Recentemente, li "O dia em que Eva decidiu morrer", um baita livro sobre o direito a uma boa morte, do meu querido amigo Adriano Silva. Você já reparou que o tema da longevidade está na pauta do dia, mas ninguém fala sobre o fim da vida?
Precisamos enfrentar o fato de que não somos imortais. Como diz a música: "saiba, todo mundo vai morrer..." A morte é, senão a única, uma das poucas certezas que temos na vida. Se não pensarmos nem falarmos sobre ela, será que conseguiremos decidir o que fazer, com serenidade e lucidez, quando nossa hora chegar?
A autodeterminação, o direito de decidir a hora de morrer, que o livro aborda, é um tema cercado de dogmas religiosos, médicos e jurídicos. Por que uma pessoa deve ser obrigada a viver quando sente que sua vida se tornou insuportável ou indigna pelo sofrimento, físico ou emocional, de um corpo ou uma mente em processo de falência?
O cinema já contou essa história algumas vezes. Lembro quando assisti "Como eu era antes de você" e me emocionei ao ver o personagem principal decidir morrer, por não suportar a ideia de ter se tornado tetraplégico e depender de cuidadores para viver. Neste ano, "O quarto ao lado" de Almodóvar, indicado ao Oscar, e o brasileiro "Sonhar com leões" abordaram de maneiras distintas a história de mulheres com câncer terminal que querem pôr um fim aos seus martírios.
Eva, a protagonista do livro, é o nome fictício da primeira brasileira que decidiu e conseguiu ter uma Morte Voluntária Assistida - MVA, na Suíça, assim como o moço de "Como eu era antes de você". A história é narrada a partir do relato de seu filho, que esteve ao lado dela durante os seis meses entre o AVC devastador que "a matou" e o momento de seu último suspiro, com data e hora marcados, em 2023.
Para além da detalhada jornada de Eva, o livro conta outras histórias que aconteceram ao redor do mundo, com motivações diversas. E traz também um guia sobre o trabalho das instituições existentes nos 14 países que permitem alguma forma de acesso à MVA.
Não tenho dúvida de que essa é uma obra essencial para avançarmos na luta pela autonomia no fim da vida e o direito de decidir morrer. Obrigada, Adriano.