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Entenda o acordo que levou ao encerramento do motim
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Entenda o acordo que levou ao encerramento do motim

Sóstenes Cavalcante, líder do PL, assumiu a responsabilidade pela baderna; admitiu que nada no regimento parlamentar autoriza tal comportamento e reconheceu ter sido ele quem "deu a ordem" para que o deputado Zé Trovão, agisse como um capanga, impedindo fisicamente o presidente da Câmara, Hugo o Motta de chegar à sua cadeira
HUGO Motta suou para retomar a mesa diretora da Câmara (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados HUGO Motta suou para retomar a mesa diretora da Câmara

Em entrevista à GloboNews, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, portou-se uma líder de qualquer coisa, menos de um partido em um regime democrático.

Se bem que cabe um desconto, pois é líder do PL, o partido de Bolsonaro, capaz até de aliar-se aos Estados Unidos para prejudicar o Brasil.

O fato é que, após uma invasão à Câmara dos Deputados, que persistiu por 30 horas, promovida pela oposição bolsonarista e seus aliados do Centrão, finalmente o presidente da Câmara, Hugo Motta, pôde retomar sua cadeira, ainda que de modo humilhante.

Na entrevista citada, quando terminou o motim, Sóstenes esclareceu o tipo de acordo que pôs fim ao sequestro da cadeira do presidente da Câmara.

Ele assumiu a responsabilidade pela baderna; admitiu que nada no regimento parlamentar autoriza tal comportamento e reconheceu ter sido ele quem “deu a ordem” para que o deputado Zé Trovão (PL-SC), agisse como um capanga, impedindo fisicamente o presidente da Câmara, Hugo o Motta (Republicanos-PB) de chegar à sua cadeira.

Para completar, afirmou que voltaria a agir com um black bloc (expressão minha), invadindo novamente a Câmara, se julgasse necessário.

Responda rápido: um “líder” que guarde um mínimo de respeito às leis, à civilidade política e aos costumes democráticos agiria assim? Que tipo de líder age como Sóstenes se comportou?

De qualquer modo, ele esclareceu qual teria sido o “acordo” que pôs fim ao sequestro da cadeira do presidente da Câmara, negociado pelo líder do bolsonarista PL e partidos do chamado “Centrão”: PP, PL, PSD e o Novo, que formam a maioria no colégio de líderes.

O acerto negociado entre os líderes sublevados teria sido o seguinte:

1) Votar logo o fim da prerrogativa de foro ou “foro privilegiado” (para tirar os processos do Supremo Tribunal Federal e remetê-los à primeira instância).

2) Na sequência, seria a vez de levar ao plenário da Câmara a votação da anistia para Bolsonaro e sua turma golpista.

Sóstenes disse que o pacote foi levado ao conhecimento de Motta, que não teria “dado ok, nem nada” sobre o conteúdo da negociação, mas que ele teria de “pautar” (levar à votação) os dois pontos apresentados pelos líderes partidários.

O líder do PL expôs que “a pauta da Casa é feita pelo colégio de líderes”, mas reconheceu que Motta têm a “decisão final” sobre os assuntos que serão levados ao plenário.

Mas ainda tem alguma coisa que não bate nessa explicação. Pelo que se depreende do relato de Sóstenes, houve, no mínimo, o compromisso de Motta em começar a pautar os assuntos exigidos pelos amotinados nesta semana que entra. Até agora Motta não confirmou nem desmentiu esse relato.

Duas questões vão esclarecer se Motta aceitou pagar o resgate para retomar sua cadeira:

1) Se a punição aos deputados que impediram fisicamente que Motta ocupasse sua cadeira for leve será um péssimo indicativo.

2) Se ele se submeter à exigência dos baderneiros pautando o fim do foro privilegiado e a anistia a Bolsonaro e seus fanáticos, será a prova definitiva de uma traição ao Congresso Nacional.

 

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