Plínio Bortolotti integra o Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
O brasilianista americano Ralph Della Cava, autor de "Milagre em Joaseiro" (1970), até hoje considerado um dos mais importantes estudos sobre o Padre Cícero, analisa o governo de Donald Trump
Foto: VIDAL CAVALCANTE
JUA JAZEIRO 21/07/2004 - RALPH DELLA CAVA, AUTOR DO LIVRO " MILAGRE EM JOASEIRO".FOTO: VIDAL CAVALCANTE/AE
Sou privilegiado por ter como leitor o professor Eduardo Diatahy B. de Menezes, intelectual de referência, que vez ou outra responde aos meus modestos artigos. Algumas vezes para me dar um puxão de orelhas por alguma escorregadela, inclusive as gramaticais, outras para elogiar ou para comentar algum aspecto do texto.
Recentemente ele comentou meu artigo “Estados Unidos da Venezuela”, no qual eu apontei o caminho autoritário que toma os Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump.
O professor enviou artigo ao brasilianista americano Ralph Della Cava, autor de “Milagre em Joaseiro” (2014, 3a.ed. Companhia das Letras. Apresentação de E. Diatahy B.de Menezes) até hoje considerada uma das obras mais importantes sobre o Padre Cícero —, pedindo que ele comentasse, o que ele gentilmente o fez. Para dar uma ideia da curiosidade intelectual de Della Cava, na carta que respondeu ao professor Diatahy que estava lendo sobre “a luta pela escolarização dos Indígenas Aymara, da Bolívia, por eles próprios”.
Segue abaixo o texto enviado pelo professor Della Cava, que publico com autorização dele.
FORÇAS ARMADAS CONTRA OS CIDADÃOS
O jornalista Plínio Bortolotti pegou bem o cultivo de medo. Na fala do presidente (Donald Trump), o medo tem várias facetas e objetivos. O primeiro se aplica ao que o presidente diz é o galopante terrorismo interno em nossas maiores cidades, sem nenhuma surpresa, quase exclusivamente governadas por prefeitos e governadores do Partido Democrata. Nenhum dado é citado sobre o suposto galopante terrorismo. Com esse medo, ele apazigua a sua base Maga (“faça a América grande novamente”), que lhe dá licença de impor medidas drásticas.
Autoritário e inquestionável
Disso decorrem três aspectos da reorganização administrativo-política que impulsionam o fortalecimento do poder presidencial, autoritário e inquestionável:
1. a indisputável tentativa de fazer das Forças Armadas uma arma de combate contra os próprios cidadãos do país. É uma nova doutrina, inteiramente contrária ao uso das Forças Armadas na defesa da pátria contra inimigos externos;
2.a mobilização exclusiva pelo presidente das Guardas Nacionais (historicamente, são estatais e subordinados aos governadores estaduais) como arma de controle sobre as autoridades locais, eleitos ou nomeados, sob pretexto da confusão da ordem pública;
3. na campanha contra “imigrantes ilegais” o uso das forças do ICE (serviço de Imigração e Alfândega dos EUA) que atuam mascarados, sem nenhuma identificação visível, e pesadamente armados. Violentos também como Paul Krugman sublinha no artigo “Terror de Estado, estilo americano”.
O questionamento do professor Sidney Ferreira, no artigo “O governo Trump e a utopia reversa” (O POVO, 2/10/2025): "A questão é se, em um mundo interdependente e multipolar, a utopia reversa tem força para reconfigurar o sistema internacional, segundo os interesses dos Estados Unidos - e, assim, realmente "fazer a América grande novamente”.
Esta pergunta se relaciona com outras que muitos analistas estão agora levantando, por exemplo:
Trump é o cavalo de Tróia
1. depois de Trump, o que resta do Partido Republicano e ao próprio ultraconservadorismo? Tem sido esta corrente que sustentou a ascensão de Trump e de todos os projetos dele, na realidade os do “Projeto 2025”, criado por Russell Vought, da direitista Heritage Foundation, e atual chefe do Gabinete de Orçamento e Gerenciamento. Vought representa a luta dos últimos 40-50 anos do conservadorismo para acabar com o “deep state” e o liberalismo, elitismo e EDI (equidade, diversidade e inclusão), um código para a xenofobia e racismo. Num sentido, o Presidente é o Cavalo de Troia dos elementos que o sustentem.
2. Agora uma questão, a que devia ter precedido àquela acima, é de onde veio o Trump? Como é que ele conseguiu eleger-se duas vezes? Ele é a causa da virada ou a virada o precedia? Aqui, a procura de respostas é tentado por Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia 2008). Ou seja, quais são as forças sociológicas e políticas que explicam a atual inclinação até a autocracia? Veja este ensaio de Krugman: "Democracia americana em declínio: Trump é um sintoma, não a causa" (em tradução livre)
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