Um Brasil à beira da teocracia, segundo Petra, a cineasta
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Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim
Um Brasil à beira da teocracia, segundo Petra, a cineasta
O bom filme de Petra Costa, "Apocalipse nos Trópicos", toca numa fração ínfima da mudança do perfil religioso no País, mas sem conseguir desvendar minimamente as fraturas entre os evangélicos e a adesão de boa parte de todos os segmentos religiosos brasileiro à extrema direita
Foto: Reprodução/Netflix
Documentário "Apocalipse nos Trópicos", de Petra Costa
Dep0ois que assisti ao novo filme da cineasta Petra Costa, “Apocalipse nos Trópicos”, fiquei com a sensação de que os historiadores estão certos ao trabalharem com a ideia de que o passado quando visto de uma maior distância, vê-se melhor.
Na mesma toada, o filósofo Giorgio Agamben afirma que o contemporâneo só pode ser contemplado sob uma espécie de névoa. Por estarmos metidos nele com tanta intensidade, é quase impossível vencer a opacidade dos fatos. A gente não os enxerga plenamente, mas apenas tateando-os, discernindo aqui acolá alguma coisa.
“Apocalipse no Trópicos” é um bom filme. Petra narra as coisas como ela as vê, e pode-se afirmar que tem muita ética no que faz. A cineasta assume que entende pouco ou quase nada do universo daquelas primeiras imagens captadas no Congresso que envolvem a bancada evangélica e o movimento que, nos últimos anos, fez crescer o número de evangélicos no Brasil a ponto de interferir no processo eleitoral.
Às vezes, Petra parece sequer traduzir muito bem a versão evangélica com a qual se agarra para construir a narrativa fílmica que enquadra.
A cineasta se esforça para mostrar que estivemos quase à beira de uma revolução teocrática (aos moldes do Irã nos anos de 1970?). E esse talvez tenha sido meu maior estranhamento. O outro foi a insistência em Silas Malafaia como o principal modelo e influenciador do resultado das eleições de 2018 e 2022.
No entanto, se o Norte do País elegeu com larga maioria Jair Bolsonaro; no Sul, com bem mais católicos, Bolsonaro conseguiu vencer em 2018 e encostou em Lula em 2022.
O microcosmo religioso escolhido por Petra se fixou em algumas igrejas identificadas com a teologia da prosperidade que se mantêm ao lado de Bolsonaro. Vários líderes de igrejas evangélicas tradicionais flertaram pela extrema direita e perseguiram pessoas que pensam de forma diferente.
No catolicismo, líderes conservadores e fiéis travaram verdadeiras batalhas. Na frente dos quartéis havia bíblias e terços. Evangélicos e senhoras católicas visitaram Brasília em 8 de janeiro de 2023.
Houve fissuras também nas sinagogas. A Associação Sionista Brasil-Israel se levantou em 2017 em apoio a Jair Bolsonaro, levando vários intelectuais e artistas judeus se pronunciarem contra tal aproximação com a extrema-direita no País, em 2018 e 2022.
Ou seja, o que “Apocalipse nos Trópicos” revela é a fração ínfima de uma mudança na estratificação religiosa do País sem conseguir desvendar minimamente as fraturas do segmento evangélico, sem perceber as nuances entre líderes e fiéis, passando ao largo do tipo de poder exercido por líderes evangélicos.
Petra ignorou como a extrema direita avançou sobre todos os segmentos religiosos. E isso, sim, talvez seja mais interessante que os arroubos malafanianos.
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