É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
Uma pergunta central que os leitores podem ter feito ao longo da semana é: pode ser considerado legítimo o uso de fontes "em off" numa apuração jornalística?
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Fachada do Banco Master, na região da Faria Lima, em São Paulo
Se tem uma coisa que Brasília não costuma oferecer é refresco. Estas últimas semanas do ano que a priori seriam de recesso, calmaria e salpicão foram na verdade de uma corriqueira e indigesta turbulência no noticiário. Até propaganda de chinelo virou assunto num país onde o diversionismo é estratégia política e a interpretação de texto é carência histórica. A bola da vez voltou a ser o Banco Master.
Aqui vai a tentativa de um resumo muito breve. Coluna no “O Globo” assinada pela jornalista Malu Gaspar na última segunda-feira, 22, publicou - com base em seis fontes sigilosas - que o ministro Alexandre de Moraes teria feito pelo menos quatro contatos (três por telefone e um presencial) com Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central (BC), para tratar da situação do Banco Master, investigado pelo próprio BC e com operação de venda para o Banco de Brasília (BRB), na época em análise.
Um detalhe essencial: o escritório de advocacia de Viviane Barci, esposa de Alexandre, tinha um vultoso contrato de prestação de serviços com o Master (quase R$ 130 milhões), gerando questionamentos sobre possível conflito de interesses no episódio. O magistrado negou as acusações e afirmou que os contatos com Galípolo teriam sido feitos para tratar das sanções da Lei Magnitsky, impostas ao casal Moraes pelo governo Donald Trump e recentemente suspensas. O BC confirmou em nota a resposta do ministro.
Dito isso, adianto que não é objetivo desta coluna de ombudsman entrar na análise do caso em si e suas minúcias, mas acerca dos procedimentos jornalísticos em questão. O jornalista Pedro Doria publicou na última sexta-feira, 26, um vídeo com explicação bem didática e com exemplos a respeito da polêmica envolvendo a reportagem assinada por Malu Gaspar sobre Moraes e o Banco Master. Desenvolvo abaixo alguns pontos levantados por ele.
Como dito acima, seis fontes “em off” confirmaram para Malu Gaspar na apuração os contatos entre Moraes e Galípolo e o teor do que foi discutido. Logo abriu-se o debate nas redes sobre a legitimidade do uso dessas fontes em caráter sigiloso em uma reportagem.
O ambiente de conflagração política à flor da pele fez uma divisão de grupos muito clara nos comentários sobre o caso nas redes sociais. Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) aproveitaram a exposição para enxovalhar Moraes - que conduziu o julgamento sobre a trama golpista cujo desfecho foi a condenação do ex-presidente e de aliados militares de alta patente - para reforçar os pedidos de impeachment de ministros do Supremo.
Já o grupo de opositores a Bolsonaro enfatizou que não foram apresentadas provas na reportagem sobre os contatos entre Moraes e Galipolo e até partiu para injustificáveis ataques de teor misógino contra Malu Gaspar, jornalista com credibilidade reconhecida no meio, que inclusive assinou reportagens que resultaram em desgaste de Jair Bolsonaro quando este ocupava a presidência.
Sigilo da fonte
Uma pergunta central que os leitores podem ter feito ao longo da semana é: pode ser considerado legítimo o uso de fontes “em off” numa apuração jornalística? De maneira muito sintética, a resposta é sim, pode. Inclusive, esta é uma salvaguarda da Constituição, a qual prevê em seu artigo V, inciso XIV, que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
O sigilo da fonte é um instrumento sem o qual não é possível a atividade jornalística ou mesmo o livre exercício democrático. Imagine uma situação na qual um repórter investiga caso envolvendo uma pessoa em posição de poder. Agora pense em um regime político em que este repórter é obrigado ou coagido a revelar a fonte de uma denúncia contra um governante, por exemplo. O sigilo da fonte existe para o ordenamento democrático existir.
As faculdades de jornalismo e os manuais de Redação dos principais veículos de imprensa preveem ou recomendam que as informações de fontes sob condição de anonimato devem ser cruzadas com outras fontes antes da publicação. Quanto maior for o número de pessoas confirmando a versão de um fato, maiores são as chances de ele ter ocorrido. Como ponderação, é aconselhável que o uso deste instrumento seja feito moderadamente e não de forma indiscriminada.
E as provas?
Outra pergunta que os leitores podem fazer é em relação às provas. Não haveria necessidade de a reportagem apresentar provas? Uma apuração com documentos, gravações ou outros elementos que a confirmem logicamente tem mais força para revelação de um fato. Agora uma apuração feita com um número considerável de fontes seguras e com histórico de confiabilidade na relação com o repórter também pode ter publicação legitimada e com credibilidade.
É de interesse dos bons jornalistas que a informação publicada seja a mais condizente possível com a realidade. Afinal, é a credibilidade deles como profissionais e dos veículos pelos quais atuam a estar em jogo. Essa credibilidade é fundamental, inclusive, para inibir eventuais ações judiciais, em processos nos quais muitas vezes a exigência por provas mascara a tentativa de pessoas em posições de poder de intimidar jornalistas.
Uma cobertura discreta até agora
O caso do Banco Master se mostra mais complexo e cheio de nuances a cada capítulo revelado. Ao longo dos últimos meses, O POVO demorou a mergulhar na história e não conseguiu explicar os detalhes a contento. Entre o fim de março deste ano, quando o BRB anunciou compra de fatia do Master, até meados de novembro, foram publicadas apenas as matérias reproduzidas das agências, geradas automaticamente no portal.
Na editoria de Economia, o assunto esquentou um pouco mais apenas na segunda quinzena de novembro, na ocasião da prisão do banqueiro Daniel Vorcaro e da liquidação do Master pelo BC. Assinada pelo jornalista Samuel Pimentel e publicada na última quinta-feira, 25, no O POVO+, a reportagem “Além do Banco Master, 42 fraudes foram registradas no Brasil, em 30 anos” avança um pouco mais ao trazer outros exemplos de instituições financeiras que tiveram um fim semelhante ao Master. O material está na edição deste domingo do O POVO, nas páginas 6 e 7.
Na cobertura de Política, contudo, o assunto teve uma atenção mais discreta nos últimos meses, limitada a aspectos factuais e se valendo dos conteúdos produzidos pelas agências, sobretudo ao longo da última semana, após os encontros entre Moraes e Galípolo terem se tornado públicos. O que não falta é fio político a ser puxado desse novelo.
Feliz 2026!
Nesta a última coluna de 2025, dedico um parágrafo para agradecer aos leitores e leitoras que acompanharam este espaço e entraram em contato com o ombudsman ao longo do ano para deixar suas críticas, elogios e sugestões ao O POVO. Desejo um 2026 de muita saúde e realizações a todos.
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