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Os dilemas que cercam as compras pela Amazon
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Os dilemas que cercam as compras pela Amazon

É urgente e necessário refletir sobre o que a Amazon significa para as demais empresas de vários segmentos e para o mundo do trabalho.
Tipo Opinião
Pelo quarto ano consecutivo, Jeff Bezos é a pessoa mais rica do mundo conforme o levantamento da Forbes. Sua fortuna está estimada em US$ 177 bilhões, US$ 64 bilhões a mais do que no ano passado - resultado do aumento das ações da Amazon
 (Foto:  SAUL LOEB / AFP)
Foto: SAUL LOEB / AFP Pelo quarto ano consecutivo, Jeff Bezos é a pessoa mais rica do mundo conforme o levantamento da Forbes. Sua fortuna está estimada em US$ 177 bilhões, US$ 64 bilhões a mais do que no ano passado - resultado do aumento das ações da Amazon

No Natal de 2018, acompanhei as informações em torno da ameaça de paralisação dos empregados da Amazon em Londres. Para satisfazer os compradores da plataforma, homens de mulheres estavam estrangulados de trabalho. Mesmo contratando pessoal extra. De lá para cá, as coisas mudaram muito e ficaram piores.

Durante a pandemia, o Recursos Humanos informatizado da Amazon não reconhecia, segundo denúncias publicadas em vários jornais, atestados médicos de muitos dos seus funcionários com Covid-19 e vários foram desligados de forma automática por faltarem ao trabalho, ou tiveram salários suspensos, mesmo estando doentes e tendo apresentado documentação.

Esta semana, li sobre como os algoritmos avaliam o trabalho de milhares de entregadores da empresa que só reconhecem a possibilidade da encomenda ser entregue no prazo acordado. Por falar em prazos, eles ficam cada vez mais curtos para caber no desejo quase instantâneo do consumidor.

Um homem demitido sumariamente por uma mensagem de computador, no último inverno dos Estados Unidos, contou à reportagem do New York Times que os algoritmos não veem a neve que dificulta que o automóvel alcance um endereço, por exemplo, ou qualquer outro problema que foge por completo do alcance do entregador. O algoritmo só enxerga a entrega. Premia ou pune de forma automática.

Entregar tudo o que é possível na mão de um operador invisível e que atua com algoritmo está levando a Amazon aos primeiros lugares de venda no mundo. Enquanto milhões morreram nesta pandemia, o consumo de alguns e a pressa em entregar deixaram Jeff Bezos US$ 64 bilhões mais rico em 2020. Ou seja, ele faturou US$ 9.378 por segundo.

"... ainda vale a pena eleger empresas que tenham um mínimo de responsabilidade com as pessoas neste mundo tão desigual. A Amazon não parece ser uma dessas empresas. Bezos já está no topo."

Por essa e por outras, decidi comprar livro direto das editoras. Outras coisas, já havia deixado de comprar pela empresa. Não tenho motivos para comprar pela Amazon. Não depois de saber de tudo isso. Consumo consciente passa por essas nuances. Eu sei que em pouco tempo as máquinas vão dominar boa parte das operações mundiais. Mas, vou deixar isso para os habitantes do futuro. Eu posso ainda escolher. Então, vou ficar com os humanos. Apesar das dificuldades que nós nos impomos pela ganância, consumismo, egoísmo, ausência de empatia etc, ainda vale a pena eleger empresas que tenham um mínimo de responsabilidade com as pessoas neste mundo tão desigual. A Amazon não parece ser uma dessas empresas. Bezos já está no topo.

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