Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Magela Lima é jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Na história do teatro, são muitos os desejos envolvidos na decisão de abrir uma sala ou uma casa de espetáculos. No Brasil, desde o século XVIII, o que se tem visto é o cruzamento de interesses os mais variados, nem sempre pautados por uma provocação de natureza propriamente artística. Dito de outra forma: nem todo teatro nasce para receber uma cena anterior, carente de um palco para chamar de seu. Teatros nascem para ornar cidades, teatros nascem para elevar valores moreis e nascem também - muitas vezes, inclusive - simplesmente por nascer.
Contrariando esse panorama, o Teatro Carlos Câmara (Rua Senador Pompeu, 454 - Centro, Fortaleza) veio ao mundo com um plano muito bem traçado. Inaugurado em 5 de outubro de 1974, reinaugurado em 5 de setembro de 2012 e (re)reinaugurado no último dia 5 de novembro, o equipamento abriu suas portas já com a coxia e a plateia ávidas pelo momento do encontro. Da lavra do gigante Haroldo Serra, o Carlos Câmara surge para abarcar uma criação e uma geração para as quais o Theatro José de Alencar, de 17 de junho de 1910, havia ficado, por incrível que pareça, pequeno.
Seu Haroldo viveu na própria pele o esforço de dotar o teatro em Fortaleza de uma dinâmica menos esporádica. Ele sonhou com companhias estabelecidas, criou sua Comédia Cearense em 1957, brigou para regularizar temporadas para os espetáculos locais, vibrou com a possibilidade de formação continuada de novos artistas. Fato é que, na década de 1970, para alegria de Seu Haroldo e outros santos rebeldes como ele, havia mais teatro em Fortaleza do que o velho José de Alencar era capaz de comportar. Isso, sem contar, o que, frequentemente, mambembava entre nós.
Assim, o Carlos Câmara nasce com o compromisso de receber e difundir não um teatro qualquer, mas um teatro em franco e deliberado processo de experimentação. O Carlos Câmara era o teatro público possível para quem estava começando trajetórias e projetos, era o teatro público onde o risco, o improviso, o novo, enfim, eram possíveis e intensamente desejados. O Carlos Câmara, estrategicamente, servia como vitrine ao que ainda era da ordem do processo, da elaboração.
A geração da década de 1970, politicamente aninhada em torno da tese do teatro independente, fez ali sua morada. De algum modo, a filiação poética desse movimento ainda pulsa na cidade e pode voltar a ocupar o (re)reinaugurado Carlos Câmara. Garantir possibilidade de criação e circulação ao que ainda não se entende por acabado e definitivo é de um valor simbólico imenso. O Carlos Câmara de hoje pode - e deve - encontrar o de ontem, sem medo de errar, permitindo que os artistas e seus públicos se arrisquem e se deslumbrem diante do novo, que tarda, mas sempre vem.
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