É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília (DF), 26/04/2023 - Fachada da sede da Polícia Federal. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A entrevista Dois Dedos de Prosa publicada na edição do último dia 31/8 no O POVO foi um dos assuntos que mais movimentou o Whatsapp do ombudsman na última semana. A seção publicada aos domingos logo nas primeiras páginas do impresso e no O POVO+ costuma ter como premissa entrevistas curtas, leves e com perfis cujas características são as de apresentar aos leitores histórias mais curiosas.
Na edição de uma semana atrás, o título atrativo atendia essas características e chamava para conhecer a história de um “Cearense aprovado aos 22 anos como delegado da PF”. Ao longo da entrevista, o jovem narrou alguns pontos de uma trajetória breve e exitosa nos estudos que resultou na aprovação dele num dos concursos mais disputados do País e no suposto futuro ingresso em carreira no serviço público. Mais uma daquelas histórias prodigiosas de deixar pais orgulhosos e primos enciumados nos encontros de família no fim de ano.
Alguns detalhes, porém, não passaram despercebidos por leitores atentos que entraram em contato com o ombudsman na segunda-feira, 1º, compartilhando em tom de protesto os links da entrevista e da postagem referente a ela no Instagram.
“O concurso em questão ainda está em andamento, faltam diversas fases eliminatórias, não é real dizer que ele já foi aprovado. Além disso, na consulta pública dos resultados ele já está eliminado da próxima fase, não tendo alcançado o mínimo de 12 pontos, apenas 6,24 no resultado preliminar”, afirmou uma leitora que é candidata no certame para delegada da Polícia Federal. Ela enviou o link da Cebraspe, banca responsável pelo concurso, com os resultados final da prova objetiva e provisório da discursiva.
Uma segunda leitora, também candidata, seguiu com os mesmos argumentos e não poupou críticas ao jornal: “Solicito a retificação da matéria vinculada, eis que se encontra completamente equivocada. Deixo também registrada minha indignação enquanto assinante do O POVO, diante da realização de postagem em que sequer foi verificada a informação”, repreendeu.
Um terceiro leitor chamou atenção para um outro aspecto, sobre o tempo mínimo de atividade jurídica ou policial, requisito que consta no edital do concurso para delegado da PF. “Consta aí que ele se formou em Direito no ano passado, 2024. E vai tomar posse em 2026. Porém o cargo exige três anos de cargo de policial ou na área jurídica. A entrevista não diz que ele está trabalhando ou estagiando. Ou diz?”, indagou.
A resposta da Redação
As críticas e os questionamentos dos leitores foram encaminhados na segunda-feira, 1º, à Redação por meio da avaliação interna feita diariamente. A resposta foi feita abertamente na edição do dia seguinte em formato de matéria na editoria de Política e de uma nova postagem no Instagram sobre o caso.
Normalmente, ao publicar um “Erramos”, são listadas algumas informações mais sucintas sobre o equívoco, acompanhadas das devidas retificações. Um caso complexo exigiu uma matéria com esclarecimentos mais extensos a respeito.
A falha foi reconhecida logo no título: “Erramos: concurso para delegado da PF segue em andamento e cearense passou só na prova objetiva”. No abre, logo abaixo do título, seguiu: “O POVO errou ao informar que ele seria o mais jovem aprovado como delegado da Polícia Federal, mas o certame ainda está em andamento. Na prova discursiva, que teve o resultado provisório divulgado, João Moreira obteve nota inferior ao estabelecido. Ele entrou com recurso e aguarda resultado.”
Ao longo do texto, são dados detalhes fornecidos pelo Cebraspe quanto ao status do certame. Neles é dito que o dia 9 de abril de 2026 é a data prevista para publicação do “edital de resultado final no desempate de notas, de resultado final na primeira etapa e de convocação para matrícula no curso de formação”.
Ouvido novamente pela reportagem sobre ter obtido nota inferior ao necessário para seguir no concurso, o entrevistado alega que “os recursos estão bem favoráveis, feitos por uma empresa especializada" e que "a reprovação na discursiva só ocorre após a divulgação do resultado final, o que ainda não ocorreu". Sobre os requisitos para assumir, ele disse que os cumprirá até a suposta posse no cargo.
Diante do exposto, tais procedimentos foram a melhor saída para tentar mitigar os efeitos do erro, explicando aos leitores o que aconteceu e reconhecendo as falhas cometidas por O POVO. A única ausência foi a da nota padrão de Erramos no impresso, que deveria vir acompanhada da matéria. Nesta nota são dadas as informações de data, editoria e página na qual a matéria com erro foi publicada. São registros importantes do ponto de vista documental para situar o equívoco nos arquivos do jornal.
Desconfiômetro sempre ligado
Este não foi o primeiro erro de apuração que resultou na publicação de situações inverídicas no jornal. É difícil crer também que será a última vez em que isso acontece. Mas casos assim servem de exemplo para a necessidade de a Redação redobrar a atenção quanto à checagem das informações.
A desconfiança é uma das virtudes que os repórteres não podem prescindir. Seres humanos se movem por interesses, sejam eles legítimos dentro de uma ética pressuposta ou não. Por melhores que pareçam ser as intenções de uma fonte ou de um entrevistado, os processos de apuração nunca devem ser negligenciados.
Noutro aspecto, o jornalismo é muitas vezes atraído por contar essas histórias prodigiosas. É inegável o apelo de audiência delas junto aos leitores que as consomem como forma de inspiração. Mas nessa sede de buscar o extraordinário não se pode atropelar algo básico: a informação.
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