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Lobistas escrevem projetos, deputados assumem
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Plínio Bortolotti integra o Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Lobistas escrevem projetos, deputados assumem

Estudo mostra que cerca de 60% dos textos preparados por lobistas partem de entidades empresariais
MESA diretora da Câmara dos Deputados na sessão de aprovação da isenção do IR para quem ganha R$ 5 mil foi aprovado por unanimidade (Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados)
Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados MESA diretora da Câmara dos Deputados na sessão de aprovação da isenção do IR para quem ganha R$ 5 mil foi aprovado por unanimidade

A plataforma de notícias Uol (20/10/2025) divulgou levantamento mostrando que parlamentares assinaram pelo menos duas mil proposições redigidas por lobistas.

O lobby não é uma atividade ilegal no Brasil, no entanto, sem regulamentação, permite, por exemplo, que parlamentares recebam lobistas em seus gabinetes sem registro da agenda.

O Uol analisou 345 mil documentos do Congresso utilizando um software estatístico, seguindo os rastros deixados por metadados. Assim, chegou a aproximadamente duas mil proposições apresentadas no Congresso: projetos de lei, requerimentos e outras medidas, redigidas por lobistas, desde 2019.

Os textos foram assumidos por parlamentares de diferentes partidos, segundo o Uol. Entre eles, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Há quatro anos, o deputado incluiu em uma medida provisória (MP), que tratava de isenções fiscais na pandemia, uma emenda para reduzir impostos para as bets. Mas o texto foi redigido por uma advogada que trabalhava para as empresas de jogo. A propósito, as casas de apostas têm uma bancada poderosa no Congresso.

O deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) apresentou proposta para zerar tributos de remédios, elaborada por um funcionário do sindicato da indústria farmacêutica.

Roberta Roma, deputada federal (PL-BA), assumiu uma proposta com origem na Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) para acabar com o programa de alimentação saudável nas escolas.

O estudo do Uol identificou que em torno de 60% dos textos preparados por lobistas partem de entidades empresariais.

Juntando-se essa informação do Uol, reveladora de um eficiente lobby empresarial, e a composição da Câmara, com sua influente bancada BBB (boi, bala e bíblia), entende-se melhor a dinâmica do Congresso. E por que as propostas que favorecem os trabalhadores sofrem tanta rejeição.

Segundo a plataforma Congresso em Foco (10/11/2023) as bancadas armamentista, ruralista e evangélica "têm peso suficiente para emplacar pautas legislativas, barganhar com o governo e até para mudar a Constituição", alinhando-se a temas conservadores nos costumes e na economia.

Esses dados deveriam ao menos levar à reflexão de como o brasileiro elege representantes que pouco representa seus interesses.

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