CEO do Instituto Monitor da Democracia e membro do Conselho Superior da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, Espanha
.A preços de hoje, Lula é o favorito claro e o Centrão, com seu pragmatismo característico, tem criado condições para que o Planalto siga pintado de vermelho pelo menos até 2030
Foto: ALEX GOMES
Centrão esteve presente em várias das manifestações
Em um movimento que expõe as complexas e pragmáticas engrenagens do poder em Brasília, o bloco parlamentar conhecido como Centrão tem sido, paradoxalmente, um dos maiores aliados do governo Lula na construção de sua campanha à reeleição em 2026. A retórica ocasionalmente antiplanalto de seus partidos dissipa-se quando o assunto é a aprovação de uma enxurrada de benesses sociais e medidas fiscais que, juntas, presentearão o presidente com aproximadamente R$ 252 bilhões para aquecer a economia no auge do período eleitoral.
A estratégia é clara: bombear recursos na economia para criar uma sensação de bem-estar e amenizar qualquer desaceleração, tornando o caminho para a vitória no primeiro turno significativamente mais fácil. Programas como o Gás do Povo (1 botijão a cada dois meses para 15,5 milhões de famílias), o Pé-de-Meia (poupança para 4 milhões de estudantes) e a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5.000 (beneficiando 10 milhões) não são meras políticas públicas, são as novidades de vitrine da campanha petista, com data de estreia marcada de acordo com o calendário eleitoral.
O apoio do Centrão, no entanto, vai além da expansão de gastos. Nos últimos dois anos e meio, congressistas alinhados a esse bloco foram cruciais para aprovar reformas que fortalecem o caixa do governo, garantindo a sustentabilidade fiscal para bancar esta onda de gastos. O novo arcabouço fiscal, a reforma tributária, a taxação de offshores e fundos exclusivos, a retomada do voto de qualidade no CARF e a taxação das apostas esportivas são exemplos de medidas que, em tese, aumentam a arrecadação e dão mais controle ao Executivo sobre o orçamento.
Este cenário coloca a oposição, particularmente a direita, em situação desconfortável. Com Bolsonaro inelegível, o nome mais forte é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ironia das ironias, Tarcísio, que emerge como principal representante do Centrão no executivo estadual, alertou que evitar esta "derrama de benesses" era essencial para sua própria viabilidade como candidato presidencial - uma possibilidade que ele agora descarta. Na verdade o governador está diante de um dilema: desafiar um presidente armado com uma máquina de R$ 252 bilhões - dos quais R$ 175,7 bi em programas sociais diretos, R$ 31,3 bi em isenção de IR e outros R$ 21,87 bi em subsídios - ou recuar e aguardar por uma janela de oportunidade que pode não se abrir.
A conclusão é inescapável: a preços de hoje, Lula é o favorito claro e o Centrão, com seu pragmatismo característico, tem criado condições para que o Planalto siga pintado de vermelho pelo menos até 2030.
É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.