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Bolsonaro, seu duplo e um País de neuróticos
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Bolsonaro, seu duplo e um País de neuróticos

Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu defender a vacinação em massa após duvidar da eficácia da imunização e o País chegar ao trágico número de 300 mil mortes associadas à Covid-19.
Tipo Opinião

Quem assistiu, na última terça-feira, ao pronunciamento de Jair Bolsonaro, o Outro, deve ter percebido o afastamento deste de Jair Bolsonaro, o presidente. Em um ano, vimos tombar vítimas de Covid-19 e complicações ligadas à doença, 300 mil pessoas. Em um ano a coleção de falas do presidente Jair Bolsonaro é inacreditável, o que levou o escritor Ignácio de Loyola Brandão chamá-lo de “o homem sem piedade”.

Ao ser questionado sobre os mortos da pandemia, o presidente oscila entre um determinismo irresponsável e uma futurologia que tem base nas crenças da realidade paralela que povoam seu cérebro embotado. Repare nas frases: “E daí?”, “Paciência, acontece”, “Não sou coveiro”, “É o destino de todo mundo”, “Tudo agora é pandemia. Tem acabar com esse negócio. Lamento os mortos. Tem que deixar de ser um País de maricas”.

"Na terça, uma espécie de duplo de Bolsonaro, anunciou que “2021 será o ano da vacinação no Brasil”, disse que o País é o 5º no mundo que mais vacinou. Mas, se esqueceu de agradecer aos governadores que, em vez de dormir, trabalham para conseguir doses de vacinas."

Em 19 de dezembro do ano passado, o presidente anunciou o “fim” da pandemia: “A pandemia está chegando ao fim. Estamos com uma pequena ascensão agora, o que chama de um pequeno repique. Mas pressa por vacina não se justifica, porque vai inocular algo em você e seu sistema imunológico vai agir de forma imprevista”. Dessa frase até quarta-feira última morreram em torno de 100 mil brasileiros. Uma tragédia que atordoa e nos dá uma sensação de estamos vivendo um pesadelo ininterrupto.

Na terça, uma espécie de duplo de Bolsonaro, anunciou que “2021 será o ano da vacinação no Brasil”, disse que o País é o 5º no mundo que mais vacinou. Mas, se esqueceu de agradecer aos governadores que, em vez de dormir, trabalham para conseguir doses de vacinas. Não pediu desculpas pelo pouco que fez para amenizar o sofrimento de milhares de vítimas. Deixou de lado um pedido solene de perdão por ignorar os efeitos da pandemia na vida das pessoas ao incentivar o descumprimento de medidas de restrições para combater uma doença que pode ser mortal. De desculpar-se por ir de encontro à ciência e se tornar garoto-propaganda de um medicamento que efetivamente não tem comprovação científica.

Fico imaginando os adeptos da seita bolsonarista diante daquele homem desconhecido que surgiu na TV em pronunciamento nacional abafado pelo panelaço. Penso que em pouco tempo os índices de neuroses e de transtorno bipolar tendem a subir no País. Serão as vítimas do bolsonarismo em choque com as mensagens contraditórias ao extremo proferidas pelo (falso) mestre.

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