
Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
A onda de abertura de cursos de Medicina permanece no País, com instituições de todos os portes. Desta vez, quem anuncia a implantação de graduação na área é a Faculdade Sírio-Libanês. A instituição pertence ao mesmo grupo do renomado hospital paulista, cuja tradição se consolidou em um século de trabalho.
O novo bacharelado em Medicina, recém-autorizado pelo Ministério da Educação (MEC), abre em grande estilo, com 100 vagas por ano. O curso terá a duração de 12 semestres e carga horária total de 8.600 horas. As inscrições para o vestibular devem ter início ainda este mês e as aulas estão programadas para iniciar no dia quatro de agosto
No lançamento da graduação, a presidente do Sírio-Libanês, Denise Jafet, ressaltou o marco histórico e o compromisso com a excelência dos profissionais, com 98% do corpo docente composto por doutores, que acumulam, em média, 17 anos de prática clínica e 9 anos de experiência no ensino. A mensalidade estimada é de R$ 12.400, com 10% dessas vagas destinadas a bolsas integrais.
A criação do curso de Medicina soma-se a outras ofertas de graduações na área de saúde pela Faculdade Sírio-Libanês (Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia e Biomedicina), todas aprovadas pelo MEC.
Ou seja, mais uma opção de curso para quem quer seguir a carreira de médico.
O que assusta nesta corrida vertiginosa por vagas em cursos de Medicina é o grande negócio que se tornou o setor. O estudo ProvMed 2030, realizado em 2020 por pesquisadores do Departamento de Medicina da USP, já previa o cenário de expansão. Na época, o Brasil contava com 357 escolas médicas que, juntas, somavam 37.823 vagas de graduação. Atualmente, estima-se que existam mais de 390 faculdades de Medicina no Brasil, das quais cerca de 80% são oferecidas por escolas privadas.
A movimentação financeira desses cursos é alta e chama a atenção de grandes agentes financeiros. Isso não acontece por acaso; as mensalidades custam, em média, R$ 10 mil, podendo chegar a R$ 15 mil. Por essa razão, grandes grupos econômicos investem no setor e há um grande volume de contratos de financiamento pelos estudantes.
Para os médicos que estão no mercado, a pergunta é a seguinte: será que as remunerações pagas atualmente irão se manter? Essa é uma pergunta que ainda não tem resposta, mas todos sabem que o mercado é movido por oferta e demanda.
Nada contra a formação de novos médicos, mas há também uma grande questão sobre a qualidade dos cursos ofertada por essas escolas, já que muitas não têm a tradição de um Sírio-Libanês, que é referência no País na área de saúde.
Além disso, o nível de endividamento dos alunos também é preocupante e não se sabe qual será o impacto disso no futuro dos profissionais que estão se formando agora. Existe uma proposta de criação de um exame especial para o exercício da profissão, seguindo o modelo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Caso esse tipo de medida seja implantada, imagine o tamanho da frustração das pessoas que investiram tanto em um sonho profissional e, por acaso, não obtenham aprovação neste tipo de teste. Isso, sem pensar no tamanho das dívidas.
Com certeza, o melhor é um acompanhamento dos cursos pelo MEC, para que eles realmente ofereçam a formação necessária aos novos profissionais, diminuindo a distância dos conteúdos e equipamentos ofertados entre as escolas.
Somente no Ceará, com todos os desequilíbrios entre oferta e procura, existem 25 cursos de Medicina em universidades públicas e privadas, com uma oferta de aproximadamente 2.200 vagas por ano. Qual será o impacto disso na qualidade dos atendimentos e na remuneração dos profissionais? Só o tempo dirá.
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