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Óculos solares: uma serventia quase eternal
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Óculos solares: uma serventia quase eternal

Armações dizem um pouco de cada personalidade. O fashionismo, na ocularia, é algo muito novo. Num passado, não tão remoto assim, um par de óculos solares tinha uma serventia quase eternal
A Cartier prima por predicados como durabilidade, acabamento e apresentação. Porta óculos de couro, de bolso, com apliques dourados e o tradicional friso dourado da joalheria, encimando a caixa vermelha (Foto: ETHI ARCANJO)
Foto: ETHI ARCANJO A Cartier prima por predicados como durabilidade, acabamento e apresentação. Porta óculos de couro, de bolso, com apliques dourados e o tradicional friso dourado da joalheria, encimando a caixa vermelha

O nicho óptico é um filão, que movimenta alguns Ks. Eu, tu , ele, nós, vós eles usam. Armações dizem um pouco de cada personalidade. O fashionismo, na ocularia, é algo muito novo. Num passado, não tão remoto assim, um par de óculos solares tinha uma serventia quase eternal. Mas a intelligentsia da moda é extremamente eficaz. Ou seria eficiente?

Um exemplo, da demanda de estilo, gerada no ambiente trend, são as lapelas. Estas convergem com as gravatas em largura. Outro traço do reivencionismo no mundo voguish são as modelagens, as estampas e as pregas, que reeditam-se sazonalmente. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades." Essa é da autoria do viúvo de Tin Nam Men, L.V. de Camões.

Efetivamente, o segmento em questão é um braço indispensável, um rentável gancho para as grifes, um marketing operoso para os maestros da criação, esses sinalizadores de tendências.

O surgimento dos óculos deu-se depois de Cristo, no Século I. Mercadores chineses usavam lentes de Jade, para que as pupilas não revelassem seu interesse por dada mercadoria. O acessório denominado como "pedras de visão" era fabricado com Berilo de Cristal de Rocha laminados. Esquimós foram os primeiros "clientes" das óticas.

Eis o axioma: depois dos 40, é difícil escapar deles

Não falarei do famoso modelo da Chopard, acho uma pauta bizantina, não acrescenta. Citarei icones da temática à baila, mas aviso que meu cup of tea é o bespoke, o made to measure.

Aviation Ray-Ban - O modelo é um cult e um must have entre os aficionados de todos os sexos. Lembra as lentes, de esmeralda, usadas por Nero. Nasceu de uma demanda aeronáutica, em face dos incômodos dos ventos, que incidiam no cockpit, e dos inclementes raios UV. É o dna da Baush Lomb, empresa novaiorquina, com raízes germanas (um povo versado na oftalmologia, outrora, expertos em próteses).

Moscot - Uma norte-americana, que já vai na 5a. geração. Eu me pergunto como uma centenária mantêm-se tão atual e com tanta competência? Aqui, um antigo e fiel utente da Moscot é Alexandre Pitta e foi, por ele, que a conheci. A eleita da grife é a Miltzen, que pode ser lincada ao luminar da Pop Art, Andy Warhol.

Persol - Italianíssimo. Esse povo da bota tem muito estilo. Conseguem o inesperado, ao usar uma calça linho vermelha com camisa de cambraia branca e espadriles. Um acessório à altura é o Persol. Bravo! Nadinha de logomarca chamativa. Quem conhece, identifica de longe a empresa, de Giusepe Ratti, já passou dos 100 anos. Fundada na piemontesa Turim, é outra que veio para satisfazer os anseios da Aeronautica Militare e dos pilotos. O que mais catalisou, cabe no tempo presente, foi o no.649.

Cartier - Prima por predicados como durabilidade, acabamento e apresentação. Destaco a flanelinha, a caixa, o porta óculos de couro, de bolso, com apliques dourados e o tradicional friso dourado da joalheria, encimando a caixa vermelha. O senão, de muitos modelos, para mim, é a logo em formato de "C'. Cunho pessoal: abranding é, e sempre foi, o códice dos elegantes. Um dos lançamentos homenageia Jeanne Toussaint, a pantera de Louis Cartier, sempre lembrada, inclusive em filme, com o colar de Oito Mulheres e Um Segredo. Aqui, nos idos 1990, o caçador foi uma febre. Gosto não se discute.

Masunaga - Tem algumas bandeiras que, quando as vejo em determinados produtos, dispenso prospectos e bulas. Falo da bandeira alemã, do carré suisse e do pavilhão japonês, pois são mestres em know-how. Masunaga é do Crisântemo e foi fundada em 1905, em Fukui. Tornou-se referencial, no ramo da ótica, em razão das várias etapas, que obedecem ao seu ritual de produção. Pure craftmanship. A quinta geração Masunaga, que começou com o antepassado de nome Gonzaemon, ratifica a internalização da produção, tendo como base o processo hand made, mesmo este significando acréscimo nos custos.

Silhouette - Insuperáveis nos quesitos: leveza, conforto e flexibilidade. Feitos na Áustria, desde 1964, suas concepções são caraterizadas pelo desbaste e pela simplicidade nas linhas, signos do Minimalismo. A discrição é uma constante em seus catálogos. Voguish sem nenhum esforço.

Tom Davies - Súdita da rainha, trabalha by appointment. Por meio da customização, faz com que cada armação seja única, sendo essa a conquista da clientela inglesa, sponsor de seu passaporte para o Oriente. Davies defende que "gastamos mais tempo decidindo a compra de um par de sapatos, do que escolhendo uma armação, que será usada pelo ou menos por 3 anos".

Maui Jim - Destacou-se no mercado pela tecnologia, através (brincando com o vernáculo) de suas lentes que traduzem cores que outras não conseguem captar. A empresa foi fundada em 1980, no Havaí. Faz um bom jogo entre tecnologia e estilo, com uma pegada bem fashionable.

E. B. Meyrowitz - Escolha: ready to wear ou sob medida. É uma parisiense muito tradicional, com efetivas participações na aviação (Charles Lindbergh e Amelia Eahart), no automobilismo (Grande Premio de Mônaco, 500 Milhas de Indianápolis, Le Mans e Mille Miglia) e no Montanhismo ( expedições ao Monte Everest). E.B. são as iniciais de Emil Bruno Meyrowitz, o patriarca fundador(1875). Meyrowitz encaixa-se numa das minhas definições de luxo: excelência em artesania.

The last, but not the least, a Maison Bonnet - Profissionais da ocularia, sob medida, atuando depuis 1930. O upper crust são as armações de tartaruga. Mesmo proibidas, a M. Bonnet ainda possui um antigo estoque de cascos, regularizado e fiscalizado pelas autoridades francesas. Por certo que Jackye e Onassis tinham conhecimento e, por conseguinte, acesso, mas a credencial veio de um senhor chamado Charles Edouard Jeanneret-Gris, Le Corbusier e, a posteriori, por um EPV do establishment française.

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