Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim
"Adolescência", série ficcional da Netflix, abre possibilidade de se ampliar o debate em múltiplos espaços sobre os novos códigos de socialização em vigor do mundo contemporâneo que contribuem para a construção do masculino
Foto: Divulgação/Netflix
Série "Adolescência", da Netflix
Não é de hoje que o cinema retrata a adolescência. Esse rito de passagem já rendeu filmes memoráveis, com grandes diretores levando às telas essa fase conturbada de mudanças radicais na forma como se vê o mundo, a família, a si mesmo. Quem não lembra de “Amarcord”, de Federico Fellini (1973), “Os incompreendidos”, de François Truffaut (1959), “Bling Ring: A Gangue de Hollywood”, de Sofia Coppola (2013), este último baseado em fatos reais? A lista é imensa. Citei aqui os que para mim representam épocas distintas e questões perenes que envolvem os humanos nesta fase complexa.
A grande surpresa da série “Adolescência” (Netflix, 2025) é esmiuçar com muita habilidade uma questão que, ao que tudo indica, precisa ser enfrentada de uma vez por todas: como os rituais de passagem na sociedade contemporânea estão tornando os meninos cada vez mais violentos?
O primeiro episódio da série começa com policiais armados invadindo a casa de uma família comum, num bairro de gente aparentemente comum e pacata, e arrancando da cama Jamie Miller, um menino de 13 anos, assustado, com as calças molhadas, aos prantos, acusado de matar a facadas uma colega de classe. No meio da confusão, os pais se agarram à ideia de que a família é vítima de um grave engano por parte da Polícia e que tudo será esclarecido e a vida seguirá como antes.
Chama a atenção dos policiais a inteligência do garoto, as altas notas na escola, o fato do menino escolher estudar francês como segunda língua e estar numa turma adiantada de matemática. Ao longo dos 4 episódios, a trama em torno do assassinato da garota, registrado por câmeras que, aliás, percorrem todo o trajeto tanto de Jamie quando da menina, é mostrada sem julgamento, tampouco maniqueísmos, sem buscar causas imediatas nem deterministas para a tragédia que atinge escola, famílias, além dos profissionais envolvidos no episódio.
A ficção acerta quando pontua a questão da masculinidade de forma delicada e firme. Como os meninos que nascem e vivem sob o escrutínio da mediação das redes sociais e seu impacto brutal nas formas de sociabilidade e interações estão aprendendo a lidar consigo mesmos e com o mundo em redor? Que masculinidade é essa que serve de espelho para os meninos? Por que essa masculinidade tem sido traduzida com tanta violência mesmo diante de tanta informação e aparatos legais?
A série tem despertado a atenção de muita gente. Escolas inglesas estão se reunindo para discutir o papel das instituições escolares no debate sobre a violência praticada por jovens e adolescentes que, muitas vezes, começa pelas redes sociais e pode descambar para o real.
No Brasil, onde a questão da violência contra as mulheres está se tornando epidêmica, “Adolescência” pode favorecer – e muito – conversas sobre a atenção que é necessária e urgente sobre a compreensão dos novos códigos de socialização entre os meninos e, junto com as famílias – envolvendo, inclusive, os próprios adolescentes – se possa descobrir meios de se exercitar formas de convivência que contemplem o conflito, ao mesmo tempo que sejam capazes de reduzir a morte de meninas e mulheres.
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