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Por que a saúde mental masculina ainda é um tabu?
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Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno

Neila Fontenele ciência e saúde

Por que a saúde mental masculina ainda é um tabu?

Ansiedade já figura como a quinta maior causa de entrada masculina em Pronto Atendimento
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GUILHERME Weigert, CEO da Conexa (Foto: Divulgação / Lucas Zimer)
Foto: Divulgação / Lucas Zimer GUILHERME Weigert, CEO da Conexa

Historicamente, a jornada do homem em direção ao consultório médico é marcada por uma grande resistência. O estigma da masculinidade tradicional — de que são fortes, não choram e não podem demonstrar fraqueza — cria uma barreira poderosa. Esses mitos sobre o que significa ser homem não apenas dificultam a busca por um especialista para tratar questões físicas como pré-diabetes, mas se tornam um obstáculo ainda maior quando o assunto é saúde mental.

Um levantamento recente do Research Center da Conexa, um ecossistema digital de saúde física e mental, trouxe à luz um dado preocupante sobre o acesso masculino ao tratamento psicológico: apenas 29,6% dos atendimentos em Psicologia na plataforma foram realizados por homens. Isso representa um acesso 58% menor em comparação às mulheres.

O fato é que os homens, apesar do avanço das discussões sobre saúde, comumente fogem muito mais do cuidado emocional. E, surpreendentemente, quanto mais velhos, maior a resistência a esse tipo de apoio.


A idade da desistência

O estudo aponta uma grande diferença na procura entre as faixas etárias masculinas: a maior procura por um consultório de Psicologia ocorre entre 21 e 30 anos.

“Após os 50, o cenário se agrava: apenas 22,2% dos atendimentos são masculinos”, destaca o médico Guilherme Weigert, CEO da Conexa. Essa realidade, verificada em todo o País pela plataforma que conta com mais de três mil profissionais, indica um padrão claro: homens tendem a procurar tratamento para questões emocionais apenas quando a situação já está severamente agravada.

Buscando ajuda no limite

A baixa procura masculina é um indicador de problema. Guilherme Weigert ressalta a gravidade dessa atitude: “A ansiedade já figura como a quinta maior causa de entrada masculina em Pronto Atendimento, sugerindo que muitos homens só procuram ajuda quando o quadro atinge um nível crítico”.

A barreira cultural precisa ser enfrentada. Segundo o executivo, "muitos homens só buscam ajuda quando o sofrimento já está insustentável". Eles ainda tratam a saúde de forma pontual, quando, na verdade, o acompanhamento integrado (físico e emocional) é o que realmente reduz riscos e melhora a qualidade de vida.

Menos consultas, mais risco

Pelos dados da Conexa, de janeiro a novembro, os homens representaram quase 40% da base de pacientes, mas apenas 32,6% dos atendimentos. Esse percentual é considerado um sinal claro de como os homens recorrem menos aos serviços de saúde. “A média é de três consultas por pessoa, enquanto as mulheres chegam a quatro”, acrescenta.

Esse percentual é um sinal claro de que os homens recorrem menos aos serviços de saúde e também apresentam mais dificuldade em dar continuidade aos tratamentos.

O recado é claro: o cuidado mental precisa entrar no debate sobre a saúde do homem. A combinação de menor percepção de risco, tabus históricos e a dificuldade em buscar ajuda faz com que os homens cheguem mais tarde aos serviços, comprometendo a saúde de forma geral.

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