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Um lindo domingo de cabelos brancos nos diz que estamos envelhecendo: já somos 30 milhões
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Jornalista, colunista de Economia da rádio O POVO/CBN; Coordenador de Projetos Especiais do Grupo O POVO DE COMUNICAÇÃO; Co-Autor do livro '50 Anos de Desenvolvimento Industrial do Ceará' e autor dos 'Diálogos Empresariais', dois livros reunindo depoimentos de líderes empreendedores do Estado do Ceará

Um lindo domingo de cabelos brancos nos diz que estamos envelhecendo: já somos 30 milhões

A população brasileira acima de 60 anos já ultrapassa 30 milhões, um crescimento de 18% em cinco anos segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE
Tipo Opinião
A observação de um jornalista numa tarde de café (Foto: Nazareno Albuquerque)
Foto: Nazareno Albuquerque A observação de um jornalista numa tarde de café

Domingo passado busquei uma cafeteria, para rolar conversas triviais com amigos. Como antigamente. Observo, entre as mesas ocupadas, a surpreendente frequência de idosos na companhia de filhos e netos. Um ambiente cinzelado por cabelos brancos em todas as mesas, como nas cafeterias italianas e inglesas. Cogitei que o IBGE estava certo: nossa população está envelhecendo, e eu sou um deles.

Começo da tarde escolhi um restaurante para almoçar e confirmar a minha curiosidade. Escolhi um dos mais antigos da cidade, daqueles com garçons com mais de 30 anos de casa, ansiosos que o dia termine porque as pernas já não resistem a jornada sem reclamar. Do mesmo modo que na cafeteria, o domínio dos idosos com seus cabelos brancos era absoluto no ambiente.

Esses sinais demográficos indicam que a cidade precisa aplicar com severa observância aquilo que já está na lei: acessibilidade. Em ambos espaços gastronômicos frequentados, alguns acessos eram difíceis para idosos com deficiência de locomoção: piso deslizante, acesso por escadas, banheiros sem apoio adequado, cardápios digitais inadequados para esse público.

Mas o bonito mesmo foi ver o quanto consomem, da roupa bem vestida aos adornos, penteados bem fixados e suaves tons de preto, sapatos bem cuidados e algumas vovós com elegantes tênis de passeio. Os homens, menos cuidadosos nas aparências, bermudas vencidas e camisetas relaxadas. E sandálias havaianas.

Já são 30 milhões de brasileiros

Não vai demorar para as cidades exigirem serviços em massa para idosos. A população brasileira acima de 60 anos já ultrapassa 30 milhões, um crescimento de 18% em cinco anos segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE.

A sobrevida média dos idosos com família na faixa AB de renda aproxima-se dos 90 anos, ficando aos 80 anos as expectativas nas classes C/D, lembrando aos governos urgentes políticas e serviços. 

Cito prevenção para a redução de vulnerabilidades, casas de acolhimento adequadas, formação de geriatras e cuidadores (já são cinco milhões no Brasil nessa ocupação), sem falar nos aspectos de vitimização e maus tratos nos espaços públicos e até mesmo em casa, as aposentadorias indecentes para os trabalhadores urbanos e rurais, a requererem muito brevemente atenção social, profissionais de saúde e polícias especializadas, altamente treinadas para essa missão, como ocorre em vários países do primeiro mundo, com boas políticas voltadas para aqueles abençoados pela longevidade.

Enquanto isso me fica na lembrança o cenário civilizado do convívio entre crianças, jovens, adultos e idosos, tomando sucos, vinhos e cervejinhas autour de la table. Um convívio dominical que, sob o olhar de um jornalista curioso, vai muito além da alegria daquele momento, quando o retrovisor lhe faz lembrar que as desigualdades formatam outra realidade para a maioria, mais cruel, sem dúvidas.

Foto do Nazareno Albuquerque

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