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Por que é importante falar de autonomia e demência?
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Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno

Neila Fontenele ciência e saúde

Por que é importante falar de autonomia e demência?

Estudo destaca a necessidade de políticas públicas e alerta que os custos globais das demências podem chegar a US$ 2,8 trilhões até 2030
O sono é um estado natural de repouso do corpo e da mente, caracterizado pela diminuição da atividade cerebral e pela redução da consciência do ambiente ao redor (Foto: Reprodução Adobe Stock )
Foto: Reprodução Adobe Stock O sono é um estado natural de repouso do corpo e da mente, caracterizado pela diminuição da atividade cerebral e pela redução da consciência do ambiente ao redor

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Ouvi de uma amiga: "Quando eu não estiver mais lembrando das coisas, pode se despedir de mim". Fiquei pensando em quantas pessoas tinham o mesmo pensamento. Lembrei da minha mãe, que aos poucos teve que ceder à realidade e entregar o controle da sua própria vida.

 

Elaine Mateus é presidente da Febraz e do Instituto Não Me Esqueças(Foto: Divulgação/Cristiano Nakajima)
Foto: Divulgação/Cristiano Nakajima Elaine Mateus é presidente da Febraz e do Instituto Não Me Esqueças

A perda de autonomia é um tema delicado. Ninguém sonha com um futuro em que não possa se vestir sozinho ou caminhar com segurança. Mas, em vez de sonhar, precisamos agir para estabelecer melhores condições de vida e aceitar as novas realidades, sem desespero.

A presidente da Federação Brasileira de Alzheimer (Febraz), Elaine Mateus, explica que existem boas experiências no Brasil (em pequenos e médios municípios) no cuidado com pessoas com a doença, mas ainda é preciso vencer os estigmas.

Um dos primeiros passos seria reconhecer os ciclos da vida e a posição de cada pessoa dentro da família, o outro é estabelecer os cuidados respeitando a ordem sistêmica. "As filhas que cuidam das suas mães continuam sendo filhas. Elas precisam reconhecer que continuam no mesmo lugar, mas oferecendo um suporte de cuidado. Isso ajuda na manutenção da identidade", acrescenta.

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Terapias de reabilitação: um caminho possível

Enquanto a demência não tem cura, o foco se volta neste ano para o trabalho de reabilitação, na tentativa de manter a autonomia possível. De acordo com o Relatório Mundial de Alzheimer 2025, da Alzheimer's Disease International (ADI), as terapias não farmacológicas de reabilitação têm um impacto positivo, mas ainda são pouco utilizadas na prática clínica e nas políticas públicas.

O documento, lançado em colaboração com entidades como a Febraz, enfatiza que a abordagem deve ser personalizada e desenvolvida com a pessoa com demência, e não "por ela". Apesar do reconhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), essa abordagem colaborativa ainda não é uma rotina no Brasil.

O estudo destaca a necessidade urgente de políticas públicas e alerta que os custos globais das demências podem chegar a US$ 2,8 trilhões até 2030 se não forem tomadas iniciativas agora.

Demências no Brasil

Há oito anos, uma equipe do Programa de Extensão em Psiquiatria e Psicologia da Pessoa Idosa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, tem se dedicado a oferecer acesso a terapias não medicamentosas de baixo custo, baseadas em práticas colaborativas. O programa inclui: psicoterapia; estimulação cognitiva; grupos de apoio para idosos e seus cuidadores; e planos de reabilitação adaptados às habilidades funcionais e ao contexto sociocultural de cada indivíduo.

A iniciativa foi considerada um sucesso. As intervenções, que combinaram sessões individuais e em grupo, com estratégias como lembretes visuais e simulações de tarefas cotidianas, trouxeram resultados notáveis. Os participantes conseguiram realizar atividades como fazer a barba, varrer a casa e cuidar do quintal. Além disso, houve um aumento no engajamento em programas sociais e a retomada da espiritualidade como parte central de suas rotinas.

É isso: precisamos reconhecer os problemas e tratar no que for possível.

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