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O Brasil mais violento é nordestino
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Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Magela Lima opinião

O Brasil mais violento é nordestino

.Maranguape pulou da oitava colocação para a liderança da lista de piores taxas, ao tempo que Caucaia e Maracanaú também passaram a figurar no topo do ranking
Tipo Opinião
EMPRESAS de internet são alvos de novos ataques de facções em Caucaia (Foto: Reprodução/Leitor Via WhatsApp O POVO)
Foto: Reprodução/Leitor Via WhatsApp O POVO EMPRESAS de internet são alvos de novos ataques de facções em Caucaia

Nos cinco séculos e um bocado de Brasil, passa de 100 anos já que o Nordeste ganhou forma e conceito. Mais que um recorte geográfico, a região é um emaranhado de sentidos. Ao longo desse tempo, uma tradição inventada se impôs, afirmando e revisando traços e valores. Há muito, somos lidos como violentos, bárbaros, aversos à ordem. Vestimos, com gosto, o traje dos cangaceiros. Agora, porém, esse cenário parece assumir uma configuração nova. O Nordeste violento não é mais dos parabelos e bacamartes, das cidades miúdas em terra batida.

Crescemos. Para o bem e para o mal. Hoje, o Nordeste concentra o recorte mais violento do Brasil. É o que diz o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no último dia 24 de julho. Enquanto a taxa de mortes violentas intencionais do País é da ordem de 20,8 casos por 100 mil habitantes, a menor desde 2012 conforme o estudo, o Nordeste registra expressivos 33,8 casos por 100 mil habitantes. Entre os 10 estados brasileiros mais violentos, cinco estão na região. Entre as 10 cidades com maiores índices de mortes violentas, o panorama é ainda mais grave e assustador: todas elas estão localizadas no Nordeste.

Maranguape, aqui na região metropolitana de Fortaleza, pode se envergonhar do título de cidade mais violenta do Brasil. Ali, são 79,9 mortes violentas por 100 mil habitantes. Em 2022, o indicador, alto, diga-se, era 40. Comparando a edição atual do anuário com a anterior, a situação do Ceará se complicou bastante. Ceará, na verdade, quer dizer, a gente, cada um de nós. Maranguape pulou da oitava colocação para a liderança da lista de piores taxas, ao tempo que Caucaia e Maracanaú também passaram a figurar no topo do ranking. Metade das cidades que fazem divisa com a capital está entre as mais violentas do Brasil.

Na Bahia, a violência tem se mostrado resiliente. Jequié, Juazeiro, Camaçari, Simões Filho e Feira de Santana seguem na dianteira dos índices. O estado é o segundo em número de mortes violentas do País, ficando atrás apenas do Amapá. São 40,6 casos por 100 mil habitantes. Além da escalada da violência no Ceará, Pernambuco também apresentou movimentação preocupante. Em 2024, as cidades pernambucanas não ocupavam destaque. Agora, Cabo de Santo Agostinho e São Lourenço da Mata aparecem com taxas que superam 73 mortes violentas por 100 mil habitantes.

É bem verdade que os números de homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e letalidade policial com os quais o Anuário Brasileiro de Segurança Pública constrói suas estatísticas não abarcam tudo o que se pode entender como violência. De todo modo, o alerta está dado. Para o bem do Nordeste e do Brasil, há que se mudar esse traçado da história.

 

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