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Uma revolução de Flores e livros
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Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.

Uma revolução de Flores e livros

Quem sabe existam centenas de livrarias espalhadas pela Capital, todas discretas. Gostaria muito de crer nessa última hipótese, pouquíssimo provável
Tipo Crônica
Livraria Lamarca (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo Livraria Lamarca

“Onde estão as livrarias de Fortaleza?”, fiz a pergunta ao Google. Descontadas as papelarias e os sebos — que por sinal adoro —, a resposta veio na pequena lista com cerca de dez estabelecimentos. Apenas. Talvez eu não tenha perguntado direito ou o navegador esteja mal informado.

Quem sabe existam centenas de livrarias espalhadas pela Capital, todas discretas. Gostaria muito de crer nessa última hipótese, pouquíssimo provável. Ainda mais se elencarmos os recentes fechamentos da Nobel, da Saraiva, da Cultura, da Lamarca, entre outras.

Representante solitária dos conglomerados dedicados ao negócio do livro, a Leitura mantém lojas nos grandes shoppings da cidade.

Fora deles, resistem poucas livrarias de rua, a maioria no Centro, como a Arte & Ciência, sem esquecer a Substância, na Praia de Iracema – Dragão do Mar. Desse levantamento superficial com o status “em atividade”, cito a Edésio, uma das pioneiras no ramo, fincada no Center Um, em cuja inauguração, em 1974, constava a Feira do Livro, histórica como a Alaor, esta aberta na década de 1920, enquanto a Feira abriu em 1956.

Depois de 60 anos de atuação, a Feira do Livro fechou em 2016. De princípio foi banca de revistas, na Praça do Ferreira, depois instalada em livrarias na Floriano Peixoto e na Liberato Barroso, nos anos 50, para finalmente se transferir, após vinte anos, àquele que se anunciava como o primeiro shopping cearense.

No seu início, ela foi visitada por Jorge Amado e Jean Paul Sartre. Soube disso ao conhecer pessoalmente Mileide Flores, mais do que a proprietária, expoente de uma família de forte militância na nossa cena cultural. Eu já a acompanhava, na admiração espontânea por seu trabalho consistente em prol de um Brasil leitor, de cidadãos cônscios, no pleno exercício do direito à literatura, básico ao ser humano, e aqui evoco — não poderia ser diferente — Antonio Candido.

A oportunidade de ver de perto os olhos azuis de Mileide veio ao aceitar o seu convite para compor, com Ademario Payayá e Patrícia Cacau, uma mesa na XV Bienal Internacional do Livro do Ceará.

O encontro se desdobrou na posterior gravação de um podcast com Erika Sales, sócia da Reboot Comic Store, especializada no universo dos quadrinhos, mangás, paraíso nerd e geek, além de Alan Mendonça, escritor, editor, compositor, dramaturgo, e a mediação coube ao poeta, editor, livreiro, curador de eventos literários, também criador da Biblioteca Comunitária Livro Livre Curió, Talles Azigon. Aí uma epifania respondeu à questão motriz desta crônica: estão neles!

As livrarias de Fortaleza vivem na Erika, no Alan, no Talles, em Mileide, em mim, nos que amam os livros e não se conformam com a escassez de espaços que privilegiem a leitura. É preciso ampliá-los para além de nós. E ao nos reunir por uma mesma causa, um movimento poderoso ganha impulso, quer ser revolução de Flores e livros vencendo os canhões.

Foto do Marília Lovatel

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