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O preço de um recado ao Comando Vermelho
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Plínio Bortolotti integra o Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

O preço de um recado ao Comando Vermelho

"Então, se essa operação não vai resolver o problema, nós sabemos que não vai. Ao menos mostrou que a retórica que o Comando Vermelho usava para conseguir converter e atrair lideranças do Brasil foi subvertida"
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Vista da igreja da Penha, do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro  (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil Vista da igreja da Penha, do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro

O subsecretário de Inteligência da Secretaria de Estado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Daniel Ferreira de Souza, reconheceu que o resultado da “megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão teve um resultado “ínfimo” para desestruturar o poder do Comando Vermelho (CV) nas comunidade do Rio.

Mas houve pouco destaque às palavras dele, que deveriam ser mais bem analisadas devido à gravidade de que elas se revestem, pois Souza reconhece o fracasso da operação, mas procura justificá-la pelo “simbolismo” que representou frente ao desafio do Comando Vermelho.

O depoimento, no dia 5/11/2025, ocorreu na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) no Senado, portanto, Souza falou como representante do estado.

Palavras do subsecretário:

"Aquela grande operação teve um resultado impressionante à vista dos números, mas que ainda assim foi algo ínfimo dentro do poder do Comando Vermelho e das outras facções na estrutura do Rio de Janeiro. Então, isso não resolveu”.

Continua Souza:

"Foi importante a nível simbólico para o Estado mostrar que é capaz de entrar em qualquer local, porque uma das bandeiras que era vendida, muito por conta da ADPF (das favelas), é que havia locais onde não era possível o Estado entrar".

Disse mais:

"Então, se essa operação não vai resolver o problema, nós sabemos que não vai. Ao menos mostrou que a retórica que o Comando Vermelho usava para conseguir converter e atrair lideranças do Brasil foi subvertida e o Estado (do Rio) entra em qualquer lugar de fato".

Deixe ver se entendi:

1) O governo do estado do Rio, por meio de seu subsecretário de Inteligência, reconhece que a operação foi um fracasso ("algo ínfimo") para conter o poder de facções criminosas.

2) Mesmo assim ele considera que a operação foi importante porque:

a) Mostrou ao CV que o Estado era capaz de "entrar em qualquer lugar".

b) Contestou a "retórica que o Comando Vermelho usava para conseguir converter ou atrair lideranças (criminosas) do Brasil, foi subvertida".

É isso mesmo? O governo do Rio faz uma operação na qual foram mortas 121 pessoas, entre elas quatro policiais, e a vende como um sucesso “simbólico” porque mandou uma mensagem de efeito ao CV?

O sr. subsecretário somente se esqueceu de dizer que, para entrar nas comunidades para dar o “recado” ao CV, foi preciso pôr em campo 2.500 agentes de segurança, resultando em morte de 121 pessoas, com quatro policiais entre as vítimas.

Pagou-se um preço muito alto por um "simbolismo" que nada contribuirá para pôr fim ao mando das facções sobre pessoas e territórios no Rio de Janeiro — e que se espalham pelo País.

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