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A "família tradicional", versão Bolsonaros
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

A "família tradicional", versão Bolsonaros

Eduardo Bolsonaro considera "normal" a brutalidade de seu relacionamento com o pai, que ficou escancarada em mensagens trocadas entre eles
Eduardo Bolsonaro/ Tarcísio de Freitas (Foto: Agência Brasil/ Reprodução redes sociais)
Foto: Agência Brasil/ Reprodução redes sociais Eduardo Bolsonaro/ Tarcísio de Freitas

 Mensagens no telefone de Jair Bolsonaro são indícios da forma brutal de relacionamento entre ele e pelo menos dois de seus filhos, Eduardo (deputado) e Flávio (senador). Anoto “indícios”, pois não dá para saber a constância desses confrontos, mas são indicativos fortes de um tratamento absolutamente desrespeitoso entre eles.

No “diálogo” virtual, recentemente divulgado, que travou com Bolsonaro, Eduardo se mostra inconformado com a relação amigável do pai com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que o deputado vê como um adversário ou mesmo inimigo da família. Para mostrar seu descontentamento, ele passa a xingar e ofender Bolsonaro, sem dó nem piedade, via WhatsApp.

“VTNC SEU INGRATO DO CARALHO!” escreveu Eduardo, usando o acrônimo para “vai tomar no c*.” E mandou: “Me fudendo aqui [nos EUA]! Vc ainda te ajuda a se fuder aí [no Brasil!”

Completou chamando o pai na chincha: “Se o imaturo do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui [referência à atuação deles nos EUA], porque você me joga para baixo, quem vai se fuder é você e vai decretar o resto da minha vida nesta porra aqui [nos EUA]. Tenha responsabilidade!”

Com a repercussão do caso, o deputado divulgou uma nota classificando de “lamentável” a divulgação das mensagens, pois, segundo ele, eram conversas privadas, “absolutamente normais, entre pai e filho”.

1) As mensagens não podem ser consideradas “privadas”, mas de interesse público, pois investigação da Polícia Federal mostra (e todo mundo vê) que Eduardo Bolsonaro promove uma ação punitiva contra o Brasil, tentando coagir o Supremo Tribunal Federal (STF) — e as conversas estão dentro desse escopo.

2) Quanto a considerar “normal” a brutalidade com que Eduardo se dirige ao pai, ele pode ter razão, pelo que se vê, mas ele pode falar somente a respeito da disfuncionalidade da família dele.

Vejam que, em fevereiro de 2017, então deputado federal, Jair Bolsonaro concorreu à presidência da Câmara. Na sessão que elegeria o presidente, Bolsonaro indignou-se com ausência de Flávio, na época também deputado.

Cobrindo o evento, o fotógrafo Lula Marques conseguiu fotografar o Whatsapp de Bolsonaro no momento em que ele trocava mensagens com Flávio. A reportagem foi publicada pela revista Veja. O registro do diálogo entre pai e filho começa assim:

JAIR BOLSONARO

“Papel de filho da puta que você está fazendo comigo. Tens moral para falar do Renan? Irresponsável." [ Jair Renan é um dos filhos de Bolsonaro.]

"Mais ainda, compre merdas por aí. Não vou te visitar na Papuda."

"Se a imprensa te descobrir aí, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu. Retorne imediatamente."

FLÁVIO BOLSONARO RESPONDE

“Quer me dar esporro, tudo bem. Vacilo foi meu. Achei que a eleição só fosse semana que vem. Me comparar com o merda do seu filho, calma lá”.

A Veja ainda lembrou mais um episódio revelador desse tipo de relacionamento incivilizado entre eles.

Em um debate durante as eleições de 2016, no Rio de Janeiro, Flávio passou mal. A deputada Jandira Feghali (PCdoB), que é médica, tentou socorrer Flávio, mas foi impedida por Bolsonaro: "Ela vai dar estricnina para o meu filho". Até leigos sabem que, em uma emergência médica, a rapidez no atendimento pode salvar uma vida.

Depois de deixar o filho correr risco, justificou o mal-estar de Flávio dizendo que ele estava trabalhando muito — e ironizou: "Acabou dando uma broxada na largada".

Em 2011, ele declarou em entrevista à revista Playboy que preferia “um filho morto a um herdeiro gay”.

Observem, portanto, o padrão Bolsonaro, que desfralda a bandeira “Deus, pátria e família. Deus, ele confronta ao não seguir o preceito cristão: “Odiar o pecado*, mas amar o pecador”; família, em vez de um lugar de amor e compreensão, vira um “normal” ambiente de agressões — e a pátria vem sendo vendida por ele, filhos e aliados.

Esses acontecimentos escancaram a hipocrisia e a verdadeira face dos militantes da chamada “família tradicional”.

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*Pecado, no caso, do ponto de vista das religiões.

Foto do Plínio Bortolotti

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