
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos
Qualquer indivíduo que transite por Fortaleza, seja de carro ou a pé, percebe as inúmeras e impactantes mudanças efetuadas em nossa Cidade nas últimas décadas: o trânsito caótico, a pressa dos transeuntes, os transportes públicos abarrotados, o grave déficit habitacional corroborado pelo contingente populacional que habita as ruas, praças e avenidas da nossa cidade.
O aumento da população em situação de rua de um lado e, por outro, o fenômeno da favelização desnuda a negação do direito à moradia.
A habitação pode ser analisada por diferentes enfoques, na perspectiva de política pública, planejamento estatal e orçamento, e também como um espaço de privacidade, repouso, bem-estar e local onde são tecidas relações e memórias afetivas.
A violência onipresente em nossa cidade é fator determinante na arquitetura de casas e condomínios. As famílias buscam a sensação de segurança já perdida do lado de fora de suas casas.
O avanço tecnológico permite a existência de lares com segurança máxima: são muros cada vez mais altos, uso de alarmes, cercas elétricas, vigilância armada e cães de guarda.
Apesar de todos os equipamentos que buscam levar segurança ou, pelo menos, a sensação de segurança às famílias, o crime cada vez mais organizado consegue escalar os muros, cujos donos pensam ser intransponíveis.
As gangues juvenis que outrora levavam pânico às comunidades, hoje perante o poderio das facções, revelam-se inofensivas.
O fato é que o Estado não conseguiu solucionar os conflitos entre as gangues no passado e, atualmente, assiste à sua soberania interna ser constrangida por facções que ditam a lei nos territórios.
Esses grupos, de modo abrupto, expulsam famílias inteiras de suas casas, e essas, literalmente, sem teto, sem chão, precisam procurar outra moradia.
Mas para onde essas pessoas vão? Essa pergunta se desdobra em tantas outras e todas caem no silêncio.
A violência doméstica e familiar contra a mulher também expõe a interface entre violência e habitação.
Isso porque, em casos de violência familiar, é muito comum a vítima ser obrigada a sair de sua residência, pois sua permanência pode culminar em feminicídio. Consciente dessa situação, o Estado incluiu os aluguéis sociais como medida protetiva de urgência.
A relação entre violência e habitação aponta para o caráter de interdependência dos direitos fundamentais.
O direito à moradia foi reconhecido apenas no ano 2000, por meio de uma emenda constitucional, mas para ser plenamente assegurado, necessita de investimentos e ações que contemplem outros direitos, entre os quais a educação, a saúde, o transporte e a própria segurança.
Fortaleza é hoje a quarta capital do País em termos de população, uma metrópole com questões complexas que não podem ser solucionadas de forma fragmentada.
A Cidade se estrutura por meio de um planejamento e as pessoas que nela vivem devem ser vistas em suas singularidades de gênero, cor, faixa etária e classe social.
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