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Presidente do BNB: uma entrevista em clima de nordestinidade e visão inovadora para o banco
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Jornalista, colunista de Economia da rádio O POVO/CBN; Coordenador de Projetos Especiais do Grupo O POVO DE COMUNICAÇÃO; Co-Autor do livro '50 Anos de Desenvolvimento Industrial do Ceará' e autor dos 'Diálogos Empresariais', dois livros reunindo depoimentos de líderes empreendedores do Estado do Ceará

Presidente do BNB: uma entrevista em clima de nordestinidade e visão inovadora para o banco

O Banco do Nordeste vai trabalhar no sentido de melhorar seus sistemas e processos, oferecer agilidade nas entregas - queixas antigas dos nossos clientes e potenciais clientes
Tipo Notícia
Entrevista do jornalista Nazareno Albuquerque com o presidente do BNB, José Gomes da Costa (Foto: Fernando Cavalcante/Divulgação)
Foto: Fernando Cavalcante/Divulgação Entrevista do jornalista Nazareno Albuquerque com o presidente do BNB, José Gomes da Costa

O novo presidente do Banco do Nordeste, José Gomes da Costa, abriu sua agenda para uma entrevista exclusiva comigo. Agendada com os cuidados protocolares, ela perdeu suas formalidades nos cumprimentos iniciais. O clima burocrático que sempre permeou as audiências dos presidentes da instituição (Camilo Calazans e Roberto Smith foram a meu ver os mais formais) foi quebrado logo na chegada. Gomes veio me receber com um informal sorriso e tapinha nas costas.

Gomes é de Salgueiro-PE, o penúltimo de sete filhos de uma humilde família de agricultores. Começou a entrevista me dizendo o quanto o impressionou ao assumir o cargo perceber o carinho dos nordestinos pelo banco. "Um aconchego do grande ao micro empresário, da imprensa, de todos. Uma grande benquerença". Isto nos dá um aumento de responsabilidade gigante, interna e externamente, disse.

A partir desse ponto, Gomes abriu uma autocrítica "muito grande" sobre a importância de avançar na melhoria da qualidade no atendimento, uma queixa antiga do mercado regional e sempre deixada de lado pelas gestões anteriores. O Banco do Nordeste vai trabalhar no sentido de melhorar seus sistemas e processos, oferecer agilidade nas entregas - queixas antigas dos nossos clientes e potenciais clientes.

PARCERIAS TECNOLÓGICAS

Por essa razão, o colegiado da diretoria tem concentrado seu alvo no aumento da eficiência da instituição, adianta Gomes. E revela: estamos abrindo parceria com uma das mais eficientes instituições em avanços tecnológicos da região, que é o Porto Digital. Temos mantido encontros com Silvio Meira e equipes do Porto em busca de alcançar avanços competitivos num mercado cada vez mais agressivo.

Observa com autocrítica o presidente do BNB: há décadas a instituição tem trabalhado para financiar as empresas nordestinas, abrimos contas de depósitos de repasse, mas na hora de se tornar operacional, essa conta não tem a contrapartida dos clientes tomadores. E por que não tem?

A resposta: carecemos de velocidade, de tecnologias que nos tornem competitivos e com atendimento de qualidade para as grandes e médias empresas. Por conta disso, os clientes acabam indo pegar os recursos mais caros dos bancos privados (lá não tem FNE), por conta de demora no nosso atendimento.

"Por inusitado que pareça, a operação comercial nossa de maior rentabilidade para o banco é o microcrédito. É na mudança desse paradigma que estamos trabalhando com parceiros tecnológicos e de sistemas bancários, de modo a nos tornarmos atraentes para uma grande ou média empresa, como por exemplo, deixar conosco a sua folha de pagamentos de pessoal. O que já ocorre com o microcrédito, que tem operações de capital de giro operando com PIX do próprio banco", disse.

"Queremos a curto prazo ser um banco com aplicativo no celular dos nossos clientes, operando CDC, por exemplo". Deus e o mundo no Nordeste sabem disso, mas esta é a primeira vez que um presidente do BNB faz essa autocrítica. Talvez porque seja remanescente do seu quadro de colaboradores. Um presidente de raiz e sem gravata.

RECURSOS DO BNB

José Gomes da Costa recebeu o jornalista do O POVO na sede do BNB(Foto: Fernando Cavalcante/Divulgação)
Foto: Fernando Cavalcante/Divulgação José Gomes da Costa recebeu o jornalista do O POVO na sede do BNB

A vocação do banco sempre foi a de ser, há 70 anos (comemorados em julho), o principal agente financeiro de desenvolvimento do Nordeste. Mas, curiosamente, sem dispor dos chamados recursos estáveis, até a chegada do FNE que lhe deu sustentação e oportunizou finalmente recursos de crédito não só para investimentos, como também para capital de giro, comentou.

De fato, o fundo deu um grande impulso em financiamentos a investimentos na região. Somente em 2021, foram mais de 650 mil operações, que somaram R$ 26 bilhões. Sobre a notícia que o Governo Federal retirou recursos do FNE para bancar a estruturação de um fundo para PPPs (Parcerias Público Privadas), o presidente do BNB nega de diz que a informação não passava de especulação.

Resultado: o BNB esgotou o seu potencial de recursos do FNE para 2022 para infraestrutura, insuficientes a esta altura para aprovar e financiar projetos estruturantes, como por exemplo os de energia eólica e solar, que consumiram um terço dos recursos. Sem falar nas altas demandas por financiamentos para projetos off shore em fase de consultas e, por consequência, os de geração de energia verde. Isso significa que há uma limitação para atendimento no crédito para infraestrutura. Nos outros segmentos ainda há recursos.

CAMINHOS DO BNB PARA ATENDER À DEMANDA POR CRÉDITO

Nessa quinta-feira, a diretoria do Banco do Nordeste esteve no Rio para uma reunião com dirigentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES. Vou lhe dizer em primeira mão a agenda, disse ele: construirmos negociações para a formatação de um fundo de financiamento, e assim compensar as limitações dos recursos do FNE.

Ou seja: o Banco do Nordeste pode ter uma operação que atenda de fato as demandas por crédito para o desenvolvimento na Região. E mais: a disponibilização de recursos que possam baratear o micro crédito, atualmente atrelado ao CDI, reduzindo a atual taxa de juros de 3,5% para 1,6%.

Estamos conversando com diferentes parceiros nessa direção, disse Gomes da Costa, referindo-se como exemplo à criação de fundings que possam atender aos novos investimentos previstos para o Nordeste, em especial o setor de Energia. Temos parceria com a Vince Partness, por exemplo, que nos assessora nesse objetivo, acentuou.

INOVAÇÃO, COM ESTRATÉGIAS E AÇÕES RÁPIDAS

O novo presidente do BNB alterou seu tom de voz e postura pessoal quando lhe perguntei sobre políticas de inovação do banco no seu mandato.

Empolgado, revelou: O banco tem hoje dois focos de curto prazo. O primeiro, na melhoria dos processos. Se por um lado somos eficientes no microcrédito e um dos melhores da América Latina, realizando uma operação pelo celular com quatro ou cinco dias, por outros canais de crédito nossas respostas chegam a quarenta dias, o que é inaceitável.

"Estamos portanto desenvolvendo um piloto já em teste que migra todo o crédito orientado (Crediamigo e Agroamigo) para a plataforma de microcrédito do banco, com agilidade na entrega. A outra plataforma que vamos mudar passa por processos de agilização que nos permitam atingir a velocidade das fintechs, e o Porto Digital será nosso parceiro com as 400 empresas que lá desenvolvem soluções tecnológicas. Outro processo que estamos inovando é o que roda as demais operações do banco. Alguns processos do BNB ainda são analógicos. Não dá mais para esperar por soluções que duram até dois anos, esperando uma licitação. Porque essas soluções já existem no mercado. A metodologia portanto será de inovação, em busca do estado da arte que já existe."

A INTERNALIZAÇÃO DO CREDIAMIGO

Sobre a internalização do Crediamigo, o presidente Gomes da Costa diz: "Já foi suficientemente testado e aprovado nesses vinte anos e não mais justifica ser operado por terceiros contratados", disse ao responder minha pergunta sobre os aspectos políticos dessa gestão que terminou por derrubar o ex-presidente Romildo Rolim.

Mas acrescentou: pela nossa ótica, o Crediamigo deve ser mais do que uma política de microcrédito orientado, mas "um programa de crescimento social e econômico, de transformação e economia criativa sustentável".

Nessa visão, constatamos que o Crediamigo sozinho não conseguiu como política social reduzir a miséria na Região, e olhe que foram bilhões de recursos financiados a milhões de nordestinos. Vamos ter de olhar, nesse mecanismo do Crediamigo, questões como a educação das futuras gerações do semiárido, concluiu.

Atualizada às 18h50min para esclarecer sobre recursos do FNE

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