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Razões para a menor taxa de fecundidade da história do Brasil
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É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos

Kalina Gondim comportamento

Razões para a menor taxa de fecundidade da história do Brasil

As explicações são inúmeras, contudo, não se pode deixar de elencar as mudanças sofridas pelo gênero feminino nas últimas décadas
Tipo Análise
Imagem ilustrativa de apoio. Pesquisa revela que Brasil, atualmente, tem a menor taxa de fecundidade da sua história
 (Foto: Pexels / Daniel Reche)
Foto: Pexels / Daniel Reche Imagem ilustrativa de apoio. Pesquisa revela que Brasil, atualmente, tem a menor taxa de fecundidade da sua história

Semana passada, os meios de comunicação divulgaram que o Brasil, atualmente, tem a menor taxa de fecundidade da sua história. O panorama aponta para 1,6 filhos por mulher, um índice muito abaixo das taxas verificadas em décadas passadas. A notícia veio consolidar a posição do Brasil como um país de população velha.

Essa constatação enseja debates e aponta para impasses econômicos e, principalmente, previdenciários, haja vista que cada vez menos pessoas irão contribuir e um maior número receberá benefícios.

Afinal, quais são as explicações para uma taxa de fecundidade tão baixa? O desemprego e o aumento no custo de vida fazem, indiscutivelmente, declinar a motivação em ter uma família numerosa. A violência, a decadência dos valores sociais e a falta de esperança no futuro também concorrem para uma menor taxa de fecundidade.

As explicações são inúmeras, contudo, não se pode deixar de elencar as mudanças sofridas pelo gênero feminino nas últimas décadas. A entrada no mercado de trabalho e o aumento na escolaridade das mulheres brasileiras, que hoje suplanta o nível de escolaridade dos homens, repercutiram numa verdadeira mudança de rota. O olhar e os desejos femininos têm buscado outros focos.

Um fator preponderante é o relógio, o tempo que as mulheres demandam para a maternidade, cada vez mais exíguo e comprimido por um trabalho de longas jornadas que exige um perfil qualificacional, superespecializado e em educação permanente.

As exigências do mercado de trabalho se unem aos trabalhos de cuidado e doméstico, trabalhos exercidos na esfera privada que não conhecem férias, finais de semana, remuneração e aposentadoria.

O ritmo frenético da sociedade do cansaço, conceito criado pelo pelo sul-coreano Byung-Chul Han, parece ter minado a vontade de gerar filhos; a desilusão com o presente atravessado por crises vindas de diferentes dimensões sociais, criam barreiras objetivas e existenciais para a procriação.

Precisamos reacender a fé na humanidade, pois esse é um bom incentivo para se ter filhos. E essa fé para florescer demanda mudanças nos objetivos que movem o mundo.

Precisamos pensar políticas de cuidado com a primeira infância e de empresas que não percebam a gravidez como um obstáculo da produtividade feminina. A decisão de ter filhos ultrapassa a esfera subjetiva, da vontade e da autonomia. Ela precisa ser encorajada por uma rede de apoio e isso demanda escolhas políticas.

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