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Até que ponto é válido caçar o clique
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É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política

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Até que ponto é válido caçar o clique

Não é correto entregar um conteúdo cujo propósito principal parece ser um subterfúgio em busca de audiência em detrimento ao seu caráter informativo. No popular, vender gato por lebre
Tipo Opinião
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Seção O POVO Trends dispõe de conteúdos voltados para o Google Discover (Foto: MMD Creative/Shutterstock)
Foto: MMD Creative/Shutterstock Seção O POVO Trends dispõe de conteúdos voltados para o Google Discover

Ao longo da última semana, a leitora Rebeca Barroso Lima enviou mensagem no grupo de Whatsapp do Conselho de Leitores do O POVO, do qual ela é integrante, criticando o título de uma matéria, referindo-se a ela como “clickbait”. A manchete em questão era: “Vivo anuncia fim de serviço no Brasil a partir de 31 de dezembro”.

Um enunciado atraente, que trata de algo supostamente com potencial para impactar a vida de milhões de pessoas, mas que escondia uma pegadinha descrita somente no texto da matéria. O serviço a ser encerrado no fim do ano pela operadora, na verdade, é apenas o de concessão de telefonia fixa. Um fato que ainda guarda sua relevância, mas com bem menos peso que o título pode fazer supor.

“Achei o título dessa reportagem um ‘clickbait’. Embora o corpo da mensagem justifique o título - realmente a Vivo vai deixar de atuar em um segmento de serviço - o título faz parecer que a Vivo vai sair do território brasileiro ou vai deixar de atuar na área de telefonia ou algo assim. (...), a grande maioria das pessoas utiliza o serviço ou de internet ou de telefonia móvel, e não é esse tipo de serviço que a Vivo vai deixar de prestar no final deste ano. Mas você só sabe disso depois que entra na matéria. Não gostei”, se queixou Rebeca.

Em tradução livre do inglês para o português, a expressão “clickbait” significa “isca de clique”. Ela se refere a um método para “fisgar” leitores por meio de títulos ou imagens chamativas, exageradas, dúbias ou mesmo enganosas, incentivando-os a clicar em um link e, assim, gerar mais audiência ou engajamento. Não raramente, o conteúdo “caça-clique” não entrega o que é prometido nos títulos.

De maneira alguma isso significa que as matérias e demais conteúdos jornalísticos não devam ter títulos ou chamadas com enunciados que despertem a atenção dos leitores em acessá-los. Pelo contrário. Estimular o interesse na audiência faz parte do processo de produção de uma notícia cuja razão de existir é informar. E, para isso, é necessário que ela seja feita para ser lida.

Não é correto entregar um conteúdo cujo propósito principal parece ser um subterfúgio em busca de audiência em detrimento ao seu caráter informativo. No popular, vender gato por lebre. Por mais que, na frieza das palavras, o título não possa ser considerado errado, seu aspecto dúbio tem potencial para frustrar as expectativas dos leitores.

Levei a queixa da leitora ao editor-chefe de Audiência e Distribuição do O POVO, Thadeu Braga. Posteriormente, o título foi alterado para “Vivo anuncia troca de serviço no Brasil a partir de 31 de dezembro e comunica clientes com contas ativas no fixo”. Mais condizente com o corpo da matéria.

O POVO Trends

A matéria descrita acima foi publicada e está localizada em uma seção chamada O POVO Trends. Trata-se de uma área que não está dentro da chamada “árvore de menus” do portal O POVO (opovo.com.br), segmentado em “Notícias”, “Esportes”, “Divirta-se” e “Vida&Arte”.

No aspecto visual, a capa e as matérias do O POVO Trends guardam diferenças de layout bem marcantes se comparadas aos conteúdos do Portal O POVO “convencional”. O que, inclusive, pode gerar dúvidas nos leitores mais atentos se é, de fato, algo do O POVO. A marca do O POVO clicável na home da seção redirecionando ao Portal O POVO não deixa dúvidas que sim.

Em linhas gerais, os conteúdos da seção O POVO Trends têm um perfil mais voltado para uma leitura mais ágil, mais ligado a curiosidades ou serviços, sem características de reportagens mais elaboradas ou do chamado “hard news”. Em sua maioria, com títulos especialmente elaborados para chamar atenção dos leitores. Em alguns casos, o sensacionalismo é escancarado como em “Curandeira que nunca erra faz previsão assustadora sobre desastre natural em 2026”.

Essas matérias não costumam aparecer na home do O POVO, sendo mais destacadas pelo Google Discover. De acordo com o próprio Google, trata-se de um “feed de conteúdo personalizado”, que mostra notícias, artigos e vídeos “sobre os interesses do usuário”, usando o algoritmo para “sugerir o que é relevante”.

“O conteúdo da seção Trends é elaborado pela agência de notícias Audience Labs, que está há poucos meses conosco. Ele é direcionado especificamente ao público do Google Discover, com o objetivo de atrair um público mais jovem, com características específicas. Assim como todos os demais conteúdos de agência, de tempos em tempos, eles têm seus pontos fortes e fracos analisados por nossa equipe para avaliar sua aderência aos nossos critérios. Uma análise mais aprofundada de todas as agências está prevista para o início de 2026”, explica Erick Guimarães, diretor de Jornalismo do O POVO.

Como empresa jornalística, é natural O POVO buscar meios de ampliar sua audiência. Entretanto é ruim fazê-lo de maneira em desacordo com o padrão de qualidade consolidado pelo próprio O POVO ao longo de quase 98 anos como veículo de imprensa com credibilidade e prestígio.

Mais dois exemplos

Destaco dois exemplos de conteúdos no O POVO Trends com problemas semelhantes aos descritos mais acima, no caso da Vivo. Numa conjuntura política tão atribulada e dinâmica como a brasileira atualmente, chega a ser presunçoso empreender um título como “Nova pesquisa eleitoral indica quem deve ser o presidente do Brasil em 2026”.

Publicada na última terça-feira, 16, a matéria na verdade falava sobre a sondagem a ser publicada somente dois dias depois pela Quaest. Talvez nem mesmo a “curandeira que nunca erra” arriscaria um palpite sobre isso.

Outra matéria, esta publicada em outubro, tem um título voltado para atrair atenção do leitor fã de automobilismo: “Finalmente! Depois de muito tempo, Michael Schumacher apareceu”.

O heptacampeão de Fórmula 1 está recluso pela família desde o fim de 2012, quando sofreu um acidente enquanto esquiava nos Alpes Franceses. A “aparição”, no caso, foi um suposto autógrafo do ex-piloto alemão, supostamente feito com o auxílio de sua esposa. Mais suposições que apuração dos fatos.

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