
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
A edição de sábado do O POVO trouxe a seguinte manchete: “Diferença salarial entre homens e mulheres avança no Ceará”. Segundo o jornal, a faixa salarial das mulheres cearenses é de R$ 2,764,64, enquanto os homens recebem, em média, R$ 3,079,17.
A notícia revela o retrocesso na luta política pela igualdade de gênero, promovendo uma rachadura no imaginário social, que há tempos é embalado pela ideia triunfalista de que os direitos das mulheres estão em um contínuo avanço. O crescimento da desigualdade salarial entre homens e mulheres suscita muitas reflexões e aprofundamentos.
Primeiro, devemos lembrar que, atualmente, as mulheres brasileiras superam os homens nos indicadores educacionais. Esse fato põe em xeque a Teoria do Capital Humano (TCH), um dos principais sustentáculos da sociedade capitalista.
Segundo a TCH, o incremento na escolaridade da população tem como consequência direta o desenvolvimento dos países e o incremento salarial de indivíduos. A teoria, no entanto, não considerou a dinâmica desigual da geopolítica, que interdita a democratização do desenvolvimento para todos os países.
Quando o foco é o salário de indivíduos, a TCH neutralizou os impactos de gênero e a carga histórica e estrutural do milenar sistema patriarcal, que ainda hoje produz desigualdades. Ainda que, no plano legal, o presidente Lula tenha sancionado a lei que garante igualdade salarial entre os homens e mulheres, a cultura machista insiste em rebaixar o nível salarial de mulheres.
É oportuno entendermos que a questão da desigualdade de gênero no mundo do trabalho é bem mais ampla e profunda do que a discussão salarial. As mulheres ainda manifestam dificuldade em ascender a cargos de liderança nas empresas. Quando analisamos a presença feminina nos setores econômicos, é visível a guetização das mulheres em áreas como: saúde, educação e serviços que reproduzem o trabalho doméstico que elas exercem em suas residências.
Segundo o site G1, 64% dos afastamentos por transtornos emocionais são de mulheres com uma média de 41 anos. Esse fato revela, de modo inconteste, a sobrecarga de mulheres que precisam equilibrar os pratos do mundo profissional com os trabalhos domésticos e de cuidado.
A cultura da objetificação do corpo feminino se traduz, no mundo corporativo, em elevados índices de assédio sexual - um crime contra a dignidade sexual que, muitas vezes, é silenciado pelo medo de perder o emprego.
A violência pode também sair do mapa do corpo e atingir o território psicológico, por meio de assédios morais, práticas de gaslighting, mansplaining, manterrupting, entre outros. O mundo do trabalho é um desafio para os trabalhadores em geral: os salários são baixos e as condições de trabalho são péssimas, contudo, para as mulheres, as dificuldades são ainda mais complexas.
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