a perspectiva da audiência, recebendo, verificando e encaminhando reclamações, sugestões ou elogios. Ela também chefia área editorial focada na experiência do leitor/assinante e que tem como meta manter e ajustar o equilíbrio jornalístico a partir das demandas recebidas e/ou percebidas. Tem estabilidade contratual para o exercício da função. Além da crítica semanal publicada, faz avaliação interna para os profissionais do O POVO".

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