Emprego formal x auxílio: a pobreza congênita do nordeste
Jornalista, colunista de Economia da rádio O POVO/CBN; Coordenador de Projetos Especiais do Grupo O POVO DE COMUNICAÇÃO; Co-Autor do livro '50 Anos de Desenvolvimento Industrial do Ceará' e autor dos 'Diálogos Empresariais', dois livros reunindo depoimentos de líderes empreendedores do Estado do Ceará
A pobreza de uma sociedade pode ser contada de diversas maneiras. Na economia, são os dados que nos dão retratos precisos, e a cores. Nada mais doloroso do que os recentes números em infográficos, divulgados pelo Grupo para o Desenvolvimento Estratégico do Nordeste, sobre o cenário comparativo entre Emprego com Carteira Assinada e o Auxílio Brasil - e como consequência pobreza e desalento, desigualdade e fosso social.
Os números do estudo do grupo de mestres e doutores coordenados pela prof. Dra. Tania Bacelar revelam que o número de nordestinos cadastrados no Auxílio Emergencial supera hoje o de trabalhadores com carteira assinada: eles são em média 20% a mais em toda a região, confirmando um quadro dramático e congênito de pobreza. Os números totais são de 6.235 mil conterrâneos com a "azulzinha" na mão, contra 8.110 mil socorridos pelo Auxílio Governamental. No nosso Ceará, são 1.299 mil Auxílios contra 1.198 mil com ocupação sob o regime da CLT.
A COVID 19 e o consequente baque geral das atividades econômicas explicam esse desastroso cenário de pobreza da economia regional, observa o prof. Osmar de Sá Ponte, membro do grupo de estudo.
Os serviços, responsáveis em grande parte pela ocupação urbana da mão-de-obra, encerraram suas atividades durante meses; a indústria da construção civil, sempre com bons indicadores de emprego, desabou nos indicadores; a micro e a pequena empresas caíram em endividamento recorrendo aos empréstimos emergenciais. Tudo somado aguçou a informalidade. O auxílio Brasil funcionou como um colchão amortecedor entre a pobreza e a miséria estruturais.
A DISTORÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO
Nitidamente o Auxílio Brasil distorce as estatísticas do mercado de trabalho na região, aflorando a imoralidade da sobrevida de seis milhões de nordestinos pelo assistencialismo governamental provisório (garantido até 31/12, passado portanto o segundo turno das eleições). Como efeito dessa química legislativa, ressurge com força o emprego informal, acoitado sob o manto do auxílio governamental (quem arranja emprego formal, perde o direito).
O Nordeste, enquanto isso, continua sendo um desafio para suas lideranças e instituições de desenvolvimento. Um laboratório da miséria que as políticas públicas não conseguiram mexer com seus indicadores sociais. Somente pelo Crediamigo foram R$ 96,8 bilhões nos últimos vinte anos. Suficientes para construir dez transposições do São Francisco, ou 15 ferrovias transnordestinas. E, de quebra, mais 40 institutos federais de educação.
O LADO VERGONHOSO DA DESIGUALDADE
Esse quadro propiciado pela equipe de mestres e doutores coordenada pela Dra. Tania Bacelar, nos oferece também um golpe mortífero. O golpe da vergonha das desigualdades regionais. Nas regiões Sudeste e Oeste do Brasil, nenhum Estado tem menos emprego formal do que o de inscritos no Auxílio Brasil. Em São Paulo, são seis empregados com a "carteira azul" para cada um inscrito no Auxílio Brasil; em Santa Catarina, são doze "azulzinhas" para cada auxílio; quatro formais pra um auxílio, em Goiás.
Desde os anos 50 do século passado, com Rômulo de Almeida e Celso Furtado, o Nordeste peleja pela sua dignidade econômica e social. Respeito. Renda. Não mudamos o quadro. Precisamos voltar a cantar Luiz Gonzaga, ou iremos "viciar o cidadão".
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