Eufemismos mudam olhar sobre atraso em obra no Museu do Ceará
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É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
Foto: Samuel Setubal
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 20-10-2025: Atual reforma do Museu do Ceará, fechado há anos e que tinha previsão de conclusão ainda este mês. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)
Um cenário que naturalmente demandaria o emprego do termo “atraso” para uma matéria que abordasse o cronograma da obra. Ou mesmo sinônimos como adiamento, delonga ou demora. O título escolhido para a versão impressa adotou um tom mais brando: “Tempo refeito”. No abre está a informação de que o encerramento da obra “ganha nova data: 2 de janeiro de 2026”.
Ao longo do texto, está descrito que a “previsão de conclusão da reforma era anteriormente marcada para 2 de novembro deste ano”. A mudança, em explicação atribuída na matéria à Secretaria da Cultura (Secult), se deu pela descoberta de “novos cenários e, para garantir a entrega de uma edificação segura”. Em seguida, é reiterada a informação de que a data da entrega “foi atualizada” para 2 de janeiro de 2026.
O acompanhamento de obras públicas que têm cronograma atrasado é um clássico no jornalismo. Salvo raras exceções, são conteúdos que naturalmente vão ter uma carga mais crítica. Afinal, trata-se de um serviço público que não transcorre da maneira esperada, cabendo à imprensa cobrar dos agentes estatais as satisfações a serem dadas à sociedade que pagou por este mesmo serviço.
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 20-10-2025: Atual reforma do Museu do Ceará, fechado há anos e que tinha previsão de conclusão ainda este mês. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)
Em outros tempos, virou folclore e entrou no imaginário popular o termo “tucanar”. Reproduzida por humoristas e adversários políticos em tom de galhofa, a expressão se tornou popular em meados dos anos 2000 para descrever como políticos do PSDB buscavam suavizar em discursos ações negativas de suas administrações.
Não chega a ser para tanto. Mas dizer que a entrega da obra do Museu do Ceará “ganha nova data” ou que “a data da entrega foi atualizada” são eufemismos que escapam do óbvio: a obra deveria estar pronta ou perto de sua conclusão, mas está atrasada. As palavras e termos empregados direcionaram para um sentido positivo em relação ao fato que deveria receber um tom crítico.
Cobrança é uma coisa, pressa é outra
É óbvio que adotar uma abordagem mais crítica ao atraso de uma obra não significa cobrar que ela seja feita de qualquer jeito. Uma reforma no Palacete Senador Alencar, com mais de 150 anos de história, requer uma série de especificidades não apenas de segurança, mas também em relação ao zelo por um patrimônio tombado.
A Secult destacou ainda que foi "identificado um problema estrutural na coberta de madeira da sala de exposições do segundo piso". As declarações dadas pelo Governo para explicar o adiamento da entrega são válidas. No entanto, deveriam estar previstas em cronograma e as justificativas apresentadas não inviabilizam o olhar crítico jornalístico. Sobretudo para um equipamento com esta relevância que está há mais de seis anos com acesso fechado ao público.
Para saber mais sobre a história do Museu
Embora seja um conteúdo que ficou em parte desatualizado com a reforma de agora, fica como sugestão de leitura a reportagem “Museu do Ceará: os marcos e entraves de instituição pioneira no Estado”, publicada em maio de 2023, quando o equipamento cultural completava 90 anos, sendo o quadriênio anterior fechado ao público.
Assinado pela jornalista Lara Montezuma, o conteúdo integra a série “Raio X dos espaços culturais” publicada no O POVO+ e destaca a história do Museu do Ceará, a importância dele como primeira instituição museológica oficial criada no Estado, assim como seus mais de 13 mil itens.
Em linhas gerais, O POVO fez uma boa cobertura da volta de Ciro ao ninho tucano, com destaque para as declarações dadas durante o evento por ele, por seus novos aliados e também pelos agora adversários que integram o governismo. Análises dos novos desdobramentos também não faltaram no jornal impresso e no O POVO+.
É de se registrar, entretanto, a falta que fez na cobertura de um olhar mais nacional em relação aos fatos transcorridos no Ceará. Ciro disputou quatro das últimas sete eleições presidenciais e chegou a ter nome especulado para ir a mais um pleito pelo Palácio do Planalto.
Em um bom quadro de bastidores publicado na última quinta-feira, 23, no impresso, é feita menção ao também ex-presidenciável e deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), que saudou com elogios o novo correligionário. E ficou nisso. A cobertura poderia ter investido em ouvir mais nomes além das divisas cearenses. Do próprio PSDB e de outros partidos como o PDT, última legenda de Ciro, e do PT, principal alvo das críticas do ex-ministro.
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