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Como Bolsonaro manipula o hiperindividualismo
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Como Bolsonaro manipula o hiperindividualismo

Tipo Opinião

O rapaz entrou no supermercado vestindo uma camiseta que estampava uma caveira fumando e a frase: “A vida é minha, *#@*#@ (palavrão)”. Na época, o ministro da Saúde, José Serra, travava uma batalha em favor da restrição da publicidade de bebida alcoólica e de cigarros na mídia. Serra abriu o acervo de desgraças do atendimento público de saúde e mostrou quanto se gastava com as doenças adquiridas pelo álcool e pela nicotina. Além das doenças, havia os casos de acidentes automobilísticos e mortes por violência causados após a ingestão de bebida alcoólica.

Essas e outras camisetas faziam parte do debate sobre as liberdades individuais e de expressão que inundaram os suportes de informação da época (jornais, sites, Tvs). No fim, o governo do PSDB conseguiu regulamentar a veiculação de bebida, fumo e outros, mas os hiperindividualistas guardaram suas munições para a pandemia da Covid-19. E turbinaram as camisetas com as redes sociais.

As liberdades individuais, de fato, foram um marco na vida moderna. Professar uma crença sem correr o risco de ir parar numa fogueira, exercer o direito ao voto e fazer escolhas que determinem o rumo da própria vida nos moldou para viver em sociedade, respeitando regras gerais e sendo punidos quando as infringimos. E destas, as mais graves punições são as infrações contra a vida. Porém, a vida humana supervalorizada com o iluminismo, parece ter caído em desgraça com o hiperindividualismo.

Manifestação de bares e restaurantes em frente à Assembleia Legislativa devido ao novo decreto do Ceará que estabelece o funcionamento até às 20:00 horas
Foto: Aurelio Alves
Manifestação de bares e restaurantes em frente à Assembleia Legislativa devido ao novo decreto do Ceará que estabelece o funcionamento até às 20:00 horas

No Brasil, morreram 250 mil pessoas de Covid-19 e, mesmo assim, o País praticamente trava uma guerra surda e diária contra situações que parecem improváveis. Pessoas mantêm festas privadas, desrespeitam o uso de proteção mínima como o de uma máscara, não colaboram com a prevenção da doença, incentivam campanhas contra a vacina, ridicularizam e desprezam o isolamento social, patrocinam e repassam material com desinformação sobre medicação sem efeito ou danoso para prevenir e tratar a Covid-19.

Denver, Colorado em 20 de abril de 2020, enfermeiros interropem manifestação contra isolamento social nos EUA. (Foto Reprodução/Twitter)
Foto: Reprodução/Twitter
Denver, Colorado em 20 de abril de 2020, enfermeiros interropem manifestação contra isolamento social nos EUA. (Foto Reprodução/Twitter)

O fenômeno atinge o mundo. França, Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e outros. Nos países que têm líderes superalinhados com o hiperindividualismo nestes tempos de pandemia, manipulando-o em prol dos seus projetos de poder antidemocráticos, a situação é desesperadora. É o nosso caso. Vivemos todas as crises possíveis juntas liderados por um presidente desprovido de um mínimo de sentimento pela vida. É patológico e grave.

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