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A tragédia em Mariana 10 anos depois
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É doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisa agendas internacionais voltadas para as mulheres de países periféricos, representatividade feminina na política e história das mulheres. É autora do livro de contos

Kalina Gondim política

A tragédia em Mariana 10 anos depois

A tragédia em Mariana não é fruto dos planos da natureza, é, ao contrário, resposta de escolhas humanas equivocadas e criminosas
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O rompimento da barragem da Samarco, no município de Mariana (MG), ocorreu em 5 de novembro de 2015. Cerca de 39 milhões de metros cúbicos de rejeitos escoaram pela Bacia do Rio Doce. Dezenove pessoas morreram e houve impactos às populações de dezenas de municípios até a foz no Espírito Santo (Foto: © Antonio Cruz/ Agência Brasil)
Foto: © Antonio Cruz/ Agência Brasil O rompimento da barragem da Samarco, no município de Mariana (MG), ocorreu em 5 de novembro de 2015. Cerca de 39 milhões de metros cúbicos de rejeitos escoaram pela Bacia do Rio Doce. Dezenove pessoas morreram e houve impactos às populações de dezenas de municípios até a foz no Espírito Santo

Este ano o desastre ocorrido na cidade de Mariana completa uma década. O ocorrido na cidade mineira, apesar de impactante e emblemático, não foi o primeiro e nem será o último capítulo das tragédias que resultam da visão hegemônica que governa o mundo. O modelo econômico-social não conhece outra lógica, a não ser a de exploração humana e devastação ambiental.

O advento da globalização e com ela o estreitamento das relações entre os países vem amplificando as explorações percebidas na forma do trabalho escravo, infantil e precarizado.

É nesse mesmo quadro social que o meio ambiente é destruído e os efeitos dessa destruição ultrapassam fronteiras e povos.

A indiferença com a natureza está em uma cultura que valoriza apenas a mercadoria e o consumismo desenfreado. A tragédia em Mariana não é fruto dos planos da natureza, é, ao contrário, resposta de escolhas humanas equivocadas e criminosas.

O poder transnacional que promove conferências mundiais, relatórios e acordos internacionais em defesa da preservação ambiental é o mesmo que relativiza esses documentos, quando a sede por lucro grita alto.

Os efeitos da tragédia da cidade mineira são incalculáveis e muitos irão perdurar. As perdas são materiais, sociais, psicológicas, pedagógicas, entre tantas outras.

A reflexão que proponho é: o que aconteceu com as crianças que, naquela época, estavam em processo de alfabetização? E com os jovens que se preparavam para o vestibular? Qual seria o valor justo de uma indenização para quem perdeu tudo, ou quase tudo?

Para aqueles que, ainda hoje, precisam lidar com o medo e a hipervigilância decorrentes de um trauma que ultrapassa gerações e se perpetua de forma transgeracional.

Ao lado da perda de bens materiais, existem ausências afetivas, lembranças perdidas, fotos, animais de estimação perdidos, famílias separadas e, no horizonte, uma pergunta inescapável: quando estaremos seguros?

A resposta para esta pergunta está no provérbio indígena que afirma: "Somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro!"

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