É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
Caso Natany teve repercussões também na política local, com vídeo encenado da oposição, resposta da vice-governadora e desafios impostos à cobertura jornalística
O ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil) trouxe o caso para a esfera política. Em um vídeo publicado nas redes sociais na terça-feira, 18, ele aparece ao lado da esposa, a deputada federal Dayany Bittencourt (União Brasil), e do filho, Felipe Gabriel, simulando um bate-papo à mesa de café da manhã. Entre uma passada de manteiga na cream cracker e uma tentativa sem muito sucesso de fingir naturalidade, Wagner e Dayany questionam alguns direitos básicos aos quais os suspeitos do crime têm acesso.
O vídeo começa com o filho perguntando ao pai: “O que vai acontecer com os assassinos da Natany?”. Sem responder a pergunta, Wagner afirma: “Eles foram presos, passaram por audiência de custódia. O juiz perguntou a cada um deles se tinha sido agredido, se tinha sido maltratado, se tinha sido torturado. Se um deles tiver dito que sim, processo no lombo dos policiais”. Em outro trecho do vídeo, Dayany fala em tom de lamentação: “Se a família deles não tiver dinheiro para contratar advogados, a Defensoria Pública vai defender esses bandidos”.
Também nas redes sociais, um dia depois, a vice-governadora Jade Romero (MDB) rebateu logo em seguida. “A dor de uma família não pode ser usada como palanque para oportunismo político. O caso da Natany chocou a sociedade, e a Polícia deu uma resposta rápida, capturando os envolvidos e entregando-os à Justiça. As leis podem, sim, ser mais duras no enfrentamento da criminalidade, mas isso só é possível por meio do Congresso. E pergunto: o que fizeram, de fato, aqueles que agora surgem com vídeos montados e discursos ensaiados? Qual foi a contribuição desses que se apresentam como os ‘cavaleiros do apocalipse’? A resposta, os cearenses já sabem”.
Dois pontos merecem ser frisados nessa cobertura política do caso. O primeiro é de que foi acertada a decisão de destacar no título os dois agentes do embate. Seria um erro precipitado se O POVO tivesse feito uma matéria apenas sobre o vídeo de Wagner e Dayany sem uma contestação. Colocar em evidência o contraponto crítico feito por Jade Romero justificou a produção da notícia.
A falta que faz um tom mais crítico
Um segundo ponto está relacionado ao conteúdo do vídeo propriamente dito. Debater se houve ou não oportunismo político da parte de Wagner é ser sugado pelo grande buraco negro da subjetividade, no qual as opiniões vão sempre dialogar com a preferência política de cada um. Mas no vídeo em si, as falas de Wagner e Dayany destacadas acima são muito contestáveis.
Durante todo o vídeo ficou clara a defesa de que direitos fundamentais de um Estado Democrático fossem descumpridos. Quer dizer que o ex-deputado defende que policiais pratiquem tortura sem sofrer punição? O propósito de um órgão como a Defensoria Pública não é justamente garantir àqueles que não têm recursos financeiros o direito de uma ampla defesa?
Não se trata de passar a mão na cabeça dos suspeitos que confessaram o crime. Em crimes bárbaros que causam grande comoção como esse, não é fácil ser razoável, mas é necessário que o Judiciário, os atores políticos, a imprensa e a sociedade como um todo o sejam. Os três homens precisam ter garantidos os meios para que sejam submetidos a um julgamento justo. E que cumpram a pena devida se forem condenados.
Faltou à cobertura do O POVO um tom mais crítico às falas dos políticos do União Brasil. Seja em Editorial, se posicionando sobre o caso e o vídeo deles, seja em outras matérias que poderiam ser feitas ouvindo juristas a explicar por que as declarações de Wagner e Dayany não podem ser minimizadas.
Após O POVO publicar a matéria do vídeo de Wagner e a contestação de Jade, o ex-deputado procurou a reportagem e afirmou que o “formato do vídeo escolhido e gravado de forma improvisada alcançou o principal objetivo: dar notoriedade a um assunto que não chama mais atenção de tão corriqueiro que se tornou”. “O alcance de mais de 1 milhão de visualizações incomodou o Governo que mandou seus porta-vozes nos atacar”.
Nem o mais fervoroso eleitor de Wagner crê que o vídeo foi improvisado. Os microfones e o jogo dinâmico de câmeras denunciam a produção elaborada. Destacar várias vezes a quantidade de visualizações também é revelador de quanto o case Nikolas e o Pix serviu de inspiração para um novo formato para o discurso da oposição. Uma linguagem simples que tenta aproximar o seguidor/eleitor do objeto de discussão para em seguida convencê-lo. Priorizando mais o formato atrativo que o conteúdo em si.
A tendência é que vídeos assim se tornem cada vez mais comuns. Eles impõem um desafio à imprensa que pode, de maneira ansiosa, querer pegar carona na audiência e na repercussão que eles geram. Esse modo mais teatral e encenado de fazer política nas redes pode ser uma armadilha se a cobertura não estiver alerta para fazer os contrapontos necessários para que não sejam vendidos discursos fáceis como soluções de problemas complexos.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.