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A polarização que mata
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Ricardo Moura é jornalista, doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC)

A polarização que mata

Condenar uma ação que termina em tantas mortes não é ser nem de esquerda e nem de direita. É apenas não compactuar com a sociopatia de muitos que se dizem cidadãos de bem
Bombeiros e moradores carregam corpos na Praça São Lucas, na favela de Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, no Ro de Janeiro após a Operação Contenção (Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP)
Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP Bombeiros e moradores carregam corpos na Praça São Lucas, na favela de Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, no Ro de Janeiro após a Operação Contenção

É impossível fazer qualquer leitura sobre o Brasil contemporâneo sem levar em consideração o conceito de polarização. É sabido que a ideia de um País dividido em dois, do ponto de vista estatístico, não é uma realidade tão certa assim. Haveria, na verdade, minorias de cada lado que mobilizam as redes sociais, amplificando o acirramento da disputa.

Quando essa lógica binária se estende à política de segurança pública, o resultado é catastrófico. Como sociedade, precisamos estabelecer um limiar entre o que o Estado pode ou não fazer na repressão ao crime e à violência. A ideia de que tudo é possível só nos levará rumo à barbárie.

A letalidade policial é uma realidade presente no dia a dia das forças de segurança. Muitos confrontos não têm como ser evitados.

Em qualquer lugar civilizado, contudo, a população e seus políticos não celebram assassinatos. Os governantes deveriam agir no sentido de evitar a perda de vidas humanas. Para tanto, o mais recomendado é atuar com estratégia, inteligência e não de forma destrambelhada.

Isso tudo é deixado de lado em operações como a que ocorreu no Rio de Janeiro, em que o escalonamento dos absurdos parece não ter fim, enquanto os gestores lidam cinicamente com o sofrimento da população mais pobre e vulnerável.

Estamos falando de comunidades que se veem acuadas pela polícia quando deveriam se sentir protegidas e de profissionais que se meteram em uma guerra que não escolheram travar e que irá deixar marcas psicológicas, bem como traumas ao longo do tempo.

Condenar uma ação que termina em tantas mortes não é ser nem de esquerda e nem de direita. É apenas não compactuar com a sociopatia de muitos que se dizem cidadãos de bem.

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