É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
PLENÁRIO da Câmara dos Deputados aprovou PEC da Blindagem
Quem ingenuamente supôs que a pauta de Política esfriaria após o julgamento do chamado “Núcleo Crucial” da trama golpista se enganou redondamente.
Sempre dinâmicos, os holofotes de Brasília se deslocaram do Supremo Tribunal Federal (STF), que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliados e militares de alta patente, para outro vértice na Praça dos Três Poderes. O avanço nas tramitações da chamada “PEC da Blindagem” e do “PL da Anistia” na Câmara dos Deputados pôs o Legislativo novamente em evidência.
No O POVO, a proposta que prevê mais barreiras para investigar e punir deputados e senadores que cometam crimes também recebeu rechaço com o editorial “PEC da Blindagem desrespeita a sociedade”.
A PEC da Blindagem e o PL da Anistia receberam destaque de manchete do O POVO nas edições de quarta, 17, quinta, 18, e sexta-feira, 19. E olha que não faltou assunto com potencial para tanto.
Em Cidades, foram os foguetórios espalhados por Fortaleza em mais um episódio da guerra entre facções. Em Economia, a alta de 3,86% no PIB do 2º trimestre no Ceará e a manutenção pelo Banco Central da taxa básica de juros em 15% foram assuntos que facilmente teriam recebido mais destaque, não tivessem ocorrido numa semana como a que passou.
A manchete da última quinta-feira, 18, (“Câmara dos Deputados aprova urgência de PL de anistia a golpistas”) rendeu uma discussão mais acalorada no grupo do Conselho de Leitores do O POVO. A advogada familiarista Mabel Portela criticou a forma como o termo “golpistas” foi empregado no enunciado.
“Me causa espanto o jornal se referir, em todas as suas plataformas, com o termo golpistas. Hoje tem capa do impresso, ouvi no rádio, ouvi o Ítalo Coriolano (apresentador do programa O POVO News, no Youtube e no canal FDR na TV). Golpista é quem aplica golpe. Se eles são condenados por tentativa de golpe, não são golpistas. Poderiam colocar o termo condenados ou outro qualquer. Mas o termo golpista aparece em destaque em todas as plataformas”, afirmou Mabel, que sugere termos como “condenados por tentativa de golpe” ou “condenados por atentar contra a democracia”.
Em contraposição, o também advogado Nestor Santiago, que atua na área do Direito Penal e é professor universitário, considera não haver erro quanto ao uso do termo na manchete. “Seriam golpistas do mesmo jeito. Ou que são condenados pela tentativa de golpe de estado. Se acaso o golpe tivesse se consumado, não haveria punição, e os golpistas seriam chamados de presidente, ministro, vice-presidente etc. Por isso, a nomenclatura está correta", argumentou.
Para além do debate jurídico, o médico psiquiatra Joel Porfirio ofereceu uma outra perspectiva, esta semântica, sobre a interpretação da palavra “golpista”.
“O (sufixo)...‘ista’ também é usado comumente a quem adere a uma ideia, a quem apoia uma causa e os exemplos na prórpia política são muitos e bons, tanto de ideias como de grupos até mesmo personalistas, como: socialista; capitalista, nazista, comunista; ou bolsonarista, brizolista, salazarista, lulista... Não estão necessariamente vinculados à concretização de um ato ou mesmo à viabilidade ou perpetuação do sistema de crença ou do político”, acrescentou Joel ao debate.
A importância do debate plural
Concordando ou discordando, os argumentos apresentados têm legitimidade. Inclusive, a finalidade de um colegiado como o Conselho de Leitores do O POVO é justamente o fomento de um debate proveitoso e saudável, com pluralidade de ideias e respeito às opiniões contrárias.
Sem a menor pretensão de querer cruzar a linha do Direito - área da qual sou leigo - e versar sobre aspectos jurídicos, me atenho à discussão sobre as palavras e códigos empregados, campo do qual me sinto mais confortável em opinar. Embora essa limitação de forma alguma seja um empecilho para a formação de um pensamento crítico do qual eu queira ler a respeito, me aprofundar e desenvolver uma ideia.
A palavra e a mensagem
Particularmente, não vejo como equivocado o uso do termo “golpistas” na manchete do O POVO da última quinta-feira.
Com o intuito de demonstrar que a essência das coisas se sobrepõe à forma como as chamamos, Shakespeare escreveu em "Romeu e Julieta" que “se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume”. A lógica verdadeira de que a existência das coisas antecede o nome que um dia se deu a elas.
Contudo, o que vale para a dramaturgia e para a filosofia não se aplica perfeitamente à comunicação e, mais especificamente, ao jornalismo. Nomear as coisas é parte do processo de facilitar a compreensão humana dessas mesmas coisas.
No dia a dia, isso está contido no desafio de quem tem as palavras como matéria-prima de trabalho. O de um jornal é fazer uso delas de maneira a informar os leitores, passando uma mensagem da forma mais clara e compreensível.
Se o jornal avalia que existe respaldo (jurídico, semântico ou mesmo histórico) para se referir como “golpistas” àqueles que tentaram um golpe de Estado e posteriormente foram julgados e condenados por tal crime e que essa é a melhor forma de passar a mensagem, há legitimidade em fazê-lo.
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