Logo O POVO+
Maria da Conceição Tavares e sua herança
Foto de Neila Fontenele
clique para exibir bio do colunista

Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.

Maria da Conceição Tavares e sua herança

Maria da Conceição fará mais falta ainda: há um vazio nos discursos econômicos, normalmente limitados por avaliações monetárias e financeiras
ECONOMISTA e professora Maria da Conceição Tavares (Foto: ANTONIO CRUZ-ABR                    )
Foto: ANTONIO CRUZ-ABR ECONOMISTA e professora Maria da Conceição Tavares

Começo esta coluna com um lamento: perdemos Maria da Conceição Tavares. A economista, matemática, ex-deputada federal e escritora luso-brasileira deixou o plano terrestre no sábado após uma longa jornada de defesa intransigente de uma política desenvolvimentista. Militou na economia, na política e na educação; era boa de briga e comprometida com a construção de um Brasil menos desigual.

Ela falava com os números, mas também com o coração e a alma, e sabia dos impactos da economia na vida das pessoas. Por essa razão, em vários momentos, vociferou contra os arrochos salariais, não sucumbindo ao discurso ortodoxo de que valia tudo para o controle da inflação. Errou na sua avaliação do Plano Real, mas acertou em vários outros momentos, quando defendeu uma economia voltada para atender os interesses da população.

Maria da Conceição fará mais falta ainda: há um vazio nos discursos econômicos, normalmente limitados por avaliações monetárias e financeiras, os quais não englobam com profundidade o impacto social. A professora ajudou a formar gerações de economistas, mas infelizmente não deixou herdeiros para a luta com a sua energia.

DISCURSOS POBRES

Os embates políticos e econômicos estão cada vez mais pobres: limitados por velhos estigmas das áreas da esquerda e da direita, quando são necessários mergulhos nas possibilidades dos impactos gerados. Só um exemplo para não esquecer o assunto: vivemos um momento de consciência sobre as mudanças geracionais, e as propostas para a melhora financeira do INSS são terríveis para os seus beneficiários. Esse é só um dos problemas que desafia o pensamento político e econômico contemporâneo - diferente da visão de Maria da Conceição Tavares, que esbravejava na defesa de uma economia mais humana.

Os discursos atuais reverberam, mas em poucas direções. No caso do INSS, por exemplo, o que há de propostas? Alargar tanto o tempo de contribuição quanto a idade para os beneficiários; agora, surge a ideia de desatrelar os pagamentos das aposentadorias do salário mínimo. Ao mesmo tempo, não se fala na principal causa para o desequilíbrio das contas: a informalidade. Tudo isso gera a perspectiva de um empobrecimento ainda maior dos aposentados.

SUBSTITUIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES

Quanto ao caso da "PEC das blusinhas", o que diria Maria, que escreveu o clássico artigo "Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil", em 1963, retomado no livro Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro - ensaios sobre economia brasileira, em 1972? Claro que essa é uma discussão que precisa ser atualizada, diante do capitalismo global e das mudanças provocadas pelos aplicativos nas relações comerciais, mas falta, antes de tudo, paixão para a análise das variáveis e suas possíveis consequências - um trabalho para o universo acadêmico, mas também político e social.

Maria da Conceição Tavares fazia seus discursos com as vísceras, mesmo quando o assunto era teórico: defendia uma educação ampla, profunda, voltada não apenas para atender as vontades do mercado, mas, principalmente, para uma ética de defesa dos mais pobres. Fará muita falta.

PROGRAMA ECONOMIA

O programa Economia desta semana trata de educação corporativa. Entrevistamos Antônio Bittencourt, CEO do INBEC, faculdade que lançou recentemente o projeto INBEC Shark School, que forma profissionais nas áreas de Engenharia e Arquitetura. O projeto oferece bolsas integrais e conta com o apoio de empresas cearenses para a construção de banheiros públicos. O programa Economia será exibido quarta-feira, às 17 horas, no Canal FDR (48), e com reprise às segundas-feiras, às 10 horas.

 


Foto do Neila Fontenele

Trago para você o fato econômico e seu alcance na vida comum do dia a dia. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?