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Onde você anda à noite?
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É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política

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Onde você anda à noite?

Segurança é algo que mexe muito com os sentimentos das pessoas. Num cenário em que os números de homicídios e roubos são na casa dos milhares como os do Ceará e de Fortaleza, isso fica ainda mais forte
Tipo Opinião
FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 24.12.2024: Fachada da Catedral. Virgília de Natal na Catedral Metropolitana de Fortaleza, Paróquia de São José. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 24.12.2024: Fachada da Catedral. Virgília de Natal na Catedral Metropolitana de Fortaleza, Paróquia de São José. (Foto: Aurélio Alves/Jornal O POVO)

Uma postagem feita no Instagram do O POVO na última semana suscitou um debate bem produtivo no comentário interno que faço por e-mail diariamente com a Redação. A publicação nas redes sociais era referente a matéria sobre uma nota da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Fortaleza) relatando problemas na segurança do Centro da Capital.

O posicionamento da entidade se deu após matéria do O POVO com comerciantes do bairro denunciando extorsões feitas por membros de facções criminosas. Na publicação no Instagram, foi lançada aos seguidores a seguinte pergunta: “Já andou no Centro de Fortaleza à noite?”. Logo abaixo, como um subtítulo, há um dizer que fala das propostas da CDL demandando melhorias na segurança noturna da região.

Questionei a Redação se a pergunta empregada na postagem era mesmo condizente com a cobertura feita habitualmente pelo O POVO. No argumento, pontuei que, da forma como estava colocada, ela poderia ter dois efeitos ruins: reforçar um estigma numa área que já tem uma imagem popularmente associada à insegurança; e estimular entre os seguidores uma narrativa de medo.

Editor-adjunto de Mídias Sociais, Alan Magno explica que a pergunta foi utilizada na postagem “como um recurso editorial para incentivar os leitores a compartilharem, nos comentários, suas vivências com a região central da cidade”.

“Com relação a reforçar estigmas sociais, concordo que é algo que precisa ser mais discutido e nos colocamos à disposição para continuar esse diálogo e construir, juntos, uma cobertura que reflita a realidade com responsabilidade e escuta ativa”, reconheceu Alan.

Ele enfatiza que é feita dentro da equipe de Mídias Sociais uma avaliação cuidadosa quanto à reprodução de imagens, vídeos ou certos detalhes das ocorrências de segurança. “Nosso objetivo é evitar qualquer percepção de uma narrativa alarmista sobre Fortaleza. No entanto, diante da frequência e da gravidade dos episódios criminais registrados na capital, entendemos que é difícil tratar da segurança pública sem abordar diretamente a realidade relatada diariamente por nossos leitores/seguidores”, observa Alan.

É destacado por ele destaca que a pergunta na postagem não tinha este objetivo, mas que “infelizmente acabou abrindo margem para discursos que podem reforçar visões estereotipadas e superficiais sobre um tema tão complexo e sensível quanto a Segurança Pública”. “Vamos redobrar a atenção quanto a isso em nosso fluxo de distribuição, buscando sempre maior rigor, cuidado e ética na abordagem”, finaliza.

Segurança mexe com sentimentos

É compreensível a estratégia nas redes sociais de chamar os seguidores a manifestarem os relatos sobre os mais variados temas. É importante que O POVO esteja conectado e em diálogo com o que acontece no mundo e com o público leitor. No entanto, é necessário cuidado redobrado nessa interação diante de certos temas.

Segurança pública é dos assuntos mais sensíveis nesse aspecto. É algo que mexe muito com os sentimentos das pessoas. Num cenário em que os números de homicídios e roubos são na casa dos milhares como os do Ceará e de Fortaleza, isso fica ainda mais forte.

Ao lançar para os seguidores uma pergunta como a que foi empregada, é natural que cada indivíduo resgate a lembrança de alguma experiência ruim ou mesmo traumática de violência urbana. São essas que tendem a se fixar mais na memória e são relatadas na caixa de comentários. Forma-se, assim, um fórum com depoimentos que elevam essa narrativa da sensação de medo coletivo que pode se transformar em outros sentimentos como tristeza e raiva. No que pode acarretar essa tristeza e essa raiva? Aí é onde pode morar o perigo.

O desafio da cobertura inesperada ao vivo

Pouca gente vai lembrar de como foram os 70 minutos em que Colo-Colo e Fortaleza estiveram no gramado do Monumental David Arellano, na noite da última quinta-feira, 10. As mortes de dois torcedores da equipe chilena (uma jovem de 18 anos e um garoto de 13 atropelados por um carro da polícia após um tumulto na entrada do estádio) transformaram em tragédia o que deveria ser apenas mais uma rodada da Taça Libertadores.

Por pouco a catástrofe não foi maior. O jogo foi interrompido no momento em que torcedores tomaram ciência das mortes e invadiram o gramado do estádio em protesto no meio do 2º tempo. Depois de duas horas de muita apreensão, incerteza e nenhum clima para a bola voltar a rolar, foi tomada a decisão de cancelar a partida.

Todos os que estão envolvidos em um jogo de futebol (jogadores, torcida, imprensa, funcionários etc.) partem do pressuposto básico de que aquele evento vai seguir um roteiro básico de aproximadamente duas horas. Haverá um vencedor e, consequentemente, um perdedor; ou um empate entre os times.

No caso de uma transmissão ao vivo de futebol no rádio, na TV ou nas plataformas digitais, o objetivo sempre foi prender a atenção dos espectadores/torcedores sem deixar de levar a emoção que o jogo demanda e a precisão nas análises e nas informações da partida. Mas quando um fator externo quebra o roteiro previsto, são impostos novos desafios que exigem cuidados redobrados da equipe que está na cobertura.

No caso da transmissão de Colo-Colo x Fortaleza, a chave de todos virou com a invasão de torcedores no gramado, por volta das 22h30min. A partir daí, na Rádio O POVO CBN a cobertura se estendeu até 1h da madrugada de sexta-feira, 11. A equipe formada por Liuê Góis (narração), Lucas Mota (apresentação), Miguel Júnior (reportagem) e Thiago Minhoca (comentários) soube “segurar as pontas” por quase três horas, trazendo informações precisas de forma ágil diante de um cenário incerto em Santiago, no qual eram poucas e desencontradas as informações oficiais, e com a seriedade necessária que a situação demandava. Destaque também para as equipes que integraram a cobertura multiplataforma no portal, nas redes sociais e no jornal impresso.

“O principal desafio foi estar ao vivo informando e atualizando o ouvinte a todo momento, num cenário onde não havia muita informação. Não havia uma situação definida para avaliar. Ao mesmo tempo, íamos todos apurando e desconstruindo essa incerteza do cenário para levar aos ouvintes a informação mais precisa. Terminou 1 hora da manhã e nós só poderíamos encerrar a transmissão quando houvesse um desfecho. A todo momento estávamos ligando para fontes em Santiago do Fortaleza e da Conmebol para informar o que estava acontecendo”, descreve Lucas Mota, que também é editor-chefe de Esportes.

Sem cobertura in loco

O POVO não mandou repórteres para a cobertura na capital chilena. Diferente de outras jornadas além-fronteira da dupla Fortaleza e Ceará nos últimos cinco anos em Taça Libertadores e Copa Sul-americana ou em outros eventos como a Copa do Mundo do Qatar-2022 e as Olimpíadas de Paris do ano passado. Enviar jornalistas ou contratar freelancers para uma cobertura internacional in loco exige muitos recursos.

É compreensível que investimentos mais robustos assim sejam feitos em jogos mais decisivos ou com maior simbolismo para o futebol local. O que não era bem o caso do jogo da última quinta-feira. O contexto da partida entre Colo-Colo x Fortaleza foi tão atípico que mesmo a reportagem da ESPN que estava no estádio em Santiago não conseguiu apurações mais avançadas em tempo real no comparativo com as do O POVO, por exemplo. Mas é de se repensar para jornadas futuras o esforço para mandar equipe de reportagem em coberturas esportivas internacionais como um diferencial para os ouvintes e leitores.

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