É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
Neste caso do Rio, as imagens chegam na palma da mão e entram em tempo real no imaginário de quem as vê. Elas despontam em número e diversidade de perspectivas muito maiores. Há um sem número de registros que compõem esse caleidoscópio do horror
Foto: FABRICIO SOUSA/ESTADÃO CONTEÚDO
Aproximadamente 60 corpos foram encontrados na mata e levados por moradores para a praça São Lucas
O Brasil viveu na última semana sob o impacto das notícias relacionadas à Operação Contenção, deflagrada pelos órgãos de segurança do Rio de Janeiro nas favelas dos complexos da Penha e do Alemão. Na terça-feira, 28, o governo fluminense divulgou inicialmente que 64 pessoas haviam morrido na ação, incluindo dois policiais civis e dois policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Àquela altura, já era a operação mais letal da história.
Mas, por vezes, o contexto de um país violento faz com que se crie uma couraça no sentir. Os números passam a ser recebidos com uma frieza incongruente com a concretude dos fatos. E outros fatores podem se fazer necessários para que a existência não caia num processo de embrutecimento.
No dia seguinte, os números de mortes quase dobraram, chegando a 121. Moradores do Complexo da Penha levaram ainda pela madrugada para a Praça São Lucas, uma das principais da região, dezenas de corpos que não foram contabilizados na véspera.
Mulher chora ao lado de corpos estendidos na praça do Complexo da Penha, no Rio, após operação Contenção. Vítimas ainda estão fora da listagem oficial divulgada pelo governo fluminense
Crédito: PABLO PORCIUNCULA/AFP
As imagens das pessoas mortas enfileiradas no chão e cobertas por lençois e sacos plásticos rapidamente correram o mundo. As fotos também estamparam capas de jornais e de portais Brasil afora. Não é hábito do O POVO destacar no impresso e nas redes os aspectos mais viscerais da violência urbana.
Usar artifícios apelativos para gerar atração na cobertura de segurança e adotar uma linha “espreme que sai sangue” - tão presente em programas policialescos na hora do almoço - felizmente não são condutas comuns no O POVO.
CAPA
Crédito: O POVO
Imagens como a do repórter fotográfico Fabricio Sousa, da Agência Estado, que esteve na capa da edição de quinta-feira, 30, são incontornáveis para contar a história de uma tragédia como essa. O enunciado da manchete trazia “Número de mortes já supera Carandiru”, em referência ao massacre na penitenciária paulista, ocorrida em 1992, quando 111 detentos foram mortos pela polícia após uma rebelião.
As restrições de acesso da imprensa ao presídio há 33 anos e as próprias barreiras tecnológicas para a cobertura na época fazem com que a construção imagética do Carandiru seja mais limitada ao filme de 2003, baseado no livro de Drauzio Varella, ou dependa de uma pesquisa a ser feita por quem tenha interesse e estômago.
Neste caso do Rio, as imagens chegam na palma da mão, pela tela dos celulares, e entram em tempo real no imaginário de quem as vê. Elas despontam em número e diversidade de perspectivas muito maiores. Há um sem número de registros que compõem esse caleidoscópio do horror. Sejam as imagens aéreas feitas por drones, as de outros fotógrafos profissionais ou de pessoas comuns que testemunharam aquele momento e registaram o desfecho do massacre.
A história de quem morre é perpetuada por quem vive. As pessoas que reuniram aqueles corpos e restos mortais têm papel central na cobertura. Enquanto o governo do Rio tenta emplacar um discurso de êxito na operação, as pessoas no local ganharam protagonismo como fontes essenciais, cujos relatos e ações têm um potencial de dimensionar a tragédia muito maior do que qualquer número.
Descasamento entre notícia e foto
Ainda na linha do debate sobre como as imagens têm um peso em como os leitores veem as notícias. Publicação feita no Instagram do O POVO na última segunda-feira, 27 de outubro, falava de um homem de 37 anos que foi assassinado a tiros na véspera na Praia da Caponga, em Cascavel. A foto utilizada na postagem foi a de uma jangada cuja vela continha a inscrição “eu amo Caponga, por isso estou aqui”.
No espaço dos comentários, seguidores se queixaram quanto ao uso da foto para ilustrar a notícia sobre o crime. Até a prefeita de Cascavel, Ana Afif Queiroz (PP), deixou sua crítica. “Foi um ocorrido afastado, sem ligação com nosso turismo, nossa orla. Isso prejudica muitas famílias que vivem do turismo. Prejudica a imagem de um lugar que acolhe a todos tão bem. A polícia deve fazer a parte dela, mas como veículo de comunicação não faz sentido prejudicar o turismo de Caponga de maneira errada”, protestou a prefeita.
Independente das motivações que tenham gerado as insatisfações, a foto de uma bela paisagem litorânea está em desalinho com a notícia de um homicídio. A matéria publicada por O POVOsobre o caso não diz o local exato onde foi cometido o crime, se na orla, em um terreno baldio ou qualquer outro lugar.
E aqui está mais um problema porque o texto não traz muitas informações além da idade da vítima e do crime em si. Ou seja, uma notícia publicada no portal e repercutida nas redes sem muitos elementos que dessem robustez à apuração.
Este caso da Caponga foi um dos que compuseram um fim de semana trágico, no qual foram registrados 18 homicídios no Ceará. Os dias de violência foram manchete do O POVO na terça-feira, 28.
“O time de Redes faz a distribuição, depois da decisão de publicar o conteúdo ser chancelada pela editoria, e muitas vezes parte da necessidade de ter material naquele momento. Além disso, muitos desses casos de crimes e pautas de segurança vão ganhando sequência à medida que surgem novos desdobramentos nas investigações. Sobre o uso da foto da jangada com a frase, de fato poderia ter sido outra escolha, claro, e isso sempre é uma discussão pertinente na equipe, porque sabemos do impacto que temos”, explica Glenna Cherice, editora-chefe de Mídias Sociais do O POVO.
O Instagram tem a imagem (seja foto ou vídeo) como um dos componentes essenciais para alimentar um perfil jornalístico na rede como é o do O POVO. A opção de publicar a matéria sem mais informações sobre o caso e a decisão de repercuti-la nas redes sem uma imagem adequada foram determinantes para o descasamento entre o fato e a foto.
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